Jornal Estado de Minas

editorial

Abandono de idosos aumenta 855% no país

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

A violência contra os idosos teve um aumento de 38% nos primeiros cinco meses deste ano, na comparação com igual período de 2022. Mais de 65 mil denúncias foram registradas pelo Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidania. Entre as várias formas de maus-tratos, a que mais cresceu foi o abandono – 855%. De janeiro a maio último, foram 19.987 casos, contra 2.092, no mesmo intervalo de tempo no ano passado.  O número de casos de agressão física passou de 62.758, em 2022, para 129.501 neste ano,  ou seja 106% a mais; e a financeira ou material, alta de 73% (passou de 8.816, no ano passado, para 15.211 em 2023).




 
Ao lado das violências físicas e patrimoniais, os idosos ainda são vítimas de torturas psicológicas, que cresceu 40% nos primeiros cinco meses do ano, totalizando 129.501 casos. O aumento de casos, principalmente de abandonos, sugere que a cada período há um avanço descomunal da desumanidade sobre a sociedade. O tradicional respeito aos mais velhos está deixando de existir nas famílias responsáveis pelos cuidados com aqueles com 60 anos ou mais. O reconhecimento da importância dos pais, dos avós e tios na vida dos seus descendentes era parte da educação familiar. Ainda que houvesse discordância em relação a ideias e comportamentos, era proibido ser agressivo nas respostas e  nas atitudes com idoso.
 
As políticas públicas voltadas aos idosos também são falhas. O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), vigente desde 2004, é considerado um importante avanço na defesa dos direitos e interesses desse segmento da sociedade. Entre os principais direitos estão o atendimento preferencial, acompanhante em hospitais, medicamentos e transporte público gratuitos, isenção de pagamento de IPTU, pensão alimentícia e celeridade na tramitação de processos judiciais. Mas esses e outros benefícios se mostram insuficientes, quando as infrações penais contra os idosos ocorrem onde convivem com familiares.
 
Faltam ações que resgatem os idosos desse ambiente hostil, garantindo-lhes o direito a ter qualidade de vida, em ambiente não violento e com os cuidados necessários exigidos pela idade. Em audiência na Câmara dos Deputados, em maio último, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, afirmou que o Brasil precisa construir uma política nacional da pessoa idosa, tomando como base a Convenção Interamericana sobre Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos. O Projeto de Decreto da Câmara (PDC) 863, espera ser votado desde 2017.




 
Ainda para o ministro, uma política de direitos humanos destinada aos idosos deve contemplar comunicação, educação, proteção e cidadania. Segundo Silvio Almeida, essas quatro dimensões permitirão assegurar humanidade aos idosos, por apontar para uma perspectiva de futuro. Mas enquanto a nova política não é implementada, faz-se indispensável garantir segurança e cuidados aos idosos para que possam caminhar a finitude da vida com dignidade e atenção. Inconcebível que a violência e a fúria que hoje afetam e matam mulheres e crianças componham o mesmo cenário de sofrimento dos idosos.