O meu último encontro com o poeta João Cabral de Melo Neto aconteceu em nove de janeiro de 1998, no apartamento em que ele morava, na Praia do Flamengo. A rodada de duas longas conversas – talvez a última grande entrevista de João Cabral – foi publicada pelo Correio Braziliense/Diários Associados na semana seguinte, na série ‘A arte de escrever’, que reuniu os maiores escritores brasileiros. O autor de poemas como Morte e vida severina e O cão sem plumas estava quase completamente cego e demonstrava desânimo. “Este é o meu último aniversário”, declarou, um ano antes da morte, em outubro de 1999. João Cabral de Melo Neto se dizia um ex-escritor e reafirmava: “Escrever para mim sempre foi um ofício pesado”. O registro é da fotógrafa Christina Bocayuva, que me acompanhou naqueles dois encontros.
O menino João não tinha mais que 10 anos. Apesar de franzino e da pouca idade, se tornou o centro das atenções dos trabalhadores dos canaviais pertencentes aos engenhos de sua família, nas cidades nordestinas de São Lourenço da Mata e Moreno. Neles, passou toda a infância. O “sinhozinho” era o único que sabia ler entre uma massa de trabalhadores analfabetos.
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Era ele o responsável pelas melhores horas de lazer daqueles homens rudes, que passavam dias seguidos com uma única ocupação: o corte da cana. Logo se fazia uma roda em torno do garoto responsável pelas sessões de leitura, que era colocado em cima de um carro de boi. O silêncio imperava. Todos ficavam atentos e cheios de espanto com as histórias dos versos de cordel recitadas pelo menino.
A cena se passou na Zona da Mata pernambucana dos anos 20 e ficaria para sempre nas lembranças do maior poeta vivo da língua portuguesa, João Cabral de Melo Neto. Só cinco décadas depois, no final dos anos 70, ele iria transformar essa memória em poema.
“No dia a dia do engenho, /toda a semana, durante,/cochichavam-me em segredo:/saiu um novo romance. /E da feira do domingo/me traziam conspirantes/para que os lesse e explicasse/um romance de barbante...”, escreveu Cabral em Descoberta da literatura, que integra o livro A escola das facas, de 1979.
Retomar a infância meio século depois foi a forma que o poeta encontrou para resgatar as origens perdidas na vida de diplomata. “Quando morei em Pernambuco eu não escrevi sobre Pernambuco. Afinal, estava lá dentro, compreende? Já quando morei fora, senti falta. Foi só aí que escrevi sobre a minha terra. Estava com saudades de certas coisas. Por isso, procurava re- gistrar. Essa é uma cicatriz que não some. Até hoje penso na minha infância”, revela Cabral, mostrando o lado mais humano de um poeta que sempre negou o sentimentalismo.
João Cabral nunca se impôs uma rotina de escritor. Escolheu uma profissão que o permitisse se aprofundar no que mais gostava (e gosta): a literatura. Como diplomata, tinha estabilidade no emprego por ser funcionário público. Era essa tranquilidade que fazia com que se dedicasse à poesia durante sua carreira no Itamaraty. “Todo o tempo eu escrevia”, conta Cabral.
Mas nem sempre existia muito tempo. Os trabalhos burocráticos nas embaixadas por onde serviu às vezes lhe consumiam o tempo da poesia. Como nunca viveu do que produziu, Cabral não podia se dar ao luxo de dispensar o serviço para se dedicar exclusivamente à literatura.
Esse foi um dos motivos que tornaram lento o seu processo de criação. Nunca conseguiu fazer um poema de primeira. Era preciso tempo até maturar a obra. “Começo a escrever o poema, e largo. Às vezes só retomo os versos depois de vários anos. Já teve poema que passei quase uma década para retomar”, conta Cabral.
Um bom exemplo é o pequeno poema Tecendo a manhã, do livro A educação pela pedra, de 1965, em que levou seis anos para concluir. “Comecei a escrever em Sevilha, depois fui a Genebra e, de lá, para Berna”, relembra Cabral o calvário para concluir o poema.
