Entre os dias 15 e 17 de setembro foi realizado o 2º Encontro Pan-americano de Jovens Produtores de Leite, em Juiz de Fora (MG). O evento que é promovido a cada dois anos pela Federação Pan-americana do Leite (Fepale), teve 224 participantes inscritos, oriundos de 5 países latino-americanos, sendo 164 brasileiros. Entre eles, 19 jovens associados e filhos de cooperados da CCPR/Itambé que partiram para a cidade mineira em busca de novos conhecimentos e intercâmbio cultural com produtores de todo o continente.
O encontro foi realizado em parceria com instituições nacionais como a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP) e a Embrapa Gado de Leite, que recebeu os participantes em seu campo experimental localizado no município de Coronel Pacheco (MG), no primeiro dia do evento.
A visita foi dividida em cinco estações temáticas : sistema de produção de leite à pasto com rebanho girolando, sistema intensivo de produção de leite com rebanho puro holandês, sustentabilidade na atividade leiteira, pecuária de precisão, forrageiras comerciais mais utilizadas no Brasil e sistema de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF).
"O campo experimental é muito grande e a visita foi bastante produtiva. As estações nos enriqueceram muito com conhecimento para melhorar a produção de leite. Durante todo o tempo, trocamos experiências com realidades diferentes de propriedades no Brasil e de outros países", conta Cíntia Santos, que é médica veterinária e filha do associado da Cooperativa Agropecuária de Abaeté (Cooperabaeté) Ricardo Santos. A participante dividiu quarto com a produtora Jhenifer Nascimento, que vive a mais de 1000 km distância dela, em Castro (PR). Associada da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial, ela participa do grupo de jovens da organização e vive a realidade da produção familiar. "Vou apresentar as informações que aprendi no encontro para o comitê da cooperativa e levar ideias que possam ajudar a todos os produtores a ampliar os seus negócios", explica Jhenifer Nascimento.
O segundo dia do evento teve uma programação de palestras e dinâmicas de grupo. O presidente da Fepale, Bernardo Macaya, proferiu a palestra de abertura sobre o futuro do mercado internacional de lácteos. Ele apresentou dados desafiadores para os jovens presentes na plateia. A perspectiva para o ano de 2050 é de que a população do planeta será de 9 bilhões de pessoas. Até lá, a América Latina reunirá mais condições para a produção de leite em maior escala com menos animais e menor espaço de terra.
Macaya apresentou dados relevantes sobre o continente, a expansão da atividade leiteira e a maior exigência dos consumidores da matéria-prima, que implica na formalização de legislações cada vez mais rígidas, controle do bem estar do rebanho e busca por produções que levem em consideração conceitos como a sustentabilidade e a automatização da produção.
As oportunidades da América da Latina neste processo de mudanças são muitas, na opinião do presidente da Fepale. "Somos privilegiados em relação a outras regiões e por isso fomos chamados de dispensa global pelo Banco Interamericano do Comércio (BID). Temos disponibilidade de água, oportunidades de aumento de produtividade e competitividade nos custos de produção. Além disso, o leite é insubstituível na nutrição humana, não há obstáculos para seguir na atividade", analisa Macaya.
O pesquisador do Centro de Investigação em Alimentação e Desenvolvimento (CIAD) Aaron Gonzalez apresentou as evidências científicas que comprovam as vantagens do consumo de leite e derivados. "O leite é um alimento essencial desde o nascimento dos mamíferos e exerce benefícios para a nossa saúde. Os produtos derivados são considerados de alto valor biológico e por isso, revertem positivamente a credibilidade frente aos mitos gerados contra o seu consumo", avalia o pesquisador, que citou artigos de universidades renomadas e o papel das redes sociais no processo de formação de opinião dos consumidores.
O chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins, conduziu o debate sobre sucessão familiar a partir das palestras proferidas pelo pesquisador da mesma instituição Fábio Diniz, que trouxe exemplos de propriedades mineiras e contextualizou os principais conceitos que permeiam o tema como a diferença de gerações e a necessidade de diálogo entre sucessor e sucedido, e também pelo consultor Lucildo Ahlert, que desenvolve um trabalho de orientação com jovens em duas cooperativas no Rio Grande do Sul.
Os dois palestrantes convergem na ideia de que a sucessão é a transferência de todo valor e cultura que a família construiu ao longo das gerações. Para que haja harmonia neste momento, os dois lados da sucessão devem se planejar e abrir horizontes para os negócios da próxima geração.
O representante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura Hernan Chiriboga (IICA) e o presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Cotrial), Vicente Nogueira, discutiram sobre papel dos jovens na cadeia produtiva do leite e a participação em organizações coletivas. "Na condição de presidente de uma cooperativa e na experiência de alguém que começou cedo na atividade leiteira, a minha recomendação é a de que todos participem ativamente de suas cooperativas. Trabalhar em algo coletivo que modifica a sua realidade e de outras famílias, tem um gosto muito especial", diz Nogueira.
No terceiro dia de evento, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e coordenador do Projeto Balde Cheio, Artur Chinelato, proferiu a palestra "Empreender na produção de leite" e o produtor Nivaldo Michetti, deu o seu depoimento sobre o orgulho em ser produtor de leite.
O papel dos jovens
O chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins, avaliou o engajamento dos jovens durante o evento e o comprometimento com a proposta da sucessão familiar em suas propriedades. "Vimos os participantes bastante concentrados, anotando o que era dito, sem dispersão. Os jovens do leite são bastante comprometidos e para a Embrapa, que se renova constantemente e vislumbra o futuro, é importante mostrar que estamos construindo juntos um novo mundo para o leite", reflete.
Do ponto de vista do cooperativismo, o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, avalia como positiva a associação de produtores jovens às cooperativas de todo continente. "O encontro foi uma grande oportunidade para conhecer quem são os atuais jovens cooperativistas, o que eles pensam e como encaram os processos de desenvolvimento do setor onde estão inseridos", analisa.
Troca de experiências
Durante o evento, cinco jovens provenientes da Argentina, do Brasil, da Guatemala, do Panamá e do Uruguai apresentaram suas realidades como líderes em suas cooperativas e associações e também como produtores de leite. O representante brasileiro foi o associado da Cooperativa Agropecuária de Araxá (Capal) Jean Vítor Ribeiro.
"Sempre tive paixão pelo campo, mas não tenho tradição na família. Comecei o meu projeto de produzir leite aos 13 anos. Aos 18 anos, já tirava 80 litros por dia com oito vacas em lactação. Hoje tenho 25 anos, tenho a produção de 820 litros, com 36 vacas em lactação. Minha perspectiva é de produzir 2500 litros até 2019", explica o palestrante, que já ocupa a presidência do Núcleo de Jovens Cooperativistas e é membro do Conselho de Administração da Capal.
Próximo encontro
O 3º Encontro Pan-americano de Jovens Produtores de Leite será realizado em 2017, no Equador, país da participante Yomaria León, que é filha de produtores de leite e funcionária do Ministério da Agricultura e Pecuária daquele país. "O evento foi realmente muito importante para mim porque aprendi muito em apenas três dias. O encontro também tem a função de fomentar o consumo de lácteos e a produção leiteira em nível mundial, não somente na América Latina. Que venha o próximo", diz a jovem com bastante entusiasmo.