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Estado de Minas Um estado que transpira cultura

Um passeio pela história da arte em Minas ao longo dos seus 300 anos

Músicos, cantores, artistas plásticos, escritores e bailarinos definem o que entendem como sendo a essência de um estado com suas mais diversas manifestações


Minas 300 Anos
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Minas 300 Anos
postado em 02/12/2020 10:35 / atualizado em 02/12/2020 12:24

Pintura do forro da Igreja São Francisco, no Centro Histórico de Ouro Preto: obra deslumbrante de Mestre Ataíde é um dos expoentes da história da arte mineira(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Pintura do forro da Igreja São Francisco, no Centro Histórico de Ouro Preto: obra deslumbrante de Mestre Ataíde é um dos expoentes da história da arte mineira (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)

 
O gesto, a palavra e a harmonia se encontram com as cores, os sabores, a emoção da voz e a força das mãos. Depois seguem juntos, abrem caminhos por entre versos, telas, músicas, palcos e temperos para se fundir sob o calor da história e dar à luz a alma de Minas.

De onde vem esse espírito de liberdade, essa paleta de tons, essa arte genuína que atravessa os séculos e se renova no talento de escritores, pintores, escultores, atores, músicos e artistas das cozinhas?

Com a palavra, os mestres e mestras em seus ofícios, gente que traz a essência impregnada de arte e constrói a ponte entre a cultura, os mineiros de todo o Brasil e a história tricentenária das Gerais.

Nascido na capital mineira e com uma carreira consagrada em cinco décadas, o instrumentista e compositor Toninho Horta foi o ganhador, em 19 de novembro, do Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB em Língua Portuguesa – o nome do trabalho, Belo Horizonte, foi feito na companhia, ele ressalta, da Orquestra Fantasma. Duplamente merecedor de parabéns, pela premiação e pelo aniversário hoje, 2 de dezembro, o integrante do Clube da Esquina entende tanto do seu ofício como da essência das Gerais: “Somos a mistura de pedra, luz, água, natureza, Deus, religiosidade. Minas tem esse nome que começa com M, que é o desenho das montanhas”.

Musical e poeta o tempo todo, Toninho busca no encontro das pedras preciosas com o rios a melhor imagem para explicar o movimento das melodias, a nascente das canções. “Das montanhas, temos os altos e os baixos, e o caminho das águas. A alma de Minas está nessa mistura, no Ciclo do Ouro, na herança dos europeus, negros e índios. Se há profundidade, há também elasticidade.” O compositor e instrumentista se vale de quatro palavras para resumir a identidade mineira: emoção, simplicidade, verdade e desconfiômetro. “Isso mesmo: nós, mineiros, temos um grande desconfiômetro.”

A música também permeia a vida do regente da Orquestra Ouro Preto, Rodrigo Toffolo, natural da ex-Vila Rica. Para o ouro-pretano, o estado é multifacetado, qualidade que se sente com os olhos e o coração. “Minas Gerais é plural no nome, então entendo a alma mineira como o encontro de todos os ofícios ligados à arte”, interpreta o maestro, para quem a celebração dos 300 anos da Capitania de Minas é importante para destacar nomes como o do conterrâneo João de Deus de Castro Lobo (1797-1832), pertencente à Escola Mineira de Compositores. Vale destacar, acrescenta, que Ouro Preto tem o teatro mais antigo em funcionamento nas Américas, a Casa da Ópera.

Exuberância do interior da Matriz de Nossa Senhora do Pilar une o talento dos artistas barrocos à riqueza extraída das terras de Minas(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Exuberância do interior da Matriz de Nossa Senhora do Pilar une o talento dos artistas barrocos à riqueza extraída das terras de Minas (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)

Toffolo faz questão de ressaltar a genialidade do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), de Ouro Preto, patrono das artes no país, e do pintor Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde (1762-1830), nascido em Mariana e imortalizado em obras deslumbrantes, uma delas a pintura do forro da Igreja São Francisco, no Centro Histórico de Ouro Preto.

Todos os tons da musicalidade 


Já a cantora lírica Eliseth Gomes encontra a essência das Gerais “nos negros que vieram sem pátria e foram se misturando aos brancos, gerando os mestiços e trazendo a musicalidade para o Brasil”. Para a belo-horizontina que tem várias óperas no currículo, a exemplo de Aída, “do ventre da África vieram a música e o talento, que depois cresceram”.

Caçula de uma família de 12 irmãos, Eliseth começou os estudos aos 15 anos, no Palácio das Artes/Fundação Clóvis Salgado, em Belo Horizonte. Ela conta que os pais sempre fizeram questão de que os filhos estudassem música: “Lembro-me de que, bem criança, ficava louca para ir com minhas irmãs às aulas. Como não podia ainda, chorava muito”.