“Às vezes fica faltando apenas uma pequena coisa. Mas só dou o poema por pronto quando me satisfaz, quando fica exatamente o que queria fazer”, comenta. Em seguida, faz uma crítica sutil. “É questão de temperamento. Tem gente que publica tudo o que escreve. Como não tenho ânsia de publicar, prefiro ficar trabalhando até me dar por satisfeito”, explica, sem dizer nomes.
Em compensação, diferentemente da maior parte dos escritores, ele nunca se arrependeu ou quis fazer alguma modificação em poemas depois da publicação. “Quando concluo alguma obra, me desligo dela”, explica.
João Cabral é um homem de contradições. Para ele, o ato de escrever não lhe proporciona prazer. “Pelo contrário. Sempre me deu muito trabalho. Escrever para mim sempre foi um ofício pesado”, revela. Mas por que então se tornou poeta? “Comecei a escrever e começaram a gostar. De forma que sentia uma certa responsabilidade de continuar escrevendo”, conta, sobre o motivo de ter permanecido no caminho das letras.
Todos os seus poemas são feitos a mão. “Só depois passo a limpo na máquina de escrever.” Jamais pensou em usar o computador. “Não sei o que é isso”, afirma Cabral. “Eu preciso ver o poema. Só olhando consigo criar. Minha obra é muito plástica”, comenta o autor de O rio.
Cabral sempre negou a inspiração em sua poesia. Se acorda no meio da noite com uma ideia na cabeça, ele procura esquecer. “Por quê? Não é uma ideia minha. E sim um sonho que veio. Portanto, é eco de alguma coisa. A ideia precisa ser o resultado de um esforço intelectual, da lucidez”, explica o poeta.
Apesar de negar a inspiração e de fazer uma poesia concreta, ele acredita na sensibilidade de sua obra. “O poético é dizer certas coisas de maneira afetiva, de uma maneira sensorial. E isso é o que tento fazer na minha poesia”, argumenta Cabral, explicando que, por mais que use a razão, faz uma poesia não racional. “Caso contrário, escreveria equações matemáticas.”
Talvez por isso é que, mesmo fazendo uma poesia “racional”, exista uma pluralidade de interpretações para seus textos. “Às vezes, surgem interpretações completamente diferentes. Quando é uma interpretação que acho válida eu deixo, mas quando acho que é uma interpretação errônea aí eu conserto”, pondera Cabral, que recebe com naturalidade comentários inesperados sobre a sua obra.
“Valéry dizia que o poema não é uma partitura. Poema é um instrumento musical. Você toca nele o que quiser”, repassa o ensinamento.
É o próprio João Cabral quem faz uma autodefinição de sua obra: “Minha poesia procura ser não lírica e não subjetiva. É feita para despertar e não para embalar. Utilizo de preferência vocábulos concretos e não abstratos. Tenho a impressão de que essas são as principais características que reconheço nela”.
Até hoje, Cabral diz ter medo do inferno que lhe foi ensinado pelos maristas durante as aulas na infância. E o inferno é o motivo pelo qual teme tanto a morte. Mas esse tema nunca foi assunto de sua poesia. “São fatos pessoais e a minha poesia não tem nada de subjetiva”, desconversa Cabral sobre seus medos. Ao mesmo tempo em que teme o inferno e a morte, o poeta se diz ateu. “O ser humano é cheio de contradições”, se justifica.
Surpresas no caminho
Na vida do poeta existem fatos curiosos. Por pouco o seu poema de maior sucesso, o auto de Natal pernambucano Morte e vida severina não é levado ao esquecimento. O texto foi encomendado por Maria Clara Machado, em 1954, para ser encenado pelo Tablado. Depois de pronto, ela leu e devolveu. Disse que o grupo que comandava não tinha condições cênicas para levar ao palco. Como estava concluindo um livro e o editor achava a quantidade de poemas insuficiente, Cabral acabou por tirar as marcações para teatro e incluiu o auto para “encher” o livro Duas águas.
