Anna Helena Altenfelder
Presidente do Conselho de Administração do Cenpec
Romualdo Portela de Oliveira
Diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec
Não é de hoje que se enfrenta o problema da violência nas escolas. Contudo, os impactos da pandemia sobre a saúde mental da comunidade escolar, aliados à disseminação de uma cultura de ódio, extremista e armamentista, são fatores que acirraram o quadro desafiador que já existia.
Indaga-se o que fazer para frear a onda de medo e insegurança que aflige a todas e todos. A resposta mais comum direciona, imediatamente, para uma abordagem repressiva, que prega mais policiamento e controle nas escolas. Entendemos que há a necessidade de se distinguir o que cabe à escola e seu espaço e o que deve ser feito na sociedade como um todo, numa perspectiva de ação intersetorial. Nesse sentido, o trabalho pedagógico da escola é insubstituível na construção de uma abordagem que privilegia o diálogo e a convivência pacífica.
Quando defendemos um trabalho pedagógico que focalize esses pontos, nos referimos àquele que possibilita pensar sobre valores, emoções e sentimentos, priorize as questões que atravessam a realidade das(os) estudantes, e também aproxime a escola do território onde se insere. É ressignificar sua ação, passando da vigilância, do sofrimento, do bullying e da transmissão de informação, para um espaço de escuta, acolhimento, diálogo, construção de saberes e respeito à diversidade.
Isso caminha na direção do que conhecemos como educação integral, que não se caracteriza apenas pela ampliação da jornada escolar, mas pela articulação simultânea das habilidades cognitivas, sociais, culturais e emocionais no currículo e concretizadas no dia a dia.
Significa desenvolver, desde a educação infantil, um trabalho pedagógico visando que as crianças expressem suas ideias, opiniões e sentimentos, compartilhem brinquedos e brincadeiras, se defendam sem recorrer à agressão física e verbal. Significa acolher e respeitar suas culturas, territórios e contextos sociais, assim como seus saberes, conhecimentos e singularidades individuais, permitindo a construção de identidades diversas, valorizando e integrando-as ao currículo real.
Essa concepção de educação integral tem a ver com possibilitar que os conhecimentos aprendidos sejam instrumentos de leitura de si mesmo, do outro, do território, da comunidade e da sociedade como um todo, constituindo-se em instrumento concreto de participação em processos de transformação da sociedade, tendo em vista o bem comum.
Um bom trabalho pedagógico, desenvolvido por profissionais com formação específica para tanto e com condições de trabalho que o possibilitem tem incidência direta na promoção de um clima escolar positivo que não é a única solução para os desafios que enfrentamos, mas dá condições mínimas tanto para a garantia da aprendizagem, como para uma boa convivência na escola e fora dela.
Nesse momento em que a discussão sobre a violência escolar é tomada como questão de segurança e policiamento nas escolas, é importante enfatizar o potencial pedagógico da escola como recurso primordial para o enfrentamento do problema. A escola sozinha não dá conta de resolver o problema da violência, mas não pode ser substituída por ninguém na tarefa de desenvolvimento integral da pessoa e promoção da cidadania, funções previstas no artigo 205 da Constituição Federal.
A escola e seu fazer dialógico de criar um ambiente acolhedor e harmonioso podem ajudar a incidir nos problemas do presente para transformar o futuro. Mas se quisermos uma cultura de paz na sala de aula, é essencial que essa cultura se fortaleça fora dela.