Jornal Estado de Minas

O futuro em construção

Horizonte de oportunidades

Com uma riqueza histórica, cultural e natural, turismo e agricultura se tornaram os dois principais ativos para diminuir a dependência da mineração e diversificar a oferta a visitantes de Brumadinho para além de Inhotim, o maior museu a céu aberto da América Latina. 


 
As duas cadeias produtivas, aliadas uma à outra, têm potencial a ser explorado na busca de uma nova economia. As ações incluem um vasto programa de urbanização e requalificação de vias e acessos à cidade para incrementar e fazer “bombar” os turistas amantes do ecoturismo e do turismo de experiência.
 
O Plano de Desenvolvimento do Turismo Sustentável de Brumadinho inclui ações em Casa Branca e na Encosta da Serra, que congrega distritos e comunidades como Piedade do Paraopeba, Aranha e Palhanos. Conexão do Parque do Rola Moça com a Serra da Calçada numa estrada ecoturística e, no Córrego do Feijão, apoio à agricultura familiar, feirinhas, mercados, parques e artes são alguns dos pontos identificados para aumento do fluxo turístico.

Cultura de hortaliças em Mário Campos, onde aperfeiçoamento de técnicas e infraestrutura física norteiam as atividades de cultivo. (foto: Vale/divulgação)
 
As propostas de ações e intervenções estão incluídas num estudo de viabilidade que faz parte das discussões com as comunidades envolvidas. Atualmente, o tíquete médio de um turista em Brumadinho é de R$ 150, com permanência de um a dois dias. 


 
“Acredito que podemos aumentar esses e outros ativos turísticos. A região possui diversos recursos, mas poucos são atrativos turísticos, poucos têm infraestrutura e informações necessárias. Brumadinho possui um potencial cultural e natural enorme, mas ainda carece de estrutura para tornar o destino mais competitivo”, afirma a analista de Fomento Econômico da Vale, Daniele Teixeira.
 
Partindo do plano de desenvolvimento sustentável, foi desenhado também um programa de idiomas, uma demanda da comunidade. O inglês será o primeiro curso, com turmas em Brumadinho sede, Casa Branca e Encosta da Serra.
 
Em março, a Vale e a Agência de Desenvolvimento Regional do Circuito Turístico do Vale do Paraopeba assinaram termo de doação no valor de R$ 500 mil para viabilizar a implantação do projeto para o fortalecimento e competitividade do setor privado do turismo, uma das ferramentas para diversificar a economia das cidades impactadas pelo rompimento.


 
Além de Brumadinho, farão parte Igarapé, Juatuba, Mário Campos e São Joaquim de Bicas. De 91 empreendimentos inscritos, 50 foram selecionados para capacitação, que vai contemplar questões como o fortalecimento da regionalização do turismo, geração de oportunidades de emprego e empreendedorismo e desenvolvimento sustentável. “Nosso papel é fazer com que o território fique mais coeso, mais conectado com a cultura e potencialidades locais”, ressalta Daniele.
 
Líder de estratégia da Turismo 360 Consultoria, Marcela Pimenta lembra que 10 das 50 experiências serão escolhidas ao fim de um ano de capacitação para serem implementadas. “Precisamos fortalecer a competitividade do empreendimento. Pequenos ajustes podem ajudar as pessoas a ampliarem o faturamento e reduzirem custos”, diz. 
 
Gestora do Circuito Turístico Veredas do Paraopeba, Érica Natália de Sousa cuida de 18 municípios (Brumadinho e entorno) com foco em produtos, roteiros e na gastronomia. “Temos produtos na região e o desafio de comercialização, de como fazer, por exemplo, São Paulo enxergar mais que Inhotim. Há muito turismo rural, de experiência e de aventura nesse território”, destaca.



Recuperação 


Como o movimento quase foi nulo nas ocupações depois do rompimento da barragem em Córrego do Feijão, a Associação de Turismo de Brumadinho e Região (ATBR) procurou a Vale para dar início a um plano diversificado para o setor. Vice-presidente da instituição, Elaine de Castro conta que houve uma série de modificações para trazer o turista de volta, como a parte estrutural, qualificação de mão de obra, comunicação e marketing e infraestrutura da cidade.
 
