Resgatar a imagem da mineração “será um trabalho de formiguinha”, destacou o presidente do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Wilson Brumer, diante de representantes do setor e profissionais ligados à inovação no lançamento dos projetos do Mining Hub. Com vasta experiência na indústria, sobretudo em mineração e siderurgia, ele analisa o futuro da atividade minerária em Minas Gerais e no Brasil e destaca que, depois das tragédias em Mariana e em Brumadinho, resgatar a confiança da sociedade é o maior desafio. “Precisamos refazer o conceito da mineração junto à sociedade brasileira”, diz Brumer, que traz no currículo passagens pela presidência e diretoria de empresas como Usiminas, Acesita e Vale, além de ter sido secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, de 2003 a 2007.
A mineração é responsável por cerca de 4% do PIB brasileiro, tendo em um passado não distante representado mais de 8% de toda a geração das riquezas de Minas Gerais. O que a paralisação das atividades representa para a economia?
Não há dúvida de que o setor de mineração é de enorme importância para o desenvolvimento econômico do país. Devemos procurar agregar ainda mais valor aos produtos, diversificar nossa economia, mas não podemos esquecer que Minas Gerais terá que se desenvolver também com minas. Precisamos atuar para que a indústria da mineração seja cada vez mais forte, sem abrir mão da segurança dos seus colaboradores e de todas as comunidades nas quais está inserida. Isso significa novos processos, novas tecnologias e busca permanente de novos conhecimentos, no Brasil e também no exterior. As investigações sobre os casos de rompimento devem ocorrer, até como forma de aprendizado, para que o setor possa melhorar o que necessita ser melhorado. Mas, paralelamente, precisamos retomar as atividades da mineração, não só de minério de ferro como de outros minerais.
Quais barreiras a mineração precisa superar para ser vista de forma mais positiva?"Precisamos atuar para que a indústria da mineração seja cada vez mais forte, sem abrir mão da segurança dos seus colaboradores e de todas as comunidades nas quais está inserida"
Wilson Brumer, presidente do Conselho Diretor do Ibram
Como disse anteriormente, temos que repensar processos e, também, comportamentos. Não podemos deixar cair no esquecimento os acontecimentos recentes. Não podemos admitir a repetição dessas tragédias, até porque vidas se perderam, problemas sociais, econômicos e impactos ambientais foram criados. Por outro lado, temos que tomar uma série de providências para que a sociedade volte a acreditar na mineração. E isso só irá acontecer com medidas concretas para que a imagem atual seja revertida.
E como fazer isso?
Antes de mais nada, aprender a ouvir mais e com muita humildade. E tomando providências para mostrar àqueles que convivem com o setor que podem passar a não temer a mineração no seu entorno e considerem a atividade como uma parceira do desenvolvimento socioeconômico, em um ambiente de convivência harmônica e segura. Entendo que, depois do que aconteceu, são apresentadas soluções sem a adequada avaliação técnica. Por exemplo: muito se fala da chamada ‘mineração a seco’. Esse processo, no entanto, não é aplicável para todo tipo de mineração. Ele é aplicável para o minério de ferro, mas não necessariamente para outros minerais.
Qual o papel do Ibram nesse processo?
Cabe lembrar que os rompimentos envolvendo operações da Samarco e da Vale trouxeram efeitos negativos para o setor de mineração como um todo. Lembro, ainda, que boa parte da população desconhece muitos aspectos do setor. Muitos não sabem, por exemplo, que sem a mineração não haveria produção de automóveis, de aviões, de celulares, de computadores e de diversos outros produtos com os quais convivemos e usamos no nosso dia a dia. Muitos desses produtos não utilizam necessariamente apenas o minério de ferro, mas outros insumos minerais. A triste verdade é que o setor ficou ‘demonizado’ perante a sociedade. Cabe ao Ibram ajudar seus associados a melhor se colocarem perante a sociedade. O instituto não é gestor de empresas, mas temos que contribuir com o setor para buscar novos parâmetros, incluindo o incremento das relações com o meio acadêmico e atraindo as novas gerações para conhecerem melhor a atividade.
Muitas pessoas associam a mineração à exploração do meio ambiente. É possível mudar essa percepção?
É possível conciliar sustentabilidade e o desenvolvimento da mineração. Temos vários exemplos desta harmonia e isso deve ser mais evidenciado à sociedade neste processo de mudança de percepção em relação ao setor. O Ibram terá que estar mais presente nos municípios mineradores e promover um grande entendimento e busca contínua do desenvolvimento dos mesmos, enquanto a mineração estiver presente. É muito comum se discutir o que será de um município somente após o encerramento da atividade da mineração ali existente. Entendo que o Ibram e os municípios mineradores devem atuar em conjunto para encontrar formas para promover um maior desenvolvimento socioeconômico enquanto existe a atividade mineral, por meio de uma análise adequada das potencialidades existentes em cada um deles.
Como o setor pode se preparar para os próximos anos?
O setor é muito importante para a economia de Minas Gerais e do país, seja sob o ponto de vista de geração de empregos, impostos e desenvolvimento de uma enorme cadeia produtiva. Para se ter uma ideia, em 2018, a indústria de mineração empregou cerca de 200 mil pessoas. Considerando toda a cadeia produtiva, podemos observar que o setor é responsável por aproximadamente 2 milhões de empregos em várias partes do Brasil. Nos próximos anos serão necessárias políticas educacionais focadas nas novas demandas do setor, tais como fomento à pesquisa, bolsas para pesquisadores, acordos de cooperação com centros de pesquisa e inovação.
Diante das discussões que tomam conta do setor atualmente, qual é a avaliação sobre a defesa de regras mais rígidas para o licenciamento de atividades minerárias?
O Ibram, como disse antes, estará presente e atuando como parceiro nos vários segmentos da mineração, aí incluídas grandes, médias, pequenas e microempresas. Igualmente, quer trabalhar em parceria com toda a cadeia produtiva. Não podemos ser contra regras rígidas para o licenciamento de atividades minerais. O que não pode haver é um ambiente de falta de previsibilidade e insegurança jurídica. Entendemos que o melhor caminho para a compatibilização da legislação minerária e ambiental é a criação de um sistema de licenciamento específico para a atividade mineral, respeitadas as peculiaridades de cada projeto e especificidades do produto. A base desse modelo pode ter como parâmetro o que já se pratica no Brasil em alguns setores como petróleo, gás e energia elétrica.