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Afinal, o que é o urbanismo feminista?

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Geisa Bugs
Professora e pesquisadora em arquitetura e urbanismo da PUCPR

Katia Ferreira de Oliveira
Doutoranda em gestão urbana na PUCPR
 
Se nos dedicarmos a observar de maneira mais crítica a cidade onde vivemos, será possível perceber que diferentes espaços, como ruas e praças, respondem, principalmente, às experiências e necessidades do público masculino. Estratégias recorrentes como a alocação massiva de investimento público para vias de veículos privados, zonas exclusivamente residenciais, iluminação da pista e não da calçada e o planejamento do transporte público sem considerar os deslocamentos das mulheres, que são mais complexos, não fomentam a presença feminina nos espaços públicos.





Diferentes autoras evidenciam e criticam esse modelo de cidade, que coloca a figura masculina como a única referência de representação coletiva. Ao apresentá-lo como neutro e universal, buscando a eficiência para um cidadão padrão, invisibiliza a diversidade de experiências. Isso dificulta consideravelmente não só a vida das mulheres, mas também de idosos e crianças, pessoas com deficiência e daquelas que fogem à heteronormatividade.

O urbanismo feminista – tema bem explorado pelo Col.lectiu Punt 6 na publicação “Urbanismo Feminista: Por una transformación radical de los espacios de vida” – em contraponto, aponta a necessidade de situar a vida das pessoas no centro das decisões urbanas. Adota a palavra “feminismo” em vez de “perspectiva de gênero” para demarcar posição política e desfazer estigmas, uma vez que o feminismo promove a igualdade, a empatia e a sororidade, além de outros valores que clamam por olhar e entender as necessidades das pessoas sem hierarquias. Pensar a cidade a partir dessa gênese conforma uma série de escolhas que enquadrariam todos os grupos considerados excluídos.

Nessa cidade pautada pelo urbanismo feminista, as políticas habitacionais são prioritárias, com programas habitacionais e projetos adequados a grupos familiares diversos; a rede de espaços públicos não é projetada levando em conta apenas a adequação ao sistema viário e seu horário de funcionamento é estendido; a cidade é prioritariamente caminhável e ciclável, atendendo a todas as idades; o contato com a natureza é presente mesmo nos espaços urbanos congestionados; há espaços de emprego e dinamismo econômico em todos os bairros, sem áreas monofuncionais; e as mulheres atuam efetivamente na construção das cidades fazendo parte dos governos; além de outros aspectos considerados necessários para a valorização da vida cotidiana e das atividades do cuidado.





Esses ideais, em sintonia com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), vêm paulatinamente ganhando corpo nos últimos anos. Mesmo com muitos desafios, é possível evidenciar importantes avanços nas experiências de Barcelona, na Espanha, e de Bogotá, na Colômbia, por exemplo. Cada uma delas, com suas diferentes realidades, demonstram também que as condições chave para a formulação, implantação e consolidação de políticas públicas urbanas mais inclusivas estão diretamente relacionadas à participação igualitária de mulheres e homens em espaços de poder e representação política, com a criação de oportunidades para o desenvolvimento pessoal e econômico das mulheres e, sobretudo, voltadas ao combate à violência de gênero.