Ela espera que a profissionalização do turismo, associada ao trabalho de comunicação e estrutura, seja capaz de fazer o turista visitar a região. “Brumadinho era conhecida como a cidade que tem Inhotim. Hoje, é conhecida por onde teve o rompimento. Precisamos mostrar que é um lugar passível de ser visitado e que vale a pena ser. A grande mancha não é a lama física, mas a imagem do município, e isso é difícil converter. O turismo é o segundo maior gerador de emprego e renda do município, depois da mineração.”

Produção familiar com modelo de governança


Um verdadeiro cinturão verde de Belo Horizonte, com força na produção de citros – tangerina, mexerica e bergamota – e também alface, chuchu e pimentão, além de expressão na agropecuária leiteira. 


 
Juntas, Brumadinho e a vizinha Mário Campos somam quase 600 propriedades rurais, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um contexto expressivo, que pode ser ainda mais importante a partir da ampliação do conhecimento e rastreabilidade da produção agrícola, aperfeiçoamento de técnicas, infraestrutura física e acesso a mercados diversificados.
 
A agricultura ganhou um programa que busca desenvolver principalmente a produção de base familiar nesses locais. “A característica desse programa é que busca pensar processos de desenvolvimento rural envolvendo o ambiente de ‘dentro da porteira’, analisando como está a produção, as formas de uso de agrotóxico (inclusive uma maior reflexão sobre alternativas tecnológicas para evitar tal aplicação), como é dado o processamento de alimentos quando é o caso, para compreender o tipo de melhorias a serem feitas tendo em vista ampliar a capacidade produtiva e gerar renda”, explica o analista da Gerência de Fomento Econômico, Luiz Augusto Bronzatto.
 
Mas, observa, que não pode deixar de lado a “porteira pra fora”, que engloba fatores tais como o nível de comercialização, envolvendo a agregação de valor e uma maior qualidade de produção, a criação de marcas, rótulos, melhores formas de acondicionamento dos produtos, tendo vista o acesso a diversos mercados.


 
A diversificação da produção também deve ser melhor refletida, considerando o mercado da Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, e as condições de solo e clima dos municípios envolvidos. 
 
“Para sustentar tudo isso é preciso organização e modelo de gestão e governança para dar suporte a programas e processos”, relata. A rastreabilidade da produção agrícola é um desses diferenciais e está alinhada com a política pública instaurada pela Instrução Normativa 02/2018 (focada em produtos frescos), do Ministério da Agricultura e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
 
A rastreabilidade envolve um conjunto de procedimentos que possibilita identificar a origem do alimento (a propriedade e o produtor) e acompanhar a movimentação de um produto ao longo da cadeia produtiva. “É interessante para o consumidor ter mais confiabilidade no produto’’, ressalta Bronzatto.


 

A meta da primeira fase é atingir 50% dos agricultores e somar forças com organizações e entidades que já atuam no setor, como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), Senar, Senai e universidades. A ideia é classificar agricultores em três níveis: aptos ao processo de rastreabilidade e comercialização; aptos em até seis meses; e aptos acima desse prazo.
 
“Pretendemos proporcionar aos agricultores embalagens apropriadas, código de barras, marca única para o programa. Nossa meta é o consumidor chegar ao mercado ou à feira, bater o olho e saber que ali tem qualidade”, diz o analista. “Ações fitossanitárias envolvendo marcas e selo de qualidade podem aumentar as vendas e, com isso, na ponta, gerar maior riqueza para os agricultores”.
 
Está previsto um estudo de mercado que verificará quais produtos vêm de outras regiões para abastecer Belo Horizonte e região metropolitana como um todo, bem como a capacidade de produção em Brumadinho e a rentabilidade.
 
A ideia é também aprofundar conhecimentos sobre a agricultura de Mário Campos, uma demanda do poder local diante de uma série de lacunas, como a grande informalidade no processo de comercialização local, algo que impacta, inclusive, na arrecadação do município.