Sequelas e perdas deixadas pela pandemia da COVID-19, desemprego, violência e tantos outros fatores afetam o equilíbrio emocional e mental dos brasileiros. Hoje, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental, entre 64 países, segundo o relatório Estado Mental do Mundo 2022, encomendado pela Sapien Labs. A sondagem obteve 407.959 respostas e revelou que há mais de 300 milhões de pessoas sofrendo com depressão no mundo, sendo 11 milhões de brasileiros.
Para o Conselho Federal de Enfermagem, o relatório indica que o Brasil enfrenta uma segunda pandemia, provocada pelos traumas provocados pela crise sanitária do coronavírus. Não à toa, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou, na sua posse, que a pasta faria uma revisão da política de saúde mental, que foi desmontada pelo governo anterior. A gestão passada condenou os princípios da Reforma Psiquiátrica, que eliminou os manicômios, além de unir a visão psiquiátrica com a psicossocial – uma virada de página na história da psiquiatria nacional.
Embora 70% dos brasileiros digam que desfrutam de boa ou ótima saúde mental, 7% reconhecem que estão ruins ou péssimos. Os mais incomodados, entre 16 e 24 anos, somam 13%, os 23% restantes avaliam como regular, segundo pesquisa do DataFolha, realizada entre 31 de julho e 7 de agosto, com 2.534 pessoas com 16 anos ou mais em 169 municípios.
Ansiedade, depressão e todos os danos que esses distúrbios causam predominam entre a parcela da sociedade, que necessita de cuidados adequados. Os tratamentos não ficam restritos aos psiquiatras e psicólogos. Muitos exigem o apoio de outros especialistas, para vencer os transtornos provocados pela perturbação mental e emocional.
A desigualdade social e econômica, uma realidade marcante no Brasil, colabora para o agravamento dos problemas emocionais e mentais. A rede pública de saúde é insuficiente para garantir assistência nos primeiros sinais de perturbação emocional. A demora ou não atendimento permite que a ansiedade alcance o grau de depressão. As consequências são inimagináveis. Mas podem empurrar o indivíduo para um ato extremo – algo que poderia ser evitado, se acolhido a tempo.
Os mais pobres, como em tudo no Brasil, são os mais prejudicados. A estrutura pública é desorganizada e falta interesse da maioria dos governantes em aparelhar e contratar profissionais, a fim de acolher quem não tem meios de ser socorrido na rede privada de saúde. Uma revisão do sistema se faz mais do que necessário. Impõe-se como medida urgente, para que os brasileiros, principalmente os menos favorecidos, tenham acolhimento profissional de qualidade para superar seus transtornos e as dores da alma.