Jornal Estado de Minas

Mercado LGBTQIA+ e o poder de compra de R$ 400 bilhões

Joalysson Conrado
Designer de joias e fundador da marca Jeecler

Junho é tradicionalmente conhecido como o mês dos namorados. Nos últimos anos, os 30 dias do sexto mês do ano também se tornaram importantes para a comunidade LGBTQIA+. Isso porque junho virou sinônimo de mês do orgulho. No dia 28, comemora-se o Dia Nacional do Orgulho LGBTQIA . Não por coincidência, uma das maiores paradas de orgulho do mundo, a de São Paulo, acontece durante o mês.




 
O acontecimento movimenta a economia da cidade antes, durante e pós-evento, recebendo gente de todos os lugares do mundo na emblemática Avenida Paulista. Para se ter uma ideia, em 2022, o evento foi 'parar' no Guinness devido ao recorde de público, com cerca de 2,5 milhões de pessoas, demonstrando o potencial de movimentação geográfica e de consumo de uma parcela da população que só cresce.
 
Os impactos das ações no mês do orgulho, economicamente falando, são apenas exemplos do poder de compra da comunidade LGBTQIA no Brasil. Eles são responsáveis por cerca de 7% do PIB, já que possuem um alto poder aquisitivo. Com isso, têm tido cada vez mais peso no faturamento dos setores de varejo e serviços, pois são responsáveis por boa parte da "força" que faz a roda da economia brasileira girar.
 
Estima-se que a comunidade possua cerca de 400 bilhões de reais em poder de compra. Esse potencial de consumo LGBTQIA também é conhecido como pink money, que em português significa "dinheiro rosa". A nomenclatura já se tornou famosa, pois esses consumidores têm sido cada vez mais buscados por marcas, que, estrategicamente, buscam atender o mercado a partir de pautas como a inclusão e a representatividade. E isso não é errado, desde que feito com propósito e verdade.




 
Entretanto, por causa do enorme potencial da comunidade, parte da sociedade tem se movimentado de modo não genuíno, para não dizer ilegítimo, visando cifras e crescimento de mercado sem sequer se envolver de forma verdadeira com a comunidade e com aquilo que ela representa – prática que chamamos de pink washing. Em tempos de consumo recorde, não é raro que o lucro sem propósito prevaleça.
 
A boa notícia é que o panorama pode estar mudando. Ancorado pelas visões de mundo da geração Z, a expectativa é que o poder de compra da comunidade esteja cada vez mais voltado para quem se preocupa, de fato, com essas causas ou para quem faz parte da comunidade. Segundo o Relatório Orgulho LGBTQIA 2023, 7 em cada 10 pessoas LGBTQIA preferem comprar de marcas inclusivas (e tendem a ser mais fiéis a elas). Além disso, cerca de 38% das pessoas heterossexuais que fizeram parte do estudo também tendem a comprar de empresas que apoiem as causas LGBTQIA .
 
Isso se reflete no investimento em produtos pensados exclusivamente para eles, com algum potencial social de representatividade, em campanhas de marketing, ou até em uma estrutura empresarial mais inclusiva, que corrobora para que o 'potencial' econômico cresça ainda mais e que essa parte favorável possa contribuir para o desenvolvimento também de outras camadas da comunidade, como a diminuição do preconceito no ambiente corporativo e dos casos de assédio moral, por exemplo.