Carlos Augusto Curiati Bueno
Engenheiro civil, membro do Conselho de Administração da Tallento Engenharia e associado ao IBGC
O processo de sucessão para fins de perenização em empresas com características familiares pode ser tão difícil quanto maior for a resistência e apego de seus fundadores. Afinal, se as empresas se mantiveram ativas em um mercado competitivo ou vencendo as oscilações econômicas e políticas sempre presentes ao longo de décadas, foi pelo trabalho resiliente de seus fundadores que adquiriram experiência e conhecimento pela evolução em seus projetos e, como efeito, propiciaram renda, empregos, impostos ou, por vezes, engoliram prejuízos, porém, sempre com otimismo e resiliência – características estas marcantes dos reais empreendedores.
Portanto, é compreensível a resistência dos fundadores à sucessão, pois passar o comando pode representar o eventual fim de carreira, dos desafios, do poder de decidir, da adrenalina de arriscar por conta própria. Entretanto, tal sentimento inicial de perda dos fundadores, quando bem trabalhado, deve ser substituído pela satisfação em compartilhar conhecimentos, experiências, ou em comemorar os êxitos daqueles que, a partir da cultura e melhoras práticas criadas pelos fundadores, acabam alcançando novos resultados e em patamares mais elevados.
Segundo a pesquisa “A Governança Corporativa nas Empresas Familiares Brasileiras”, realizada pelos ACI Institute e o Board Leadership Center da KPMG no Brasil, as sucessões com governança, principalmente nas empresas familiares, enfrentam constantes desafios diante do panorama econômico atual. Esse cenário afeta tanto o planejamento de sucessão nesses negócios que 73% dos respondentes indicaram não haver expectativa de mudança na gestão dos próximos anos. Essa opção não significa falta de profissionalismo ou enfraquecimento das práticas de governança, pelo contrário, a pesquisa apontou que 53% reconhecem que as boas práticas de governança corporativa são fundamentais para o sucesso do negócio.
Afinal, exemplos vivos nos mostram que aqueles fundadores que conseguirem desapegar da rotina operacional de forma inteligente, no tempo certo e com planejamento prévio, visando uma sucessão bem estruturada pelas melhores práticas de governança, também alcançaram uma nova fase de crescimento por meio da sustentação profissional mais forte e competitiva. Dessa forma, a empresa poderá usufruir da experiência de seus talentos em novas posições, somada aos novos conhecimentos e energia dos administradores entrantes, obtendo maior musculatura profissional, objetivando a geração de maior valor e, principalmente, a perpetuação do legado da companhia e de seus fundadores.
Outro ponto importante destacado na pesquisa é que manter vivo o legado da família e preparar as empresas familiares para um mercado competitivo são dois grandes objetivos. O que, possivelmente, explica a percepção dos respondentes sobre o preparo da próxima geração para assumir a gestão dos negócios, apontam que 31 % acreditam que ela ainda não está preparada e 42% consideram que está parcialmente preparada. Por isso, é muito importante ter conhecimento sobre o negócio e manter viva a manutenção dos valores da família na empresa durante o processo de sucessão.
Assim, perceber, antecipar-se e realizar a sucessão pode parecer uma tarefa difícil, porém necessária e, caso não percebida em tempo hábil, pode representar sérios riscos de continuidade!