Jornal Estado de Minas

Minas 300 anos

Economia do futuro: Minas abriga empresas referências em tecnologia


 
A indústria de Minas Gerais definiu ciclos de desenvolvimento do estado, partindo de diversas matérias-primas, até estruturar, no século 21, a inovadora cadeia produtiva de empresas de tecnologia de ponta, graças à proliferação de escolas técnicas e universidades. O segmento fabril, que inclui de itens da biotecnologia à eletrônica, desponta como garantia da autonomia do estado para a economia do futuro.





Com Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços) estimado em R$ 142,8 bilhões, segundo dados mais recentes, de 2018, compilados pelo Portal da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor responde por 26,5% da economia de Minas Gerais. A produção fabril mineira participa com 10,9% do que é produzido no Brasil.

construção (17%), extração de minerais metálicos (16,2%) e metalurgia (12,9%) são as principais atividades industriais no estado. Ainda segundo o portal, em 2019 havia mais de 61,4 mil indústrias em Minas, das quais parcela superior a 74% de microempresas. Em conjunto, elas empregavam 1,1 milhão de trabalhadores, 23,1% das vagas de emprego formal no estado.

O processo de diversificação da matriz econômica de Minas foi decisivo para a estruturação do parque fabril, lembra o secretário-adjunto da Secretaria de Estado Desenvolvimento Econômico (SEDE), Fernando Passalio. “Desde que a produção de ouro começou a cair, o estado passou a procurar outros atrativos. Inicialmente foi um caminho voltado para o agronegócio. No início do século 20, as primeiras siderúrgicas e o polo têxtil começaram a surgir”, explica.





Na década de 70, quando Minas passou a ter uma infraestrutura mais robusta, com extensa malha rodoviária, ocorreu uma explosão industrial, de acordo com Passalio. O principal marco dessa expansão foi a chegada da montadora italiana Fiat em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Com uma posição geográfica interessante para o mercado do ponto de vista logístico, nós começamos a ser mais atrativos para outras indústrias”, justifica o secretário-adjunto.

Hoje, o estado passa por nova era de diversificação econômica, na visão de Passalio. Minas abriga empresas especializadas em tecnologia de ponta. A biotecnologia e as indústrias da saúde, que formam um polo na Região Metropolitana de BH. São 159 startups e empresas de base tecnológica dos segmentos de ciências biológicas, saúde e alimentos no estado, que empregam mais de 9,2 mil pessoas, com base em dados da SEDE. A maioria delas, 97, estão concentradas no entorno da capital.

A quantidade e qualidade das instituições de ensino técnico e superior no estado, públicas e privadas, foram fundamentais para a expansão de segmentos de tecnologia de ponta, como a biotecnologia. “Quando se trabalha com excelência nos centros acadêmicos a biotecnologia se desenvolve. Nosso estado tem toda essa capacidade, um histórico”, afirma Edel Figueiredo Barbosa Stancioli, professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela acredita que um polo tecnológico próprio dá ao estado mais autonomia, além de impulsionar o progresso de todos os setores da economia.





Inovação aplicada


O desenvolvimento do polo tecnológico em BH se deve a um investimento de muitos anos por parte da UFMG para criar sistemas de inovação, de acordo com a professora. Edel Stancioli afirma que o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), localizado no câmpus principal da universidade, fundado em 2005, foi essencial nesse processo. “Trabalhamos com ideias que vêm da pesquisa,iniciação científica e pós-graduação.

Quando o material desenvolvido tem potencial tecnológico, fazem-se as incubadoras e começam as startups”, explica a professora. “Leva tempo, mas é um serviço que tem que ser feito para que o país avance”, conclui.

Além da estrutura de desenvolvimento de tecnologias, Minas também dispõe dos mecanismos para transformar a pesquisa em produtos para o mercado. Essa é a função da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), da UFMG. “Nós, pesquisadores, somos bons no que fazemos, mas precisamos de alguém para fazer a vinculação com a indústria”, diz Edel Stancioli. Entre os produtos desenvolvidos no polo tecnológico de BH estão medicamentos, produtos químicos, vacinas para humanos e animais, nanotecnologia e testes diagnósticos.





A empresa Safe Test, fundada em 2016, é uma das que desenvolvem esse tipo de teste, em parceria com pesquisadores da UFMG. “Começamos fazendo o licenciamento de tecnologia da universidade, um teste rápido de leishmaniose canina para colocar no mercado”, conta um dos sócios, Felipe Peixoto. “Porém, a gente viu que conseguiria desenvolver testes independentes, e viemos evoluindo ao longo do tempo.” A equipe também desenvolve testes de hanseníase e está em licenciamento para disponibilizar opção para o vírus HTLV. Hoje, a empresa tem oito funcionários e está trabalhando para passar a produzir os testes, e não apenas desenvolver.

A startup Safe Test desenvolve exames em parceria com a UFMG e se prepara para produzir testes para o vírus HTLV. (foto: SAFE TEST/DIVULGAÇÃO)

O empreendedor afirma que viu uma oportunidade de investimento em fazer a ponte entre a pesquisa e o mercado. “A gente veio conversando com pesquisadores da UFMG e viu esse potencial, que tem muito valor comercial: fazer esse link com o mercado”, afirma. Peixoto destaca a importância do incentivo para inovação em Minas, que é um centro de incubadoras e eventos do segmento.

Vale da eletrônica


Outro caso de sucesso da cooperação entre academia e mercado na indústria mineira é o chamado Vale da Eletrônica, polo de tecnologia centralizado na cidade de Santa Rita do Sapucaí, de 43 mil habitantes, no Sul do estado. O centro de produção de aparelhos eletrônicos como alarmes, sistemas de telecomunicação e informática reúne 161 indústrias, emprega 14,7 mil pessoas e teve faturamento de R$ 3,2 bilhões em 2018. Essas empresas reúnem 29% da mão de obra da indústria eletrônica mineira e detêm 15 mil produtos no mercado, em todo o Brasil e no exterior.





A base dessa indústria foram as instituições de ensino técnico fundadas na cidade, observa Roberto de Souza Pinto, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel). Em 1959, Luzia Rennó Moreira, conhecida como Sinhá Moreira,fundou na pequena cidade a primeira escola técnica de nível médio da América Latina, a Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa (ETE FMC).

Em 1965, foi a vez do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), e, em 1975, surgiu a Faculdade de Administração em Informática (FAI). Na década de 1980, os alunos dessas escolas começaram a fundar as indústrias na região, incubadas no ambiente de ensino.

“Foi feito assim, formando pessoas técnicas para o trabalho, para serem empreendedores. A base foi fabricar gente”, afirma Roberto de Souza Pinto.

O polo de eletrônica mineiro tem um valor “imensurável” por substituir produtos que o Brasil teria que importar, defende o presidente do Sindvel. “Abastecemos mais ou menos 70% dos equipamentos de segurança instalados pelo país. A maioria das casas brasileiras tem algum produto de Santa Rita instalado”, sustenta. Todo esse movimento gira as engrenagens da economia da cidade, desde o comércio e transporte aos restaurantes e o turismo.

Confira mais notícias sobre o especial Minas 300 anos. Uma parceria entre o banco Mercantil do Brasil e o jornal Estado de Minas.





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