Marco Aurélio de Castro
Diretor-executivo de Recursos Humanos da Volkswagen Financial Services Brasil
Não é de hoje que o termo “gestão humanizada” e suas variações vêm ganhando espaço entre profissionais de RH, consultores e até mesmo coaches e gurus. Trata-se de um conceito que, à primeira vista, aparece incorporado à nomenclatura das mais variadas técnicas de gestão, apenas para compor o jargão da área, sem maiores contribuições teóricas.
Recentemente, enquanto assistia a uma palestra em vídeo, pude perceber o quanto o verbo “humanizar”, além de outros termos derivados, surgiam repetidas vezes no discurso, a ponto de me despertar um certo incômodo. A partir desse episódio, passei a refletir sobre como os comportamentos ditos “humanizados” tratam-se, na verdade, de expedientes básicos para a boa convivência entre as pessoas, dentro e fora do ambiente de trabalho.
Princípios tão fundamentais como respeito, inclusão, acolhimento, empatia, dignidade, justiça e ética parecem ter sido reduzidos ao status de meras práticas “humanizadas”, a ponto de esvaziar-se de seu real sentido e valor. Logo, o que me parece é que, ao tentar abarcar toda uma miríade de conceitos complexos, a ideia de “humanização” acaba por não dizer ou significar mais nada.
Afinal, como “humanizar” ações que já são, por si só, essencialmente humanas? Se desejamos alavancar e potencializar nossas práticas de gestão, liderança e tratamento oferecido às pessoas, devemos ser mais explícitos no modo como nos expressamos, a fim de alcançar os objetivos almejados. Em tempos de excesso de informação e déficit de interpretação, é preciso empregar as palavras como pontes, e não como abismos, para o entendimento mútuo e o estabelecimento de boas relações interpessoais.
Há que se considerar que somos “humanos” tanto em nossas virtudes quanto em nossas imperfeições; em nossas forças, mas também em nossas vulnerabilidades. Assim, é preciso ir além dos modismos e estabelecer critérios claros e assertivos para comunicar e reforçar a necessidade de se construir relações cada vez mais éticas e sustentáveis, pautadas pelo respeito e pela meta de impactar positivamente o ecossistema das corporações.
Seja em rodas de conversa, reuniões ou palestras, ao invés de seguirmos nos valendo de eufemismos, sejamos mais específicos, utilizando conscientemente as palavras, em prol do aprendizado, da informação e da educação de nossos interlocutores, a fim de promover um debate com maior lastro e profundidade, livre de achismos e termos esvaziados de sentido.
Devemos estar cientes do impacto que exercemos não só em nosso entorno, mas em toda a sociedade, a fim de abraçarmos o desafio de transformar consciência em ação e, assim, nos tornamos profissionais, parceiros, gestores, cidadãos e, em última instância, pessoas melhores e mais responsáveis pelas relações que cultivamos.
Com tudo isso em mente, me pergunto, enfim: por que razão deveríamos nos “humanizar” se já somos todos, como diria o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, “humanos, demasiadamente humanos”?.n