Camila Corrêa Matias Pereira
Especialista em prevenção do suicídio
A saúde mental é um aspecto fundamental para o bem-estar e a qualidade de vida de cada indivíduo. No entanto, muitas vezes é negligenciada ou estigmatizada na sociedade. Embora campanhas como o do Janeiro Branco e do Setembro Amarelo tenham conquistado avanços importantes no Brasil, é importante destacar que a promoção da saúde mental e a prevenção do suicídio são assuntos que merecem atenção em todos os meses do ano.
O suicídio é um grande problema de saúde pública mundial, com dados estimados de 1 morte a cada 40 segundos entre muitas outras tentativas. As consequências afetam indivíduos, famílias e comunidades. A prevenção do suicídio é uma prioridade da Organização Mundial de Saúde, principalmente em países como o Brasil. De fato, mais de 77% dos suicídios globais ocorreram em países de baixa e média renda em 2019.
Não podemos negar que a saúde mental desempenha um papel crucial na vida de cada indivíduo e que não existe saúde sem considerar a saúde mental. Uma boa saúde mental está intrinsecamente ligada à qualidade de vida, à capacidade de enfrentar desafios e ao estabelecimento de relacionamentos saudáveis e significativos. Dados brasileiros mostram a urgência de abordar questões relacionadas à saúde mental, como o alto índice de suicídio (apesar da subnotificação) e a prevalência de transtornos como depressão e ansiedade.
No contexto da sociedade brasileira, a saúde mental enfrenta diversos estigmas que têm raízes em aspectos sociais, culturais, históricos e religiosos. O desconhecimento e a falta de compreensão em relação às doenças mentais têm perpetuado o estigma e gerado desinformação. Esse cenário dificulta que as pessoas busquem ajuda e apoio, resultando em um sofrimento silencioso e aumentando o risco de agravos à saúde mental.
Estudos têm mostrado que programas de prevenção contínuos e a atenção constante à saúde mental têm o potencial de reduzir as taxas de suicídio. É preciso estender o diálogo sobre saúde mental além de meses específicos, garantindo que as pessoas tenham acesso a recursos, suporte adequado e de qualidade no ano inteiro. Ao falar sobre saúde mental de forma constante, derrubamos estigmas e construímos uma sociedade mais acolhedora e compreensiva, já que a comunicação é a melhor forma de trabalhar prevenção.
É importante ressaltar que o comportamento suicida é multifatorial e que devido à sua complexidade, esse assunto não pode ser visto de forma superficial. A prevenção pode ser feita de várias formas e considerando muitos níveis: ações e programas de prevenção do suicídio e promoção da saúde mental devem ser implementados e mantidos ao longo do ano, com base em evidências científicas e direcionados às necessidades da população, uma vez que existem diversos fatores de risco e de proteção nas diferentes fases do ciclo vital. Em geral, trabalhar a promoção da saúde mental, a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas, está relacionado à prevenção do suicídio.
Importante: se você ou alguém que você conhece está passando por dificuldades emocionais, não deixe de buscar por ajuda profissional. Contate também o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat. Ligue para o número 188 do telefone fixo ou do seu celular, 24 horas por dia.