Jornal Estado de Minas

EDITORIAL

O apelo da igreja católica aos jovens

A igreja católica tem grandes desafios pela frente, o mais importante deles, convencer os jovens de que as estruturas fincadas em Roma, sob o comando do Papa Francisco, estão dispostas a encarar o mundo novo, com toda a sua diversidade e demandas. Em relação à juventude, não resta dúvida de que o catolicismo tem um desafio, pois vem perdendo fiéis por todo o planeta. Um dos papas mais reformistas da Igreja nos últimos 60 anos, Francisco quer um posicionamento que se encaixe ao que meninos e meninas veem como filosofia de vida. 

Apesar do esforço do Papa Francisco para falar com os mais jovens e em defesa dos mais pobres, o discurso carece de aderência à realidade da população. Isso é visível, sobretudo, nas periferias das grandes cidades, onde observa-se um aumento no número de pessoas que se dizem sem religião e dos que têm optado por seguir outras denominações cristãs.  

Não é de agora que a igreja católica vem perdendo fiéis. Em 1994, 75% dos brasileiros se diziam seguidores dos preceitos de Cristo definidos por Roma. Em 2010, eram 63% e, ao que tudo indica, pelo Censo de 2022, esse índice caiu para menos de 50% da população. É que a Igreja enfrenta dificuldades para ocupar espaço nas novas fronteiras abertas no país. Na Região Norte, na qual está encravada a Amazônia, o catolicismo encolhe mais rapidamente. Por isso, em 2019, surgiu a proposta de se ordenar homens casados como padres, mas o tema não avançou.





Se ainda quiser recuperar o espaço perdido, a Igreja católica terá de avançar na quebra de paradigmas, dando mais espaço para mulheres e negros, indo aonde a população mais carente está, retomando os reais preceitos de Cristo, como a caridade e a fraternidade. A despeito dos posicionamentos firmes do Papa Francisco nesse sentido, o empenho do corpo clerical tem sido insuficiente. É preciso que os cidadãos se sintam realmente abraçados pelos representantes da Santa Sé.

A Jornada Mundial da Juventude que ocorrerá em Portugal entre os dias 1º de 6 de agosto demonstra a forte divisão da sociedade em relação ao que representa a Igreja católica. O entusiasmo de jovens de todo o planeta que encontrarão o papa Francisco contrasta com as críticas aos vultosos gastos feitos pelos governos locais para o evento. Alega-se que esse dinheiro poderia custear melhores condições de vida aos mais pobres. 

Espera-se que a Jornada, da qual devem participar cerca de 1,5 milhão de peregrinos, seja um passo importante para a Igreja católica externar seus ensinamentos nos tempos atuais . Em vídeo divulgado há poucos dias, o Papa Francisco conclamou os jovens a agirem em nome do Evangelho, em um mundo atormentado por uma guerra e sob grave ameaça climática. 

Ao comentar o tema da Jornada Mundial, "Maria levantou-se e partiu apressadamente", o pontífice lembrou que a fé católica exige, além de devoção espiritual, uma atitude concreta. "Maria, quando sabe que vai ser a mãe de Deus, não fica parada a tirar uma selfie ou a pensar no que vai fazer". Pelo contrário, "a primeira coisa que faz é pôr-se a caminho, apressadamente, para servir, para ajudar. Também vocês têm de aprender a colocar-se a caminho para ajudar os demais", exortou.  

Aos 86 anos, Francisco mantém-se na busca de modernizar a Santa Sé e reparar os danos à imagem da instituição, abalada por escândalos sexuais e um conservadorismo resistente em suas estruturas. Em Lisboa, ele buscará estreitar os laços com uma geração que tem o poder da mudança. "São João Paulo II dizia que se convives com os jovens, você se torna jovem também. E a Igreja necessita dos jovens para não envelhecer", defende a autoridade máxima do Vaticano.