Jornal Estado de Minas

MEDICINA DO FUTURO

Novo coronavírus: a ciência em busca de respostas


Em meio à urgência de encontrar a cura, o tratamento adequado ou mesmo uma forma de imunização contra a COVID-19, que já provocou a morte de milhares de pessoas, pesquisadores e cientistas no Brasil e no mundo se debruçam em busca de respostas.




Estudos
vêm sendo desenvolvidos, muitos com base em tratamentos já utilizados no combate a outras doenças, a fim de conter a ação do novo coronavírus.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 130 estudos sobre vacinas estão em desenvolvimento em todo o mundo. Em Minas, começam na próxima segunda-feira (dia 13) as inscrições para os interessados em participar de testes da fase 3 da CoronaVac, vacina contra o novo coronavírus, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech.

Os testes devem começar no próximo dia 20. O processo ficará a cargo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos (CPDF) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB UFMG), sob orientação do Instituto Butantan, de São Paulo.

Além de trabalhar diretamente com pacientes infectados com a COVID-19, os interessados precisam preencher outros requisitos, como ter mais de 18 anos, não ter infecção prévia pela doença, não participar de outros estudos, não estar grávida ou pretender engravidar nos próximos meses, não ter outras doenças ou outras alterações que impeçam a vacinação.



“O teste com esse público, que está o tempo todo em contato com o vírus, vai permitir que os resultados sejam mais rápidos”, explica o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.

Cerca de 9 mil voluntários vão participar dos testes. Em Minas, serão selecionados 800 candidatos. Parte do grupo receberá o antígeno e outro, placebo. A expectativa, segundo Covas, é de que esse processo seja feito até outubro deste ano. O Instituto Butantan tem capacidade para produzir 100 milhões de doses da vacina.

Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica da instituição, pontua que os resultados iniciais da pesquisa são promissores. “A Sinovac conseguiu adaptar muito rapidamente todo o aprendizado para fazer a vacina e modificar para o novo coronavírus. Ela consiste em partículas inativadas do vírus causador da COVID-19 adsorvidas em um adjuvante chamado hidróxido de alumínio. Por ser vírus inativado, é uma vacina muito segura. Uma vez que esse vírus inativado é injetado no organismo, a pessoa gera anticorpos contra as proteínas desse vírus, assim, quando chegar o verdadeiro vírus, a pessoa vacinada já terá anticorpos para neutralizá-lo, não causando a doença”, explica.

Palacios destaca, ainda, a importância de que todas as pesquisas direcionados ao combate do novo coronavírus sejam embasadas cientificamente e sem qualquer interesse, a fim de proteger a população da COVID-19.



“Para um vírus não há nacionalidades, ideologias ou matizes políticas. Todos somos potencialmente suscetíveis à contaminação, independentemente do que acreditamos ou não. Portanto, gostaríamos de ver a ciência embasando cada vez mais as decisões, antes de qualquer outro tipo de interesse e/ou motivação. O alinhamento de discurso entre as diferentes esferas desde o nível mundial até o nível local ajudaria muito em orientação à população”, pontua.
 
 
Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, defende a importância de que todas as pesquisas sejam embasadas cientificamente e sem qualquer interesse (foto: Instituto Butantan/divulgação)
 
 

NOVA FRENTE 


Outra esperança vem da parceria anunciada no fim de junho pelo Ministério da Saúde para desenvolvimento e acesso à vacina para COVID-19. A ideia é importar a tecnologia que vem sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório inglês AstraZeneca e replicá-la nacionalmente pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). E, segundo o Ministério da Saúde, pode garantir a oferta de pelo menos 100 milhões de doses da vacina no Brasil a partir de dezembro.

O acordo prevê investimento de US$ 127 milhões do Brasil no desenvolvimento da vacina e vai permitir que a tecnologia de produção e envase dessa vacina seja transferida para o país. A expectativa é que, na primeira fase, o Brasil tenha 30,4 milhões de doses da vacina, sendo 15,2 milhões em dezembro e mais 15,2 milhões em janeiro de 2021.



