Jornal Estado de Minas

A educação brasileira e o profeta João

Nestor de Oliviera 
Jornalista

“Na verdade, o que ameaça a soberania do Brasil, como nação independente, não está fora de nossas fronteiras. Está aqui dentro e chama-se ignorância.” 
 
Essa frase, dita pelo então deputado federal pelo Espírito Santo, João Calmon, em maio de 1970, numa palestra na Câmara Municipal de São Paulo, ressoa aos nossos ouvidos como dita ontem. Há mais de meio século a realidade brasileira da educação pouco mudou, se é que alguma mudança houve, senão vejamos:
Um estudo da @stats-feed, no qual demonstra o percentual de pessoas entre 25 e 34 anos que concluíram o ensino superior, nos diversos países do mundo, deixa o Brasil mal na foto. Ocupamos o nada honroso 43º lugar, com 23%, atrás do Chile (40%), Colômbia (34%) e Costa Rica (31%), para compararmos com nossos vizinhos tropicais e não com países que vivem em outro planeta. Coreia do Sul, por exemplo, tem 69% de pessoas, Canadá, 67%, Japão, 65%, e assim por diante. 




 
Estudos de fabricantes de papel editorial, aquele para imprimir livros, inclusive os didáticos, revistas, jornais e outros meios para leitura, indicam que países, nossos vizinhos e de novo para não compararmos com o Primeiro Mundo, mostram a Argentina com consumo anual de 16 quilos per capita, Uruguai 15,5 quilos, Peru 12 quilos, Colômbia 11 quilos e Brasil com irrisórios 5,5 quilos. Se formos falar de países como França, Alemanha ou Inglaterra, todos com acima de 50 quilos de consumo, por ano, também per capita. Conclusão, analfabetos não leem.
 
Voltemos ao profeta João Calmon, presidente do Condomínio dos Diários Associados após a morte de Assis Chateaubriand, agora senador da República, cargo que exerceu por mais de 25 anos.  A “Emenda Calmon”, por ele criada, relator que foi da Comissão Temática da “Família, Educação, Cultura e Esportes”, da Constituição de 1988, elevou de 13% para 25% da receita da União veiculada a despesa com educação. Porém, é dele a frase de “apreensão com a péssima aplicação dos recursos destinados à educação por tecnocratas insensíveis”.
 
Nossa realidade tem melhorado a passos de tartaruga neste meio século, se compararmos com os anos 70, quando da palestra de nosso profeta em São Paulo. Lá ele revelava que para cada grupo de 1.000 alunos que se matriculavam na primeira série do curso primário, 395 chegavam ao 2º ano, 280 terminavam o curso; 101 entravam para o ginasial, da época, 53 o concluíam; 51 iam ao colegial (também à época) e somente 35 o terminavam. Apenas 11, em mil, chegavam ao curso universitário. Os governos acreditam ser melhor distribuir renda e combater a miséria imediata, com bolsas e dinheiro/esmola, que planejar, através da educação, o futuro onde não existam necessitados. É a eterna questão das oportunidades iguais. Estudos, do próprio governo federal, provam que para cada ano de educação a criança passa a ter 25% de chances de sair da linha da miséria. Ou seja, em 4 anos ela estará apta a ter futuro melhor. Nestes primeiros anos ela aprenderá a ter hábitos higiênicos como escovar dentes, lavar as mãos, calçar sapatos, ser vacinado e levar tais conhecimentos para casa. Não há como fazer investimentos em educação na geração anterior.  
 
Enquanto não chega nossa revolução pela educação vamos assistindo à sociedade se calar aos baixos salários dos professores, péssimas condições das escolas, carga horária insuficiente, currículos escolares ultrapassados, insegurança nas salas de aula, aumento da criminalidade e absurda expansão do consumo de drogas.
 
Para finalizar, nada melhor que a profecia do João, sem parágrafo nem versículo: “Se ficarmos esperando pelo paternalismo governamental chegaremos ao ano 2000 com este grave problema do analfabetismo para resolver”. Estava escrito e assim se cumpriu.