"Domingas?"
Foi apenas com o nome de uma das personagens, acrescido de uma interrogação, que Sônia Braga respondeu ao e-mail de Kleber Mendonça Filho depois de o diretor pernambucano enviar o roteiro de Bacurau. O convite para repetição da parceria iniciada em Aquarius (2016) ainda não havia sido formalizado. Mas a atriz paranaense, logo após a primeira leitura, deduziu que haveria um papel para ela no terceiro longa-metragem do diretor de O som ao redor (2012). Reconhecíveis pelas atuações marcantes em produções internacionais, os rostos de Sônia e do alemão Udo Kier (Lili Marlene, Dogville) representam exceções no elenco de Bacurau, tão numeroso quanto desconhecido.
Atores falam sobre o filme no primeiro episódio do podcast Pensar
Elenco desconhecido, claro, até a exibição – e o recebimento do Prêmio do Júri – no Festival de Cannes, em maio último. "Fiquei realmente emocionada com os gritos e aplausos lá na França, foi maravilhoso! Da nossa entrada com a música de (Geraldo) Vandré até o impacto da reação das pessoas no Palais (des Festivals) na hora da cena da cabana", revela a atriz Ingrid Trigueiro, paraibana de João Pessoa.
cinema Intérprete de Deyse, ela cita sequência que divide com o mineiro Carlos Francisco, com desfecho inesperado e catártico. Atriz de formação teatral que havia estreado no com Central do Brasil, Ingrid destaca as consequências da reunião de atores de origens e gerações diferentes em Bacurau. "As pessoas têm seus sotaques, suas cores, seus corpos."
Boa parte do elenco foi selecionada no "reservatório de grandes atores do Nordeste", destaca um dos diretores, Kleber Mendonça Filho, em entrevista por telefone ao Estado de Minas. Mas a região de origem não foi critério de inclusão ou exclusão, tanto que o filme conta com mineiros – Bárbara Colen, Wilson Rabelo – em papéis importantes. "Tudo começa com o medo de cair em algo pasteurizado, falso, autoritário, como já se viu em muitas novelas e outras produções", defende Kleber.
"Então, quando dois realizadores de uma cidade grande (Recife) vão fazer um filme no sertão, é preciso que o texto faça justiça à região. E os atores precisariam se encaixar nessa ideia, como profissionais e como pessoas", explica o cineasta, que assina o longa com Juliano Dornelles. "Então, quando dois realizadores de uma cidade grande (Recife) vão fazer um filme no sertão, é preciso que o texto faça justiça à região. E os atores precisariam se encaixar nessa ideia, como profissionais e como pessoas", explica o cineasta, que assina o longa com Juliano Dornelles.
Confira as visões divergentes de dois escritores brasileiros sobre Bacurau
"Além de filmes de western como Os imperdoáveis, uma de minhas referências foi o povo de Barra (Rio Grande do Norte, local das filmagens): costumava ficar observando as experiências de vida que essas pessoas carregavam no olhar", revela o recifense Thomás Aquino, intérprete do anti-herói Pacote, que busca uma redenção, "uma nova esperança": "Para ele, a violência não precisaria existir mais."
"Além de filmes de western, como Os imperdoáveis, uma de minhas referências foi o povo de Barra (RN): costumava ficar observando as experiências de vida que essas pessoas carregavam no olhar", revela o recifense Thomás Aquino, intérprete do anti-herói Pacote,
Thomás Aquino, intérprete do anti-herói Pacote
O paraibano Thardelly Lima conta que não foi difícil visualizar seu personagem, o prefeito Tony Jr.. Venho de uma cidade do interior (Cajazeiras) onde também encontramos a rotatividade de poder dentro de uma mesma família. O desafio foi tentar fugir do caricato grosseiro, bufanesco, asqueroso, e tentar jogar com um ar de proximidade com aqueles moradores", afirma Thardelly, que também fez o filme pernambucano Divino amor e grava em outubro uma série para a Netflix. Thomás, por sua vez, tem outros quatro longas para estrear nos próximos meses.
Kleber Mendonça Filho lembra que 54 atores têm falas em Bacurau. "No auge do drama, a câmera passeia pelos rostos e fica muito claro que o Brasil é um lugar com caras muito diversas. Tanto é que, no convite para figuração, fizemos questão de convidar de bebês a pessoas de 100 anos: de todos os tipos, todos os sexos, todas as cores", enfatiza o diretor. "A diversidade de Bacurau é a diversidade do país e das comunidades oprimidas do planeta", resume o ator Wilson Rabelo.
Quem é quem no elenco de Bacurau
O personagem
O ator
A personagem
A atriz
O personagem
O ator
O ator
O personagem
A personagem
Figurante