Jornal Estado de Minas

BH

O triste fim dos cinemas de rua

Mauro Alvim 
Belo Horizonte

“Fiquei muito satisfeito quando o EM fez uma reportagem sobre os 100 anos do CAAP na Faculdade de Direito e até com um certo orgulho por saber que já pertenci àquela agremiação nos meus tempos de estudante. Vale a pena lembrar também que foi o CAAP quem promoveu o primeiro manifesto contra a censura no governo militar, onde na praça Afonso Arinos foi posto um caixão com os dizeres ‘Aqui Jaz a Censura’ e um grande número de estudantes ao redor com velas. Eu estava lá! Repressão igual foi em nosso protesto contra o fechamento do Cine Metrópole, vizinho ao nosso prédio. Mais do que cinema, aquele lugar vive na memória dos nossos avós onde, nas tardes de domingo, o programa da juventude era ir fazer o footing pela sua calçada e depois ir tomar sorvete na Confeitaria Elite, de propriedade do Sô Belém (meu avô).





Há quarenta anos a demolição do cinema foi um golpe na nossa cultura. Em plena época onde o Brasil já havia se redemocratizado, a polícia proibiu a passeata que faríamos do CAAP até a praça Rio Branco. Tancredo Neves era o governador do Estado e o Dr. Cunha Peixoto, secretário de segurança, proibiu veementemente qualquer manifestação pela cidade. Nós que resistimos fomos presos e tomamos muito golpe de cassetete da PM, o que nos fazia gritar: ‘A polícia do Tancredo é igual a do Figueiredo’ (Então presidente da República na época, que reprimia também com atos violentos qualquer manifestação popular). Nós estudantes éramos recolhidos em um ônibus da PM, na época apelidado de ‘Gaiola de Macacos’ e íamos sendo dispersados pela cidade. O Cine Metrópole foi sendo demolido aos poucos e cortava o coração quando eu via caminhões levando as poltronas do cinema; poltronas em que talvez eu já tenha sentado numa delas, ao lado da minha namorada, como também me veio à memória, foi lá onde assisti ao primeiro filme da minha vida: ‘A Bela adormecida’, clássico de Walt Disney.

Ficou-se estabelecido que o cinema seria demolido para dar lugar a uma agência bancária e, em troca, construíram um teatro lá no alto da Afonso Pena, num prédio que pertencia, na época, à Telemig, teatro este que foi eterno enquanto durou, depois o prédio passou para as mãos do TJMG que o transformou num auditório.

Hoje os cinemas de rua acabaram, foram todos para os shoppings onde a Cinemark só exibe enlatados de super-heróis e demais dramas vindos de Hollywood. O cinema nacional fica restrito aos cine-clubes ou aos poucos cinemas de rua que ainda existem. The end para nossa cultura.”