Jornal Estado de Minas

Dois clássicos da literatura e do cinema são lançados em quadrinhos

O fogo faz os livros e o conhecimento virarem chamas. A fera faz os homens e as mulheres derreterem em ácido. Dois clássicos de ficção científica da literatura e do cinema acabam de chegar ao mercado nacional no formato quadrinhos em versões bem fiéis às obras originais. Fahrenheit 451, do escritor norte-americano Ray Bradbury (1920-2012), é uma ficção distópica lançada em 1953. Em um mundo atemporal e imaginário, vive o bombeiro Guy Montag, que tem como missão apreender e queimar livros porque não precisa mais apagar incêndios em casas à prova de fogo. Fahrenheit 451 é a temperatura da incineração. Afinal, os livros e o conhecimento contidos neles são séria ameaça à ordem estabelecida e ao governo ditatorial. Ler e pensar para quê, se todo mundo vive feliz e em paz com as pílulas alienantes e a TV com programação pacificadora?

Livros levam a pessoas a pensar, refletir, ser infelizes, então é preciso queimá-los, alerta o chefe de Montag. “Eu sempre disse: poesia e lágrimas, poesia e suicídio e choro e sensações ruins, poesia e doença: é tudo uma besteira sentimental”, diz outra personagem do livro. Os livros são um convite à transcendência, ao desvario, à errância, ao desvio em relação ao destino bovino da humanidade conformada”, diz outra personagem do livro, que tenta salvá-los do fogo. A salvação para o conhecimento é decorar os livros, antes que sejam queimados. E para destruir o conhecimento será preciso destruir os homens.



O livro de Bradbury ganhou adaptação para o cinema em 1966, pelo mestre da Nouvelle Vague François Truffaut (1932-1984), com Oscar Werner e Julie Christie no elenco. Depois de nova adaptação para o cinema, desta vez desastrosa, em 2018, e outras para games, Fahrenheit ganha agora versão em HQ, com introdução do próprio Bradbury. “Gostaria de sugerir a quem ler esta introdução que tome um tempo para citar o livro que mais gostaria de memorizar e proteger dos censores ou 'bombeiros' e não apenas mencionar o livro, mas dar as razões de por que gostaria de memorizá-lo e por que seria algo valioso a ser recitado e lembrado no futuro. Acho que resultaria em uma animada reunião quando meus leitores se encontrassem e contassem sobre os livros que escolheram e memorizaram, e por que”, escreveu o autor na introdução da graphic novel, três anos antes de morrer.

A adaptação autorizada é do ilustrador americano Tim Hamilton, de 53 anos, que já fez versões também de A ilha do tesouro, de Robert Louis Stevenson, e produziu trabalhos para o New York Times, entre outras publicações. A HQ respeita a obra de Bradbury, tanto no roteiro quanto na mensagem forte do autor americano, com ilustrações impactantes que dão o tom de suspense e perseguição original.

HORROR NO ESPAÇO 

Outra boa adaptação para HQ é Alien – A história ilustrada. Curiosamente, a adaptação de Archie Goodwin e Walter Simonson tem como referência o filme Alien – O oitavo passageiro, de Ridley Scott, de 1979, e não a obra literária Alien, escrita pelo nova-iorquino Alan Dean Foster, hoje com 73 anos, no mesmo ano, e que inspirou o cineasta inglês, que tem também no currículo o já clássico sci-fi Blade runner – O caçador de androides (1982), baseado na obra Androides sonham com ovelhas elétricas?, do americano Philip K. Dick, de 1968. Tanto é que as ilustrações das personagens são representações gráficas da atriz americana Sigourney Weaver – à época com 30 anos de idade, no papel da tenente Ellen Ripley e que, inclusive, repetiu o papel em várias sequências da franquia – e do elenco, além da similaridade com a própria criatura assassina.



Alien – O oitavo passageiro conta a história dos sete tripulantes da nave Nostromo, que recebe sinais estranhos originários de uma lua distante no universo, vai checar do que se trata e acaba vítima de uma terrível criatura que acaba invadindo a nave com suas garras sanguinárias e o ácido corrosivo que flui de sua boca aterrorizante. Claro que a graphic novel não tem o impacto do filme, mas é convincente e pode dar arrepios no leitor que se lembrar dos detalhes sombrios do filme de Ridley Scott.

Lançado há quatro décadas, Alien – O oitavo passageiro renovou a ficção científica. A força do filme, que deixou os espectadores estatelados nas cadeiras na época diante do medo do inimigo desconhecido, é o suspense. As personagens vão sofrendo e morrendo, mas o monstro não aparece de cara, demora a aparecer. A tripulação e o público sabem que existe um assassino terrível dentro da nave, mas ele está sempre à espreita. A terrível surpresa ocorre já no fim, quando o alienígena finalmente aparece de corpo inteiro, com cabeça e garras enormes e babando ácido.


FAHRENHEIT 451
• De Ray Bradbury
• Adaptação: Tim Hamilton
• Excelsior Book One
• 160 páginas
• R$ 79,90


ALIEN
A HISTÓRIA ILUSTRADA
• De Archie Goldwyn e Walter Simonson
• Excelsior Book One
• 64 páginas
• R$ 41,90