Com mais de 85 mil inscritos no YouTube e 197 mil seguidores no Instagram, o canal "Avós da razão" chegou para dar vez e voz à melhor idade. Nele, três amigas que se conhecem há mais de 50 anos (Gilda, de 79 anos, Sonia de 84, e Helena, de 93) respondem a perguntas e dão conselhos e opiniões sobre os mais diversos assuntos, sem nenhum tabu e com muito bom humor.
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Taxa de desemprego cai e chega a 9,1%, diz IBGECaged: Brasil criou mais de 218 mil empregos formais em julhoAcessa BH defende a inclusão e destaca a arte de pessoas com deficiênciaGlória Groove comemora 20 anos de carreira na música Influenciadores digitais faturam mais de US$ 100 bilhões por anoEM Entrevista recebe Bia Granja, especialista em influência digitalEm conversa com o Estado de Minas, Gilda e Sonia, que têm comandado atualmente a publicação de conteúdos, contaram que estão muito animadas em voltar a BH, principalmente a trabalho. As duas continuam na ativa com o projeto, mas Helena não tem participado mais dos vídeos por motivos de saúde.
De início, o projeto era algo despretensioso e elas não tinham ideia do que fazer. "Agora, a gente sabe o valor que a gente tem. Todos os seguidores que estão contando pra gente como mudaram com o nosso exemplo", conta Sonia. "No começo, a gente achou que era só uma página no YouTube, assim, que todo mundo fazia. A gente não usava para falar com tanta intimidade. Mas, hoje, a gente vê como tem uma penetração incrível. Chega em lugares que a gente nem imagina", comenta Gilda.
Durante os períodos mais críticos da pandemia, o "Avós da razão" movimentou a vida de Sonia, Gilda, Helena e da equipe envolvida no projeto. "Mesmo cada uma na sua casa, foi uma ocupação fantástica. A gente foi entrando, devagarinho, nesse nicho da internet", afirma Gilda.
Negócio, distração e inspiração
Para elas, o "Avós da razão" é "tudo". "É uma atividade completa: um negócio, uma distração, uma inspiração. A gente se sente muito completa ao completar a vida de outras pessoas. É o que nós queríamos: influenciar beneficamente a vida das outras pessoas, de um jeito leve", afirmam.
A ideia de criar o canal no YouTube surgiu em 2018 com a Cássia, que também faz parte do grupinho e trabalha com audiovisual. A amiga observava as conversas do grupo e, pelo "jeitão" delas, elas poderiam influenciar outras pessoas mais velhas a "tomar uma atitude mais jovem e usufruir mais da vida", como definiu Sonia.
A ideia do nome do canal também veio de Cássia. "É um bom trocadilho", comemora Gilda. Todas elas são avós. Inclusive, Sonia é bisavó de um menino de 18 anos.
O intuito do projeto era inspirar outros idosos a se movimentarem. "Nossa intenção é colocar o mais velho na internet e o retorno tem sido fantástico", afirma Gilda. "O velho está começando a ficar mais íntimo. Então, eles estão entrando muito nas redes", completa Sônia.
"Mudei a minha forma de ver a vida"
Apesar do projeto ter sido abraçado por jovens logo de primeira, elas contam que o público mais velho está sendo a maior parte de seus seguidores. "Está incrível como aumentaram as pessoas da nossa idade que nos seguem e mandam mensagem como: 'Depois que eu te conheci, eu mudei a minha forma de ver a vida, mudei o meu estilo'. Mas, os jovens ainda continuam. Graças a Deus, porque dá aquela renovada boa", disse Gilda, com bom humor.
Elas também são reconhecidas fora das redes sociais, principalmente em barzinhos, que são seus lugares favoritos. "O boteco é nosso negócio. As pessoas vêm e tiram fotos. Quando a gente fez a tatuagem então. Conheceram a gente de longe".
A questão financeira foi um fator que acrescentou no projeto, principalmente com as ‘publis’. "Vai caindo um dinheirinho que é muito bem-vindo. Mas é tudo muito muito puxado", comenta Gilda.
O "Avós da razão" se tornou um trabalho para elas, além de um hobbie. "Encontrar um emprego na nossa idade, no nosso país. A gente é quase um fenômeno", completa.
Comunidade LGBTQIAP+
As vovós têm uma relação próxima com a comunidade LGBTQIAP. Muitos seguidores perguntam o que têm vergonha de falar com os pais ou os familiares. "As vovós sempre falam o que a gente acha que deve ser feito. E, às vezes, vem um retorno que é muito agradável", conta Gilda. "É um público muito bem-vindo", afirma Sonia.
Amigas há 50 anos
"Sempre nos encontramos em boteco, para tomar uma cervejinha, jogar conversa fora. Sempre foi assim, a vida inteira", comenta Sonia. Elas se conheceram há mais de 50 anos, por meio de colegas em comum. "Eu nem era casada", conta Gilda. "Teve uma época que a Sonia foi morar numa parte rural, mas a gente tava sempre tava sabendo uma da outra e marcava encontro no boteco".
"Cada vez que a gente se reencontra, para que foi ontem que a gente deixou de se ver", completa Sonia. Mesmo tendo gostos diferentes e particulares, o assunto nunca morre entre as amigas. "Sempre tem novidade pra contar. Até que gente se encontra muito", diz Gilda. Essa "conversação" é até um "problema" durante as gravações, já que as vovós ficam colocando o papo em dia e demoram a se concentrar no trabalho.