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Estado de Minas História

Minas Gerais: estado de tradições fortes e economia crescente

Das escavações que revelaram nossa mais antiga ancestral à mineração que batizou o território, estado se consolidou como terceira economia do país


Minas 300 Anos
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Minas 300 Anos
postado em 02/12/2020 09:22 / atualizado em 02/12/2020 11:24

Aos excessos da exploração por parte da Coroa portuguesa, vieram como resposta a Sedição de Vila Rica (1720) e a Inconfidência Mineira (1788-1789)(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Aos excessos da exploração por parte da Coroa portuguesa, vieram como resposta a Sedição de Vila Rica (1720) e a Inconfidência Mineira (1788-1789) (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 
Nos primórdios, há cerca de 11 mil anos, eram Luzia e seu bando os habitantes da região de Lagoa Santa. Depois dos primeiros humanos de que se tem notícia a vagar por estas terras, vieram outros povos e dominaram, por milênios, as montanhas, os campos, as matas e os cursos d'água, entre eles o São Francisco, chamado Opará, “rio-mar” na língua dos indígenas. Só no fim do século 17 entram em cena os homens brancos, na figura dos bandeirantes vindos de São Paulo em busca do ouro e de pedras preciosas, e a crescente cobiça para fazer a glória da Coroa portuguesa e a riqueza dos mineradores. Para isso, são escravizados indígenas e depois os africanos.

É aí que começam a brotar as demarcações, os limites, as divisas correndo montanhas, a história oficial de Minas Gerais: estado de alma profunda, corpo fechado em tradições, memória viva além dos séculos. Se o Ciclo do Ouro gerou conflitos e sofrimento, fez também o esplendor do barroco presente nas igrejas, capelas e espaços a céu aberto, marcando a história com o nome de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), patrono das artes no Brasil.

A Igreja Nossa Senhora de Nazaré, onde o líder da Sedição de Vila Rica, Filipe dos Santos, foi preso antes de ser levado para a morte.(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
A Igreja Nossa Senhora de Nazaré, onde o líder da Sedição de Vila Rica, Filipe dos Santos, foi preso antes de ser levado para a morte. (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
 
No detalhe, o F gravado em pedra marca o local, segundo a tradição.(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
No detalhe, o F gravado em pedra marca o local, segundo a tradição. (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
 

Neste 2 de dezembro, na celebração dos 300 anos da Capitania de Minas, com a delimitação do território, da organização administrativa e das questões jurídicas, é preciso voltar os olhos ao passado, a fim de se entender melhor o presente e ter condições de vislumbrar o futuro. “Minas tem acontecimentos muito fortes, com riqueza na pré-história e mais ainda nos tempos da corrida do ouro, que, infelizmente, dizimou índios e escravizou os negros”, pontua a arqueóloga Rosângela Albano Silva, coordenadora do Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire (Caale), em Lagoa Santa. Ela destaca que Luzia, encontrada na região pela arqueóloga russa que dá nome à entidade, é o fóssil humano mais antigo com datação no Brasil.

Da antecessora mais antiga até hoje conhecida até o posto de terceira economia do país, em 2020, com 21 milhões de habitantes distribuídos em 853 municípios, há uma movimentada, diversa e corajosa linha do tempo pavimentada em política, economia, cultura, educação, patrimônio, avanço tecnológico e de demais setores da sociedade. Minas passou de uma terra em convulsão, em decorrência da descoberta do ouro – que, inclusive, culminou na Guerra dos Emboabas (1707-1709), aos fatos mais importantes do século 20, como o protagonismo na política no período republicano.

Aos excessos da exploração por parte da Coroa portuguesa, vieram como resposta a Sedição de Vila Rica (1720) e a Inconfidência Mineira (1788-1789). Em reação a períodos turbulentos da história nacional, houve o Manifesto dos Mineiros (1943) e a eleição do primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura, reafirmando a frase de Tancredo Neves (1910-1985): “O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”.

No princípio, era Luzia: no Museu da PUC, a reconstituição da face da primeira mineira (e brasileira) de que se tem notícia, de 11 mil anos(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS %u2013 4/9/18)
No princípio, era Luzia: no Museu da PUC, a reconstituição da face da primeira mineira (e brasileira) de que se tem notícia, de 11 mil anos (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS %u2013 4/9/18)

Homenagem


Para marcar o tricentenário de Minas, o governador Romeu Zema preside solenidade comemorativa hoje, às 18h30, no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, também promove nesta quarta cerimônia cívico-cultural. Cenário inicial da Guerra dos Emboabas, a cidade vai homenagear, em 2020, os profissionais da área de saúde, considerados os grandes heróis na luta para salvar vidas enquanto o estado enfrenta a pandemia do novo coronavírus.

Sentimento nativista e sonhos de liberdade


“Vale destacar que somente a partir da Sedição de Vila Rica surgiu gradualmente o sentimento nativista, de pertencimento à terra. Com as novas gerações, e muitos estudando em Portugal, isso se fortalece”, destaca o professor de história Alex Bohrer, do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), em Ouro Preto, na Região Central do estado.

No adro da Igreja Nossa Senhora de Nazaré, no distrito de Cachoeira do Campo, Bohrer mostra o local exato onde, segundo conta a tradição popular, o líder da Sedição, Filipe dos Santos (1680-1720), teria sido preso antes de ser levado para a morte em Vila Rica, hoje Ouro Preto. “Na pedra, está marcado um F, na grafia do século 18”, observa o professor, também autor dos livros Ouro Preto, um novo olhar e o recém lançado O discurso da imagem e Ouro Preto.

Até o início do século 18, Minas fazia parte da Capitania do Rio de Janeiro. Em 1709, se juntou com São Paulo. Ganhou autonomia política e administrativa em 1720. De capitania, tornou-se província imperial em 1820, com fatos marcantes com a Revolução de 1842, opondo as tropas liberais, comandadas pelo mineiro Teófilo Otoni, e o Exército, tendo à frente o então Barão de Caxias. Com a Proclamação da República (1889), se torna estado, ganhando, em 1897, a primeira capital planejada do Brasil: Belo Horizonte.

Certidão


Minas ainda tem muito para descobrir sobre sua história, acreditam os especialistas. O promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, associado do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), lembra a importância da carta régia de 21 de fevereiro de 1720, com a decisão da Coroa portuguesa de criar a Capitania de Minas, uma vez que desde 1709 vigorava a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em decorrência da Guerra dos Emboabas. O documento, que traz a assinatura do rei dom João V (1690-1750), está preservado no acervo da Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa.

“Pode ser considerada a certidão de Minas. Em 2 de dezembro de 1720, veio o ‘batismo’, por meio do alvará régio especificando a delimitação do território, a organização administrativa e questões jurídicas”, afirma Marcos Paulo. O IHGMG, que organizou programação especial para as celebrações do tricentenário de Minas, encerra as atividades especiais no próximo dia 16, lançando o livro Minas Gerais 300 anos, com contribuições de diversos especialistas que, ao longo de 2020, apresentaram temas relacionados à história de Minas Gerais.

“Muitos dos documentos sobre nossa história, a exemplo da carta régia de dom João V e do alvará de 2 de dezembro de 1720, se encontram em arquivos, bibliotecas e outras instituições de Portugal”, conta Souza Miranda, pesquisador contumaz de documentos no país europeu e autor de livros com base nos estudos além mar, entre eles O Aleijadinho revelado: Estudos históricos sobre Antonio Francisco Lisboa.

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