“Para mim, foi uma surpresa quando o Vinícius (de Moraes) me ligou, maravilhado com o poema. E acrescenta: ‘Não escrevi esse texto para intelectuais como você, e sim para pessoas mais simples’”, lembra o poeta a reação que teve. Até hoje se espanta com o sucesso de Morte e vida severina, um dos poucos textos que fez com prazo de entrega definido.
O grande domínio da realidade do sertão, presente em parte de sua obra e em Morte e vida severina, deve-se principalmente à quantidade de sertanejos que o “menino João” conheceu na Zona da Mata. O sertão que descreve é o mesmo dos romances do Nordeste escritos por José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, onde é comum a figura do retirante que luta contra a seca.
“Essa visão é bem diferente do sertão de Ariano Suassuna, que é um universo fabuloso, mítico”, explica Cabral a diferença entre essas duas realidades, que ele colocou no poema A pedra do reino, dedicado a Suassuna. “Foi bem saber-se que o sertão/não só fala a língua do não...”
Quando criança, em Pernambuco, o menino João se espantava com a grande quantidade de Severinos que encontrava, boa parte deles retirantes e sertanejos. Daí o nome que escolheu para o personagem principal do auto. “Acho que é por causa daquela romaria, São Severino dos Ramos (Paudalho/Mata Norte de Pernambuco), que existe tanta gente com o nome Severino. Esse nome é tão popular em Pernambuco como é Raimundo no Ceará. Repare quanto cearense se chama Raimundo. Só aqui no prédio tem dois porteiros cearenses que se chamam Raimundo. Acho que se tivesse nascido no Ceará, o título da peça teria sido Morte e vida raimunda”, comenta Cabral.
A poesia de João Cabral nada tem de ficcional. Pelo contrário. É o resultado do seu cotidiano. Até poemas como Morte e vida severina – longe de ser uma história fruto da imaginação do autor – formam um retrato da dura realidade que Cabral foi testemunha em sua região. “Nunca me ocorreu de ser romancista ou contista”, esclarece o poeta.
A temática social é predominante em boa parte da poesia cabralina. Além de Morte e vida severina, sua obra mais popular e que lhe deu reconhecimento internacional, outra que se destaca é o Cão sem plumas, duro retrato da situação às margens do Rio Capibaribe. “É o próprio Capibaribe. Quem conhece esse rio sabe da miséria que existe por lá. Quem tem um cão em sua casa, sempre dispensa cuidados. Já o Capibaribe é o cão sem plumas, o cão pobre, compreende?”, explica João, recorrendo ao seu característico cacoete verbal ao final das frases.
Influências cubistas
Se dependesse dos padres maristas, Cabral nunca teria sido escritor. Apesar de ser um bom aluno e de gostar de ler desde criança, só chegavam em suas mãos autores “chatos” como Olavo Bilac. “Só comecei a me interessar mais sobre literatura com 16, 17 anos. Nessa época, frequentei um grupo de escritores e intelectuais lá em Pernambuco”.
Foi quando pegou pela primeira vez um livro de Carlos Drummond de Andrade – Brejo das almas – e descobriu que existe outro tipo de poesia, sem oratória. Mesmo sendo Drummond o motivo da descoberta de um novo horizonte, Cabral não se intimida quando precisa fazer crítica. “Tive uma grande influência da primeira fase de Drummond. Isso porque depois ele ficou muito discursivo”, observa.
Foi o artista plástico Vicente do Rêgo Monteiro quem apresentou para Cabral os pintores modernos, principalmente os cubistas. Rêgo Monteiro tinha acabado de chegar de Paris, fugindo da guerra. E trouxe para Cabral livros que o impressionaram bastante. Aliás, é dele a tela A paisagem zero, que despertou grande fascínio em Cabral e acabou inspirando-o em um de seus primeiros poemas, que leva o mesmo nome do quadro. Só muitos anos depois é que ele consegue adquirir o quadro, que hoje fica em seu quarto. A pedido do Correio, posou ao lado da tela, colocada especialmente na sala por sua mulher, a poeta Marly de Oliveira.