Eliseth participou de corais, conheceu o canto folclórico, se apaixonou pelo samba e sentiu o caldeirão de ritmos pulsando nas veias.Uma parte da sua trajetória traz ainda mais emoção: a participação no espetáculo Missa dos quilombos, com Milton Nascimento, registrado em álbum antológico. “Nós nos apresentamos em Portugal, Espanha, Recife e, finalmente, no Palácio das Artes, em BH”, recorda.

Garimpo na história das Gerais 


SÉCULO 18

1720 – Em 21 de fevereiro, documento assinado pelo rei de Portugal, dom João V, cria a Capitania de Minas. Desde 1709, vigorava a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro.
1720 – Em junho, ocorre a Sedição de Vila Rica, cujo protagonista, Filipe dos Santos (1680-1720), se revolta contra a cobrança de impostos pela Coroa portuguesa.
1720 – Em 2 de dezembro, alvará assinado por dom João V específica a delimitação do território da Capitania de Minas, sua organização administrativa e as questões jurídicas.
1745 – Mariana se torna a primeira cidade de Minas com a chegada do bispo dom Frei Manuel da Cruz, vindo do Maranhão.
1770 – Em 6 de junho, é inaugurada a Casa da Ópera, hoje Teatro Municipal de Ouro Preto, o mais antigo em funcionamento nas Américas.
1788/1789 – Ocorre a Inconfidência Mineira, movimento contra a cobrança do quinto do ouro pela Coroa portuguesa, tendo como expoente Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792).

SÉCULO 19

1812 – Em 12 de dezembro, a fábrica Patriótica, em Ouro Preto, se torna a primeira siderúrgica do país a produzir ferro fundido em escala Industrial.
(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS - 17/2/20)
(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS - 17/2/20)

1820 – Fundação do Colégio Caraça, um dos primeiros de Minas.
1821 – Em 28 de fevereiro, Minas se tornou província, a qual viria a ser o atual estado com a Proclamação da República (1889).
1835 – Considerado o “pai da paleontologia brasileira”, o dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880) fixa residência em Lagoa Santa, onde fez as primeiras descobertas de fósseis três anos antes.
1842 – Em 20 de agosto, termina a Revolução Liberal, com a Batalha de Santa Luzia, entre as tropas imperiais, comandadas pelo Duque de Caxias, e as forças chefiadas por Teófilo Otoni.
1869 – Inaugurada pelo imperador dom Pedro II (1825-1891), em Chiador, na Zona da Mata, a primeira estação ferroviária de Minas.
1876 – Em 12 de outubro, é fundada a Escola de Minas de Ouro Preto, que quase um século depois, junto com a também centenária Escola de Farmácia, é integrada à então criada (1969) Universidade Federal de Ouro Preto.
1897 – Em 12 de dezembro, instala-se a nova capital do estado, com o nome de Cidade de Minas. Quatro anos depois, passa a se chamar Belo Horizonte.
1902 – Nasce em Itabira, na Região Central de Minas, o poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade, considerado um dos maiores escritores do Brasil.
1915 – Fundação do Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o primeiro de Minas, por obra do mecenas Alfredo Ferreira Lage.
1920 – Em 2 de outubro, chegam a Belo Horizonte os reis da Bélgica, Alberto e Elisabeth. O principal fruto da visita foi a criação da Companhia Belgo-Mineira, no ano seguinte.
1927 – Em 7 de setembro, é criada a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), uma das mais importantes do país, com foco em ensino, pesquisa e extensão.
1930 – Em 3 de outubro, Getúlio Vargas dá um golpe e toma o poder no Brasil. Na capital mineira, começa o conflito entre as forças públicas e o Exército, em episódio da Revolução de 1930.
1932 – As mulheres conquistam o direito ao voto, e Minas é o primeiro estado na concessão desse direito.
1942 – Em 8 de agosto, centenas de pessoas fazem manifestação em BH contra o ataque aos navios brasileiros pelos nazistas.

(foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS - 11/6/18 )
(foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS - 11/6/18 )

1943 – Inaugurado o conjunto arquitetônico da Pampulha, em BH, obra do arquiteto Oscar Niemeyer, quando Juscelino Kubitschek era prefeito. Foi declarado patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
1943 – Em 24 de outubro, é divulgado o Manifesto dos Mineiros, o primeiro brado a favor da democracia e contra o Estado Novo, regime autoritário comandado por Getúlio Vargas de 1937 a 1945, e contra a Lei de Segurança Nacional.