Essas doses seriam oferecidas prioritariamente à população de risco. Ou seja, aos idosos, às pessoas com comorbidades, aos profissionais de saúde e aos profissionais de segurança. Depois disso, seria ampliada a transferência de tecnologia e o Brasil poderia produzir mais 70 milhões de doses da vacina.

USO DE PLASMA 


Estudos estão sendo desenvolvidos também na busca da cura de pacientes já infectados. A Mayo Clinic analisa o uso de plasma convalescente para tratar pessoas contaminados pelo Sars-Cov-2.

O método consiste em coletar amostras de sangue de pessoas já curadas para que seja usado no tratamento de pacientes em quadro grave de COVID-19, o que já foi feito anteriormente, com sucesso, no tratamento da febre hemorrágica argentina.





No entanto, Michael Joyner, coordenador da pesquisa, pontua que os resultados mais promissores quanto à testagem do procedimento se deu com a introdução desse tipo de tratamento ainda nos primeiros dias de internação do paciente.

“O plasma deve ser usado antes do paciente ir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e administrado em uma dose de 300 mililitros, assim que os pacientes forem admitidos no hospital, junto com corticoide. Ainda não há comprovação de efetividade, por isso estamos trabalhando em conjunto com especialistas em estatísticas e com o governo para que, assim, os resultados possam ser analisados com cuidado.”

Esse tipo de parceria, segundo Joyner, é o que se assemelha a uma partida de futebol, na qual todos os lances precisam ser decididos por meio do apito do juiz. Isso porque, para que esse tipo de tratamento seja aprovado e comprovado como eficaz, os especialistas em estatísticas, responsáveis pela observação precisa dos dados, serão os chamados juízes, e darão o veredito final.





“Estamos muito felizes com os resultados até aqui encontrados, sem nenhum efeito colateral considerável, e em breve publicaremos um novo estudo, junto com o governo dos Estados Unidos, no qual apresentaremos os resultados atualizados”, diz.

Além disso, uma pesquisa, também feita pela Mayo Clinic, apontou que a administração de gorduras insaturadas tende a causar todo o espectro de agravamento do quadro clínico de pacientes infectados pelo Sars-Cov-2, incluindo choque, insuficiência renal, lesão linfocitária, baixa contagem de plaquetas e leucócitos, e baixo nível sérico de cálcio e albumina.

“Portanto, o resultado deste estudo mostra uma terapia de apoio de baixo risco e baixo custo, que pode ser administrada por um clínico geral e não requer um especialista. A única linha para COVID-19 é: mantenha o cálcio e a albumina séricos normais desde o início da doença. Não deixe eles caírem. Depois que a insuficiência de órgãos ocorre, a correção de um baixo teor de cálcio ou albumina pode não ajudar”, explica Vijay Singh, gastroenterologista da Mayo Clinic.





Para Joyner, o Brasil, como um dos líderes do controle do vírus da aids, obtendo resultados, como dito por ele “fantásticos”, deveria investir e, com a infraestrutura existente no país, realizar estudos e pesquisas, bem como auxiliar e oferecer suporte aos demais métodos testados no mundo.


RESPIRADORES 


É o que tem feito a Divisão de Inovação e Qualidade do Instituto Mauá de Tecnologia, de São Paulo. De acordo com o chefe do departamento, Claudio Foltran Rodrigues, o projeto desenvolvido pela instituição consiste na elaboração e testagem de ventiladores mecânicos a fim de serem usados no controle dos sintomas causados pela COVID-19.

“O respirador foi desenvolvido com o acompanhamento de médicos com comprovada experiência em terapia intensiva e atendimento de pacientes infectados pelo Sars-Cov-2. Entre os principais pontos de controle, temos volume de ar fornecido ao paciente, frequência respiratória, pressão Peep, fração de oxigênio ofertado ao paciente, entre outros”, elucida.

Para que o projeto continue em ação e forneça esse tipo de ajuda ao tratamento de pacientes em casos graves da doença, ainda é aguardada a validação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto ao uso do ventilador. O processo já está em andamento.

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram




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