Jornal Estado de Minas

Luxo e traições: viúva de Pablo Escobar detalha intimidade ao lado do narcotraficante e pede perdão

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Um pedido de perdão para o “falso herói”, o “criminoso mais impiedoso da Colômbia do século passado”. Logo no início do seu livro, Sra. Escobar: minha vida com Pablo – Conheça o homem por tras da lenda, Victoria Eugenia Henao já antecipa seus sentimentos antes de contar sua relação com o narcotraficante Pablo Escobar e a atuação dele na guerra pelo domínio do tráfico de drogas no seu país. Relata sua história recheada de violência e tristezas ao lado do homem com quem foi casada por 16 anos. Com riqueza de detalhes e casos, até então pouco explorados, detalha o surgimento, o ápice e a derrocada da sangrenta ‘era Escobar’, os traumas sofridos por sua família, as incontáveis mortes e vinganças relacionadas a ele, além de manias e de luxo e luxúria vividos por seu marido.

Eugenia Henao conta que o início do relacionamento foi conturbado devido à desaprovação de seus pais e do ciúme e machismo de Pablo, que saía com outras jovens da região, enquanto também fazia juras de amor a ela. Havia situações em que Escobar desaparecia por vários dias e também não dava notícias sobre seu paradeiro. Quando retornava, dava explicações vagas e aproveitava da ingenuidade de ‘Tata’, como chamava a namorada, para enganá-la.

Ela ainda não sabia, mas esses sumiços seriam constantes durante toda a sua vida conjugal. Estava apaixonada e, mesmo sem a bênção dos pais, fugiu para se casar com Pablo, em março de 1976.
A relação geraria os filhos Juan Pablo e Manuela. Mas, desde o início, Escobar já dava sinais de que o casamento não seria pacífico. Com a desculpa de ter que sair a trabalho, ele manteve o hábito de passar muito tempo longe de casa. Apesar disso, Tata não desconfiava e não perguntava que tipo de ‘atividade’ ele tinha. Demorou muito para descobrir as traições e levou um grande susto com a primeira prisão do marido meses após oficializarem a união.

Eugenia Henao dedica um capítulo  para contar a vida boêmia de Escobar. Segundo ela, o marido gastou milhares de dólares em festas, fazendas, boates e espaços onde recebia dezenas de mulheres. Apesar da grande quantidade de amantes, algumas tiveram atenção maior do narcotraficante.
Sempre acompanhado de amigos e de seus comparsas, Escobar costumava passar noites em claro promovendo farras. Antes de ser alvo da Justiça, o narcotraficante ostentava o dinheiro arrecadado com o tráfico de drogas, distribuía presentes e manipulava as pessoas ao seu redor.

Apesar da tristeza e das dúvidas que já rondavam sua vida, ela acreditava no marido. Para driblar a solidão, Victoria passava o tempo com os filhos e procurava atividades com que pudesse se distrair. Na busca por aprendizado, encontrou nas artes um grande refúgio e passou a estudar e a investir nesta área. Viajou, comprou quadros e criou seu próprio acervo, que chegou a ser considerado um dos maiores da Colômbia.

Escobar ficava mais rico, mais conhecido e poderoso em seu país. Enquanto conseguiu camuflar a verdadeira origem de seu patrimônio, despontou como  grande empresário local. Passou a fazer contatos, participar de eventos e não tardaria a vislumbrar a ascensão política. Entre seus principais interesses estaria a busca incessante pela proibição da extradição de colombianos para os EUA.
Ele costumava dizer a seus comandados que, entre morrer na Colômbia e ser condenado na América do Norte, ficava com a primeira opção.

Ambição política

Desde jovem, Pablo exercia muita influência sobre as pessoas. Em 1979, foi eleito vereador de Envigado. “Estão vendo as casas do nosso bairro? O dinheiro vai circular por aqui como se fosse um rio”, afirmava. Ambicioso, logo seu olhar estaria voltado para o Congresso colombiano. Ele fez alianças com políticos da época e começou a participar de comícios. Para ganhar a confiança dos eleitores, Escobar acelerou o plantio de árvores e a inauguração de espaços esportivos na região, pagando tudo do próprio bolso, com dinheiro proveniente do crime.

O mesmo narcotráfico que deu a Escobar dinheiro, terras, imóveis, aeronaves, carros e muito luxo tirou sua paz e a de sua família. Ao longo da vida, colecionou inimigos e despertou fúria. A disputa pelo tráfico de drogas provocaria muito derramamento de sangue. Com seu “exército particular”, Pablo passaria anos fugindo e se escondendo e perderia o crescimento dos filhos. Enquanto isso, Victoria e a família sentiriam na pele o pavor da violência.
Pablo foi morto em cerco policial em dezembro de 1993, aos 44 anos.

Victoria diz que ela e os filhos sofreram com preconceito e ódio por carregar o sobrenome Escobar. A vida passaria por mudanças financeiras, físicas e psicológicas. Ela revela dor, ressentimento e tristeza, pois, mesmo após a morte dele, diz ter sido vítima de arbitrariedades jurídicas, perseguição e se viu obrigada a mudar de país.

Trecho do livro

“Pablo Escobar não é nenhum modelo a seguir; o falso herói que as séries de cinema e televisão recriam me motivou a contar a verdade sem meias palavras, para evitar a todo custo a repetição de tudo. Este livro pretende ser também o resultado de uma introspecção sem precedentes na vida conjugal de Pablo Escobar, a um quarto de século de sua morte. E é, por sua vez, o diário de bordo de uma viagem sem volta às profundezas mais escuras de seu ser e de minha vida ao lado do homem mais procurado, do criminoso mais impiedoso da Colômbia do século passado. Por tudo isso, pelo que fez, peço perdão”.


SRA. ESCOBAR: MINHA
VIDA COM PABLO
• De Victoria Eugenia Henao
• Editora Planeta
• 351 páginas
• R$ 36,90 (livro)
• R$ 39,90 (e-book)
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