(foto: EUGÊNIO SILVA/O CRUZEIRO/ARQUIVO ESTADO DE MINAS - 31/1/51)
(foto: EUGÊNIO SILVA/O CRUZEIRO/ARQUIVO ESTADO DE MINAS - 31/1/51)

1951 – No dia da posse como governador de Minas (cargo que ocupou até 31 de março de 1955), Juscelino Kubitschek desfila em carro aberto na Praça da Liberdade, em BH.
1955 – Em 8 de novembro, os Diários Associados anunciam a inauguração da TV Itacolomi. BH passa a ser incluída no rol das poucas cidades da América do Sul com seu veículo televisivo.
1956 – O escritor João Guimarães Rosa lança o livro Grande sertão: veredas, que é traduzido para vários idiomas e narra a saga dos jagunços Riobaldo e Diadorim.
1958 – Fundação da Escola Técnica de Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul do estado. O lugar ficou conhecido como Vale da Eletrônica em alusão ao Vale do Silício, nos Estados Unidos.
1960 – Em 31 de julho, multidão participa da consagração de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas, na Praça da Liberdade, em BH.
1963 – Depois de mais de um século, chega ao fim a disputa pelo Contestado, área entre Minas e o Espírito Santo. Foi assinado um acordo entre os governadores Magalhães Pinto (MG) e Lacerda de Aguiar (ES).
1964 – Movimento militar, que partiu de Minas, marca o início da ditadura militar, que só terminaria em 1985. A marcha partiu de Juiz de Fora, na Zona da Mata, rumo ao Rio de Janeiro.
1965 – Inaugurado o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, em BH, com partida entre a Seleção Mineira e o River Plate, da Argentina.
1973 – Em 14 de março, a Fiat Automóveis dá o primeiro passo para se instalar em Betim, na Grande BH. No Palácio da Liberdade, em BH, é assinado acordo de comunhão de interesses entre a empresa e o governo de Minas.
1975 – Encontrado na Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo com datação no Brasil. Em 2 de setembro de 2018, ele seria atingido pelo incêndio no Museu Nacional, no Rio.
1980 – Na primeira visita de um sumo pontífice ao Brasil, João Paulo II celebra missa campal, em 1º de julho, no espaço hoje conhecido como Praça do Papa, na Região Centro-Sul de BH.
1980 – A morte violenta de mulheres leva à criação, em agosto, do movimento feminista Quem Ama Não Mata, para denunciar os crimes. É um dos mais antigos do país e continua bravamente em ação.
1980 – Em 5 de setembro, Ouro Preto é reconhecida como patrimônio da humanidade, sendo o primeiro sítio histórico no país com a chancela da Unesco.
1985 – Em 21 de abril, morre Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito após a ditadura. Foi velado no Palácio da Liberdade, onde a grade arrebentou devido à multidão que se comprimia às portas da então sede do governo. Houve gente pisoteada e sete mortos.

(foto: PEDRO GRAEFF/EM - 24/6/1997 )
(foto: PEDRO GRAEFF/EM - 24/6/1997 )

1997 – Em 24 de junho, o cabo-PM Valério dos Santos Oliveira, de 36 anos, foi assassinado com uma bala na cabeça em um canteiro lateral na Praça da Liberdade. Ele liderava passeata por melhores salários para os policiais.

SÉCULO 21

2002 – Em 30 de julho, morre o líder espírita Chico Xavier, nascido em 2 de abril de 1910 em Pedro Leopoldo, na Grande BH. Foi considerado, em votação popular, o brasileiro do século 20.
2002 – Em agosto, o modo de fazer o queijo artesanal da região do Serro se torna o primeiro bem registrado como patrimônio cultural imaterial de Minas, em trabalho do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
2003 – Em 12 de agosto, retornam a Minas, depois de mais de 50 anos desaparecidos, três anjos barrocos do Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia, na Grande BH, que iriam a leilão no Rio de Janeiro. O resgate inaugurou uma política específica para patrimônio no estado, pioneira no país.
2006 – Em 15 de junho, ocorre a cerimônia de beatificação de Padre Eustáquio, no Estádio do Mineirão, em BH. O religioso holandês trabalhou muitos anos no estado. Nhá Chica (em 2013) e Padre Victor (2015) também se tornaram beatos.

(foto: MARCELO SANT'ANNA/EM - 15/6/06 )
(foto: MARCELO SANT'ANNA/EM - 15/6/06 )

2008 – Em junho, o modo artesanal de fazer queijo de Minas, nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e da Serra do Salitre é inscrito no Livro de Registro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
2015 – Em 5 de novembro, o rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana, na Região Central de Minas, estarrece e comove o mundo. Além dos mortos, houve devastação em toda a Bacia do Rio Doce.
2019 – Em 25 de janeiro, em Brumadinho, na Grande BH, o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, faz 270 vítimas. Trata-se da maior tragédia humanitária na história do país.
2020 - Minas comemora os 300 anos em meio à pandemia do novo coronavírus, que leva a grandes mudanças no calendário oficial de celebrações.

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