Juliana Guimarães
Oftalmologista e diretora do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães
Você já sentiu as letras se mexerem, duplicarem ou desaparecem do papel, enquanto você estava lendo ou alguém já reclamou sobre isso com você? A condição está relacionada à síndrome de Irlen, também conhecida como síndrome da Sensibilidade Escotópica, sendo pouco conhecida, porém acomete cerca de 14% da população mundial, em relação ao processamento visual. Infelizmente, a síndrome compromete o cotidiano de brasileiros estudando ou no trabalho.
A síndrome de Irlen foi descoberta na década de 1980 pela psicóloga Helen Irlen, sendo caracterizada por uma alteração na visão, decorrente da sensibilidade extrema a determinadas frequências luminosas.
A condição provoca distorções e a dificuldade em focar nas palavras durante a leitura, assim como a fotofobia, alterações na orientação visuoespacial, cansaço visual, ardência, enjoos e, consequentemente, dores nos olhos e na cabeça, principalmente, no fim do dia, após muito esforço.
Um alerta importante é que a síndrome tem caráter hereditário, podendo ser originária de um ou ambos os pais, em diferentes graus, atingindo pessoas em qualquer faixa etária. A situação de alerta está no fato de a maioria desconhecer a causa e, nem mesmo, ter noção, ou seja, para essas pessoas, a situação é considerada normal e nem todos os sintomas surgem de uma vez.
Entre as crianças, por exemplo, à medida que avançam na escola, podem apresentar cada vez mais dificuldades em acompanhar o conteúdo em sala de aula, pois aumenta a quantidade de material para leitura e estudo. É importante lembrar que esses alunos, naturalmente, apresentam mais dificuldade para ler, uma vez que as “palavras não ficam paradas”, levando mais tempo para conseguir terminar as atividades, gerando também, maior cansaço e provocando dores.
A situação deixa muitos estudantes “atrasados” em relação à turma, porque afeta, diretamente, o rendimento e a autoestima, sendo, a partir desse momento, que muitos pais ou professores percebem que existe algo errado. A estimativa é que 46% das pessoas com dificuldade na fase escolar sejam portadoras da síndrome.
Os efeitos podem ser confundidos com outra causa, mais popular, conhecida como dislexia, contudo, a síndrome não conta com alterações na percepção auditiva, escrita invertida ou espelhada e, consequentemente, a dificuldade de desenvolver a fala e a escrita, com a pronúncia errada, sendo necessário apoio de uma equipe multidisciplinar, incluindo, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiologia.
O diagnóstico deve ser realizado com o auxílio de outros profissionais, como oftalmologistas e psicopedagogos, capacitados para identificar a causa com o teste de screening ou rastreamento e o protocolo padronizado, chamado Método Irlen.