Jornal Estado de Minas

Espaço profano, política miúda

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

A humanidade encontra-se perdida, destruindo os espaços naturais e culturais desconhecidos. Ando pelas periferias das cidades e vejo a natureza modificada, danificada, aviltada pela ignorância, pela ganância e pelo medo. Apenas pastos pobres e cupins denotam o desequilíbrio ecológico e a espera da especulação. É a cidade que avança. Queimam-se as florestas como se fosse possível dar um novo sentido de dominação a um cosmos que se quer organizado e urbanizado. Quanta tristeza eu sinto, ao ver tanta profanação dos espaços naturais e culturais, que foram sagrados um dia. Mas que hoje se tornaram pura especulação, por uma classe social que tomou para si o poder de mando, homogeneizando e institucionalizando os espaços públicos e privados, cujo controle mantém a política miúda, interesseira e corrupta.





É uma classe de ladrões, como deixou claro Ailton Krenak. Classe sem história, sem honra e sem memória. Seus valores são imorais, antiéticos e antiestéticos. Pouco se importam com a sacralidade e a hierofania dos diferentes. Querem tudo branco, preto ou prata. Não veem a cor e seu sentido. E nem compreendem a magia das miçangas. Ostentam cores apenas como moda, sem saber dos seus significados místicos, da sua cosmogonia e dos seus efeitos na sociedade. Nossas cidades são cinza, empoeiradas, sujas, exclusivistas. Cada vez mais sem o verde da natureza. Sem o verde do amor.

A cosmogonia da fundação das cidades brasileiras se perde na ganância da especulação imobiliária desta classe oligárquica, escravagista e eurocêntrica, cuja religião degenerou em política miúda: o sagrado é o dinheiro! Destroem-se os patrimônios históricos, arqueológicos e arquitetônicos em nome de um progresso mentiroso, falso, antiestético e burro. 

E o povo, por que ignorante, deixa. O povo desconhece seu senso de pertencimento, sua cultura, suas raízes, valores e tradições. Aprende a ser europeu e norte-americano. Não pode ser indígena, africano, mestiço. O que aconteceu com o Pão de Açúcar, no tempo, assusta quem tem alma. O Rio de Janeiro vai morrendo à míngua. Belo Horizonte foi, um dia, a Cidade Jardim, mas perdeu seu ar medicinal. E quantos indígenas pós-modernos se acham donos da natureza, mas sequer sabem reconhecer as plantas e seus efeitos medicinais? O que temos hoje são cidades burras, elitistas, surgidas pari passu, ao racismo ambiental que o comércio de commodities nos impõe desde 1492. É o imperialismo ecológico, tal como definido por Alfred W. Crosby, que nos assola e avassala. E a classe do meio, nossos políticos, juízes, ministros etc., fazem bem seu trabalho. Fazem tão bem o seu trabalho que recebem supersalários, decretados por eles mesmos, em consenso com o famoso “toma lá dá cá” dessa política miúda.





 A política miúda, corrupta e colonialista é um desencanto. Deixamos políticos, juízes e ministros decidirem o que fazer com os dinheiros públicos de um país que deveria ser o melhor do mundo para se viver. Estes políticos, juízes e ministros que aí estão, como semideuses no Olimpo, roubando nosso futuro são nossa responsabilidade. O Poder Executivo, que deveria gerir as coisas públicas, negocia cargos e ministérios com o Legislativo. Trocam entre si os orçamentos da Nação. Um acinte. E vamos ficar calados, amedrontados e omissos? Esta profanação da pátria está nos custando bem caro e no mundo todo somos vistos como idiotas. Macaquitos de gringos.