Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
O Povo de Deus na sua peregrinação se vale da tenda como lugar das mais estruturantes conquistas, tornando qualificado o caminho de cada um. A referência à tenda remete, pois, ao sentido bíblico de que a humanidade é povo a caminho, em busca de aprendizados, acolhimentos e do cultivo de valores. Por isso mesmo, o imperativo de “alargar a tenda” para comportar sempre mais pessoas deve inspirar a vida de todos: é preciso alargar o próprio coração, tornando-o “tenda interior” que alicerça a fraternidade solidária. Ao mesmo tempo, deve-se investir no cuidado de uma tenda essencial à vida, que permite o aconchegar-se, a partilha e o aprendizado da escuta: a família. Neste horizonte, a Igreja Católica no Brasil mobiliza suas comunidades e instâncias para a celebração, a cada mês de agosto, da Semana Nacional das Famílias, iniciada no domingo, Dia dos Pais. Em clima de oração, retoma-se o significado da família, a partir do que ensina a doutrina da Igreja Católica. Especialmente em agosto, celebrado como Mês das Vocações – e no contexto da vivência do Ano Vocacional –, a Igreja oferece a sua contribuição para que a sociedade reconheça e reafirme a centralidade da família. Uma necessidade neste tempo marcado por profundas transformações.
A Igreja compreende que a família possibilita conhecer e aprender a amar o Senhor da vida, com desdobramentos na configuração de vínculos relacionais que geram qualidade ao viver humano. A família, assim, é essencial para construir uma sociedade nos parâmetros da fraternidade universal. Cada contexto familiar, considerados seus limites e vicissitudes, tem potencial para ser escola do amor conjugal, do amor a Deus, desenvolvendo, consequentemente, a competência para amar cada semelhante. Por isso, iluminada pela Palavra de Deus, a Igreja, em diálogo e cooperação com outros segmentos da sociedade, considera a família como a primeira sociedade natural, titular de direitos próprios e originários, colocando-a no centro da vida social. Essa convicção sustenta um trabalho incansável para não permitir que seja atribuído à família um papel subalterno ou irrelevante.
A sociedade precisa da família com a sua vocação – primeiro lugar para se viver a experiência da comunhão. Obviamente não se trata de um lugar perfeito, mas constitui alicerce sólido e renovador, capaz de inspirar um exercício da cidadania que é essencial à qualificação da sociedade, tornando-a mais justa e solidária. Há, pois, um protagonismo da instituição familiar no contexto social e na existência de cada pessoa, pois a família é berço da vida e do amor. Promover a família é gesto em defesa da vida, em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte, com o declínio natural, reconhecendo que cada pessoa é dom de Deus. Um compromisso que precisa se desdobrar na busca pela superação dos vergonhosos cenários de exclusões e misérias que ameaçam as famílias. E o ser humano precisa da “tenda familiar” para desenvolver suas potencialidades, fecundadas pela força singular da primeira experiência do amor, proporcionada no contexto de sua família.
A experiência afetiva da comunidade familiar, apesar de suas idiossincrasias, tem força estruturante. A ausência ou o comprometimento dessa experiência afetiva podem trazer prejuízos insuperáveis. A família é o lugar primordial onde se inicia o desenvolvimento de habilidades essenciais à sociabilidade. Buscar fortalecer o contexto familiar amplia a possibilidade de se alcançar uma civilização à altura da dignidade humana. Por isso mesmo, a Igreja afirma que “sem famílias fortes na comunhão e estáveis no seu compromisso os povos se debilitam”. Na tenda familiar são estruturados e aprendidos valores morais, a partir da experiência da fé, com a transmissão de importantes patrimônios religiosos e culturais. A família possibilita, assim, a cada ser humano, reconhecer a sua responsabilidade no exercício da solidariedade.
Reflexões profundas precisam unir diferentes segmentos da sociedade para proteger e promover a família. Trata-se de propósito da celebração da Semana da Família, buscando afastar a possibilidade terrível de relativizações e imposições que desconsideram a primeira escola do ser humano. Ecoe, portanto, a convocação de se reconhecer a importância da família – preciosa tenda. Assim, cada pessoa, em sua peregrinação, possa sempre se ancorar e encontrar amparo na indispensável tenda familiar.