José Fernandes Filho
Ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Nunca o vi, mas o sei a meu lado, indiferente a tudo e a todos. Anda, caminha, corre, insensível ao prazer e à dor. Apático, faça chuva ou sopre o vento, não chora nem sorri. Apolíneo, desdenha da alegria e da tristeza. Criação do homem ou castigo dos deuses, de nada se apieda. Autossuficiente, não carece de alimento. Não tem morada, nem sede, apátrida estranho. Dispensa juízos e medidas. Majestático, jamais coisificado. Bênção ou punição, mistério, de segredos e sombras, sem transparência ou luminosidade. Camaleão, senhor das cores, a todas renuncia, por desnecessárias. Nome, apelido, alcunha, linhagem? Tudo dispensável a quem, criatura, talvez se pretendesse Criador.
Palavra alguma será capaz de identificá-lo.
Enfim, ponteiro de relógio a registrar ínfimos segundos, ele existe e existirá, enquanto Terra houver.
Sem o ver ou compreender, eu o sinto e respeito, antecipando-me a velhice, mas incapaz de devolver-me a mocidade. Do passado não tem saudade; do futuro, imprevisível, nenhuma ansiedade.
A despeito da aparente contradição e, ainda, da nudez e da cegueira nele ínsitas, desfila atos e fatos com rigorosa exatidão. O passado, que já ficou, e o futuro, que virá, prestam-lhe justificada reverência.
E assim continuamos, vida rolando, ele na frente, eu atrás. Cumpra-se seu inexorável veredito sobre o que foi e sobre o que ainda será.
Sua majestade, o tempo, bom dia!