Foi nessa época que começou a se interessar pela arquitetura e engenharia por meio de um amigo, o poeta e engenheiro Joaquim Cardozo. Iniciou então estudos sobre as teorias de Le Corbusier. “Depois li muito Valéry, Mallarmé, Baudelaire, todos esses autores que não acreditam em inspiração”, conta Cabral a respeito da essência de suas influências. Para ele, arquitetura e poesia andam juntas. “A estrutura de um poema tem que ser arquitetada”, teoriza.
Alguns anos depois, a vida de diplomata possibilitaria a João Cabral oportunidades únicas, como a convivência com o pintor catalão Joan Miró. Na época da ditadura franquista na Espanha, o artista estava proibido de realizar exposições. Na condição de cônsul em Barcelona, o poeta era um dos poucos que tinha acesso aos trabalhos do pintor. “Acabei publicando os quadros do Miró que a humanidade só iria conhecer muito tempo depois”, lembra o autor, que escreveu um denso ensaio sobre as telas que o gênio catalão havia pintado na França durante a guerra e as que ele estava fazendo na Catalunha.
Hoje, Cabral vive recluso em seu amplo apartamento, na Praia do Flamengo. Não sai mais de casa nem para ir à Academia Brasileira de Letras, até um ano atrás o seu único passatempo. Motivo desse exílio: perdeu a visão. “Afinal, estou cego”, comenta o poeta levando as mãos até os olhos.
Desde 1992, após ficar dois meses e meio na UTI, por causa de complicações numa cirurgia que fez para tratar de uma úlcera no estômago, a visão de Cabral fa- lhou. O poeta desconfia de que sua retina ficou exposta enquanto seus olhos ficavam abertos durante o longo tempo em que ficou inconsciente. Mas não tem certeza.
Agora, só lhe resta uma visão periférica. “É como se uma nuvem encobrisse os meus olhos”, descreve o poeta. “Como eu não leio mais, a literatura é algo que saiu da minha vida.” Isso o tem deprimido profundamente. O cotidiano passou a ser uma tormenta a ponto de João Cabral de Melo Neto se dizer um ex-escritor. Passa os dias na companhia da inseparável esposa, Marly.
Diferentemente do argentino Jorge Luís Borges, João Cabral de Melo Neto não consegue ditar seus poemas. “Existem pessoas que têm sensibilidade no ouvido. Eu não. Sou visual. Para mim, é a maior tortura ter que participar de uma conferência. Eu fico com a cabeça longe. No colégio, os padres começavam a fazer sermão e eu estava pensando em futebol”, relembra Cabral, advertindo o repórter sobre sua impossibilidade auditiva. A única coisa que ainda desperta algum entusiasmo no poeta é ficar acompanhando notícias ou partidas de futebol pelo rádio.
João Cabral recebeu a reportagem em 9 de janeiro de 1998. Na data, completava 78 anos. Sem festa ou comemoração, fazia questão de explicitar o seu desânimo. “Esse vai ser o meu último aniversário”, deixou escapar.
Antes de ser uma profecia (Cabral morreu em outubro de 1999), a frase pronunciada por um dos maiores nomes da literatura brasileira em todos os tempos revela a angústia de um poeta que não pode mais enxergar. Para quem, portanto, o fato de existir começa a perder o sentido.
Como nasce um livro
Origem dos versos
“Meus poemas não têm origem. Eu vejo uma coisa que me interessa e escrevo. Eu não fiz um poema sobre a aspirina? Escrevi também muito sobre o Recife e sobre Sevilha, os dois lugares que mais me marcaram. O que faz ou não estar na minha poesia é o acaso. De repente, um objeto, uma obra de arte, um jogador de futebol ou um fato fazem com que eu me interesse e escreva um poema.”
