Gilson E. Fonseca
Consultor de empresas
Uma das fraquezas humanas mais sujeitas à exposição é a arrogância. Companheira dela, quase sempre, é a vaidade. Dela, não é exagero afirmar que ninguém escapa. Uns mais, outros menos, mas quase todos a deixam escapar aos olhos dos outros. Muitas vezes uma pessoa se veste com bastante modéstia, mas é muito vaidosa da sua intelectualidade; outra não se importa com a beleza física, mas não perde uma oportunidade para dizer que possui isso, ou aquilo. Talvez, a Inglaterra seja o país onde a vaidade é quase institucionalizada. Reis, rainhas, castelos e carruagens fazem parte da vida de seu povo. A manutenção da família real, já custou ao governo, num passado bem recente, mais de US$ 200 milhões por ano. Mas continua, porque, além de o povo querer, é fonte de riqueza do país ao estimular o turismo, exatamente explorando a vaidade sublimada dos outros que não a exercitam diretamente, mas se encantam com ela.
Eu próprio, em viagem a Londres, assisti à troca da guarda da rainha no Palácio de Buckingham e, confesso, fiquei muito impressionado, com a sensação de voltar à história. Os ingleses se entregam ao desejo de serem diferentes, preferindo medidas métricas próprias, trânsito de veículo com "mão invertida”, mesmo perdendo muitos negócios, nesta contingência, com outros países. Mas como tudo na vida tem duas faces, há o lado bom, como dos ingleses, que é a geração de empregos e rendas. Especialistas em marketing exploram ao máximo os desejos vaidosos, com a criação de joias, roupas e objetos exclusivos, produtos de beleza, academias de ginástica e outros, completam esse merchandising. Antigamente, etiquetas de roupas eram sempre colocadas por dentro. Hoje, jacarezinho bordado nas camisas masculinas, bem como tênis, bolsas e roupas, estampam suas logomarcas como sinônimas de status.
Nas escolas de ensino fundamental, estratégias são utilizadas para arrecadar fundos. Rainha da turma toda menina quer ser, pois é diferente das outras, é mais vista, é destaque. Os votos pagos são facilmente conseguidos, porque os pais das concorrentes também querem suas filhas destacadas. Atualmente, as motivações para satisfazer a vaidade são muito grandes na nossa sociedade hedonista. O nouveau riche (novo rico), despreparado para possuir bens materiais, quase sempre fica exposto ao ridículo. No mundo corporativo, a arrogãncia e a vaidade costumam fazer estragos em toda administração. Executivos mal preparados, vaidosos e arrogantes, muitos deles frustrados, mas investidos da autoridade dos seus cargos, descontam suas frustrações sobre os prestadores de serviços, extrapolando condições contratuais e os limites de arrogância.
O mais triste e danoso é que, no Palácio do Planalto, ministérios, Câmara Federal e Senado, as portas estão escancaradas para superegos, narcisismos, soberbas e desdém. Resultado é a entropia socioeconômica em que estamos vivenciando: um limbo sem norte. Há milênios, tanto as religiões como a filosofia já se preocupavam com o tema, porque o simples fato de vivermos neste mundo não nos dá o direito de usarmos tudo o que ele oferece. É preciso mudança de pensamento (metanóia ) para não comprometer as gerações futuras.