Segunda maior economia do mundo, a China tem mandado sinais preocupantes desde o início do ano. O mais recente, divulgado ontem, é o dado de exportações, setor em que o país é o líder global. Em julho, o volume de envio de bens para o resto do mundo caiu 14,5%, em comparação com o mesmo período do ano passado. Na outra ponta, as importações também registraram decréscimo de 12,4%, no mesmo recorte temporal, o que mostra que o consumo interno também está em baixa acentuada. São os piores números desde a pandemia da COVID-19, e superaram as previsões mais pessimistas dos principais analistas mundiais. A expectativa, por enquanto, é de um crescimento anual chinês entre 4,3% e 5% – números que seriam festejados em qualquer país do mundo, mas muito abaixo do que os chineses têm apresentado nas últimas três décadas.
Os índices mostram que a China está encontrando dificuldades para reaquecer a sua economia no cenário pós-pandemia. Com a inflação global provocada pela crise do coronavírus, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, e bancos da Europa e da Ásia correram para aumentar os seus juros, o que reduziu o consumo e o apetite global por exportações. Só no último mês, o envio de produtos chineses para EUA e Europa reduziu mais de 20% em comparação com o mês anterior. Com isso, a atividade industrial na China vem apresentando queda nos últimos quatro meses, com computadores e roupas liderando as perdas. Além disso, a China parece estar à beira de uma deflação constante, o que pode jogar o país em um círculo vicioso de preços baixos e baixa demanda, deprimindo ainda mais a sua economia.
Motor da economia mundial, a China vem ditando o ritmo do mundo há décadas. Por isso, qualquer soluço no país do presidente Xi Jinping é acompanhado com apreensão pelo mundo, totalmente dependente do governo de Pequim, já que o país é o maior parceiro comercial de boa parte do resto do planeta, inclusive superando acordos comerciais bilaterais entre países vizinhos. Por isso, a inquietação gerada pelos indicadores chineses é um alerta para a fragilidade presente nas bases globais, e uma desaceleração brusca da China pode significar o início de uma recessão severa pelo mundo. Essa crise seria ainda mais agravada com a queda que a economia dos Estados Unidos vem apresentando, e que levou o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, a emitir um alerta no último mês para os riscos de o país de Joe Biden não conseguir engrenar sua recuperação e evitar a contração por dois trimestres seguidos.
A possibilidade de uma recessão global é um chamado para ações cautelosas e estratégicas de países e entidades supranacionais, como o próprio FMI e o Banco Mundial, enquanto Estados Unidos e China têm a responsabilidade de buscar sinergias para manter o motor econômico em funcionamento. O mundo, por sua vez, deve tentar evitar o agravamento dos riscos já latentes, mas se preparar para o que pode ser a maior crise do capitalismo mundial desde 2008. Diante dessa situação, é fundamental para o Brasil reforçar suas apostas na condução cautelosa da economia, que permitiu uma estabilidade nos primeiros seis meses de 2023, e buscar a cooperação internacional para evitar que o pior cenário se concretize, o que colocaria em risco a lenta, mas gradual, recuperação do país.