Desenvolvimento da poesia
“Eu tenho muito poucos poemas narrativos. Morte e vida severina é narrativo. Fiz O rio exatamente porque depois que concluí o Cão sem plumas, percebi que tinha deixado o Capibaribe só no Recife. Então, resolvi buscar o Capibaribe lá na origem. Como conhecia aquela região, desenvolvi o poema através da ótica do Capibaribe, que se transforma num rio que fala. Já o desenvolvimento da poesia, tem para mim uma característica própria. Para falar de um assunto, tenho que falar de diversas coisas. Então concateno aquelas coisas e sai o poema.”
Rotina e cotidiano
“Escrevia nas horas vagas. Quando não estava trabalhando estava lendo ou escrevendo. Atualmente, o meu dia a dia é não fazer nada. Há um ano não vou sequer à Academia Brasileira de Letras. Além da visão, também estou fraco das pernas. Não posso ler, fato que está me deprimindo muito. Ainda me interesso um pouco por futebol, mas só acompanho pelo ouvido, já que não posso ver televisão. Também escuto notícias no rádio.”
Composição de um poema
“Eu não acredito em inspiração e nem sou um poeta inspirado. O ato de criar para mim é intelectual. Minha poesia trabalha a criação e a construção. Acredito na expiração. Na composição de um poema, primeiro me ocorre um tema e eu tomo nota. Depois vou estudando-o e desenvolvendo-o. Nunca escrevi um poema inspirado, soprado pelo Espírito Santo. Isso eu não sei o que é.”
Trechos comentados pelo autor
Num monumento à aspirina
“Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia. ...”
Num monumento à aspirina, poema do livro A educação pela pedra
“Eu tomei aspirina durante quase minha vida toda. Teve uma época em que eu chegava a tomar cinco aspirinas por dia. Depois eu fiz uma operação no corpo e a dor de cabeça passou, mas antes eu já havia escrito um poema sobre a aspirina. Afinal, foi ela que me permitiu viver. A aspirina, aliás, não é nada prosaica para mim. Eu a comparo a um sol. Mas só depois é que eu soube que ela é euforizante. Às vezes acho que essa minha depressão é falta de aspirina.”
Dois parlamentos
“O cassaco de engenho
quando carregam, morto:
É um caixão vazio
metido dentro de outro.
É morte de vazio
a que carrega dentro:
E como é de vazio,
ei-lo que não tem dentros.
Do caixão alugado
nem chega a ser miolo:
Pois como ele é vazio,
se muito fará, forro.
O enterro do cassaco
é o enterro de um coco:
Uns poucos envoltórios
em volta do centro oco.”
Verso nº 15 da segunda parte de Dois parlamentos (1958-60)
“Dois parlamentos é um dos poemas de que eu mais gosto. Ele tem um humor negro que pouca gente notou em minha poesia. Esse é um livro meu que ninguém fala e que passou despercebido pela crítica. Tem influências do surrealismo e de (Jonathan) Swift, um romancista inglês do século passado que é puro humor negro. Me agrada em Dois parlamentos a sua composição. Fala sobre o problema da seca no sertão e sobre o problema da Zona da Mata. São duas situações injustas, que ao invés de eu fazer uma poesia me apiedando delas, dou uma vaia.”
Homenagem em Araxá e reedição nas livrarias
O centenário de João Cabral de Melo Neto ganha celebrações no Brasil. A 9ª edição do Festival Literário de Araxá, de 1º a 5 de julho, terá como um dos patronos o poeta pernambucano. O FliAraxá, que tem como tema “Arte, leitura e tecnologias”, ainda homenageará a escritora Clarice Lispector, com centenário de nascimento também em 2020 (a autora de A hora da estrela nasceu em 10 de dezembro de 1920). A editora Alfaguara lança, em junho, a poesia completa do escritor, com organização do poeta e ensaísta Antonio Carlos Secchin, membro da ABL. No segundo semestre, ainda sem data definida, sairá um volume organizado pelo professor Sergio Martagão com entrevistas, discursos e outros exemplos da prosa do poeta.