A capa de Mulheres na luta – 150 anos em busca de liberdade, igualdade e sororidade diz muito sobre a HQ das norueguesas Marta Breen e Jenny Jordahl. Um conjunto de mulheres vestidas com roupas de todas as épocas e das mais variadas origens culturais forma uma onda com braços erguidos em protesto. A imagem resume um pouco a obra que traça a história das lutas feministas desde o século 19 até os dias de hoje.
Dividida em capítulos, a HQ tem início com o movimento abolicionista norte-americano, seio da luta pelos direitos das mulheres. As discussões em torno do voto feminino trouxeram outras, como o direito à educação, a exercer uma profissão e a ganhar o próprio dinheiro, além do controle sobre o próprio corpo. Intercalado à sequência de fatos históricos, a autora dá destaque a algumas das personagens que estiveram à frente dos movimentos em todo o mundo.
As norte-americanas Elizabeth Cady Stanton e Lucretia Mott reivindicaram a redução das desigualdades entre homens e mulheres na época da abolição da escravidão. A poeta iraniana Táhirih foi a primeira mártir na história da luta feminista, executada em 1852 por querer estudar e por questionar dogmas religiosos que afastavam as mulheres das decisões centrais. Um capítulo destaca o movimento feminista no contexto socialista, com figuras como Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo, e outro se concentra na luta pelo controle do próprio corpo. É, para as autoras, o momento mais importante do livro.
Um capítulo também foi dedicado ao amor livre e à luta pela dignidade no reconhecimento das relações homossexuais. No fim da HQ, a história de Malala Yousafzai, a menina afegã vítima de um atentado porque queria estudar, encerra o livro. Mulheres na luta é a quinta parceria entre Marta Breen e a ilustradora Jenny Jordahl. No último livro, elas contaram a história de um grupo de pioneiras feministas da Noruega. “Agora sentimos que era hora de fazer a mesma coisa com um ângulo internacional. Nós sempre usamos humor para contar histórias. Acredito que essa é a chave para manter as pessoas interessadas’, garante Marta Breen.
OUTRAS HISTÓRIAS UNDO AFORA
Bitch Planet
De Kelly Sue DeConnick.
Frida Kahlo – Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?
De Jean-Luc Cornette e Flore Balthazar. O livro é dedicado ao período em que Frida Kahlo viveu um romance extraconjugal com Trótski, que, exilado da então União Soviética, foi morar na casa da pintora, casada com Diego Rivera. Frida é um símbolo da luta feminista, e a HQ se concentra em uma das partes mais polêmicas de sua vida.
Tina Modotti – Uma mulher no século 20
De Ángel de la Calle. Italiana nascida em uma família pobre, Tina Modotti foi uma revolucionária em vários sentidos. Fotógrafa e ativista, viveu muito tempo no México e é considerada uma das pioneiras da fotografia de vanguarda produzida na América Latina no início do século 20. Conviveu com a turma de Frida Kahlo e dos muralistas mexicanos e ajudou a projetar o trabalho de vários artistas.
Persépolis
De Marjane Satrapi.
As empoderadas
De Germana Viana. Três mulheres com superpoderes e origens diferentes se engajam em uma luta que vai além da banalidade e em busca de jxustiça. Criada pela brasileira Germana Viana, a HQ traz temas feministas e é publicada pelo Pagu Comics, selo destinado à publicação de quadrinhos feitos exclusivamente por mulheres.
MULHERES NA LUTA
. De Marta Breen e Jenny Jordahl
. Editora Seguinte
. 128 páginas
. R$ 64,80
Entrevista
Marta Breen/escritora
‘Nada veio de graça’
Autora da HQ Mulheres na luta alerta para risco de retrocesso caso o movimento feminista baixa a guarda
Por que decidiu fazer uma HQ sobre feminismo?
Eu, realmente, gosto muito de escrever e ler quadrinhos, especialmente se for sobre um tema sério. Acredito que esse formato facilita a leitura e faz com que o leitor se engaje na história.
Por que é tão importante sempre falar de feminismo?
É muito importante estar ciente do movimento de libertação das mulheres. Algumas pessoas parecem acreditar que todos os nossos direitos nos foram simplesmente dados por homens ou por políticos, mas as mulheres tiveram que lutar muito por tudo isso. Nada veio de graça. Se começarmos a não nos importar com essas questões, corremos o risco de retrocessos. Quando se trata de direitos humanos numa escala internacional, muitas coisas parecem ir na direção errada. Por exemplo: o direito de aborto está sob pressão em vários locais do mundo. E é assustador ver o quanto líderes patriarcais têm assumido o poder sucessivamente em vários países. Isso está acontecendo na Rússia, na Polônia, na Hungria, na Turquia, nos Estados Unidos e no Brasil. É muito importante estar atento para esse desenvolvimento e trabalhar com todas essas questões.
Você escolheu juntar várias lutas históricas, como a escravidão, o direito de voto e os direitos humanos. Por quê?
Esses temas estão fortemente conectados.
Como foi o processo de pesquisa?
Eu me concentrei no movimento organizado e na primeira “reunião oficial”, que ocorreu nos Estados Unidos por volta de 1850. Há milhares de histórias que poderíamos ter contado, mas tivemos que focar em alguns momentos definidores. Espero que outros autores se inspirem e escrevam livros similares com histórias de ângulos diferentes..