O primeiro livro nasceu aos 73 anos, pouco depois que o engenheiro eletricista George Borten, natural do Rio de Janeiro e radicado em Belo Horizonte, já aposentado, passou a sentir-se atormentado pela vontade de escrever.
Dominado por um desejo profundo de registrar as suas histórias, obcecado em noites de insônia por personagens que exigiam vir à vida, assim foi gestado O canal de Dotonbori, lançado pela Quixote+DO Editoras Associadas, já disponível aos leitores no site da editora (www.quixote-do.com.br) e na Livraria Quixote, em Belo Horizonte.
Dominado por um desejo profundo de registrar as suas histórias, obcecado em noites de insônia por personagens que exigiam vir à vida, assim foi gestado O canal de Dotonbori, lançado pela Quixote+DO Editoras Associadas, já disponível aos leitores no site da editora (www.quixote-do.com.br) e na Livraria Quixote, em Belo Horizonte.
São 22 contos que se apropriam de vivências reais para fundi-las com o imaginário ficcional. Nasceram de vivências ao longo de uma vida profissional que lhe abriu as janelas ao mundo. Fosse auditando a capacidade técnica industrial de fornecedores nos subúrbios cariocas ou em outros cantos do Brasil; fosse na inspeção de equipamentos que seriam comprados em Osaka, Kyoto – ambas no Japão – ou Trbovlje – antiga Iugoslávia, atual Eslovênia –, o fato é que as personagens deixaram marcas.
Outras histórias nasceram de experiências surgidas da dimensão estritamente pessoal de George Borten ou em interação e conversas com amigos e familiares: como os relatos do pai, tenente Borton, aviador na Segunda Guerra Mundial, que sobrevoava o Canal da Mancha quando a Alemanha nazista se rendeu, ou o caso do pistoleiro Dionísio, executado pelo delegado em sua última missão, na qual o acompanhava a última mulher que amou.
Outras histórias nasceram de experiências surgidas da dimensão estritamente pessoal de George Borten ou em interação e conversas com amigos e familiares: como os relatos do pai, tenente Borton, aviador na Segunda Guerra Mundial, que sobrevoava o Canal da Mancha quando a Alemanha nazista se rendeu, ou o caso do pistoleiro Dionísio, executado pelo delegado em sua última missão, na qual o acompanhava a última mulher que amou.
Em que pese o fato de os contos reunirem uma miscelânea de situações – do cotidiano, de viagens e de experiências marcantes reveladas por diferentes pessoas do relacionamento do autor – o fio que amarra o livro é a busca. “Se a vida nos parece sem sentido, será talvez porque, como proposto pelo existencialismo, cabe a nós criá-lo, no dia a dia da nossa existência.
Essa procura, essa construção incessante, é o que nos distingue como humanos. Porque ser humano é descobrir que é a busca em si que é o nosso propósito. Neste caminho não há um destino, mas sim uma permanente viagem. Não haverá porto de chegada”, considera Ge- orge Borten ao apresentar o próprio livro.
Essa procura, essa construção incessante, é o que nos distingue como humanos. Porque ser humano é descobrir que é a busca em si que é o nosso propósito. Neste caminho não há um destino, mas sim uma permanente viagem. Não haverá porto de chegada”, considera Ge- orge Borten ao apresentar o próprio livro.
Essa é a busca que o autor faz também tomando por referência o legado de Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra e psicoterapeuta suíço que desenvolveu os conceitos de arquétipo e inconsciente coletivo, extremamente influentes em diversas áreas do conhecimento, como a psiquiatria, a psicologia, a ciência da religião, as artes e a literatura.
No conto Jung e a arte, o autor associa essa procura do existir à expressão da arte e ao percurso do artista, cuja obra se apresenta como mensagem do inconsciente coletivo para toda a humanidade. “A arte aqui não é sublimação, fuga, mas, sim, encontro, descoberta. Nesse caminho para dentro, a primeira camada encontrada é semelhante ao inconsciente proposto por Freud, ou seja, um depósito de sentimentos negativos recalcados.
É quando se consegue passar para além desse ponto e continuar a viagem que se chega ao reino da arte, do sublime, da espiritualidade e da transcendência, da unidade com o cosmos”, escreve o autor.
No conto Jung e a arte, o autor associa essa procura do existir à expressão da arte e ao percurso do artista, cuja obra se apresenta como mensagem do inconsciente coletivo para toda a humanidade. “A arte aqui não é sublimação, fuga, mas, sim, encontro, descoberta. Nesse caminho para dentro, a primeira camada encontrada é semelhante ao inconsciente proposto por Freud, ou seja, um depósito de sentimentos negativos recalcados.
É quando se consegue passar para além desse ponto e continuar a viagem que se chega ao reino da arte, do sublime, da espiritualidade e da transcendência, da unidade com o cosmos”, escreve o autor.
Já em A casa do lago, George Borten retoma a temática que abre e encerra o livro. “O maior legado de Jung é a constatação de que a psique humana evolui sem cessar, mesmo na velhice. É como se a nossa vida estivesse sendo configurada por um mito pessoal, uma lenda que desse sentido a tantos fragmentos. Na realidade, essa descoberta da lenda pessoal se confunde, em parte, com a tradicional busca do sentido da vida, que sempre assusta as pessoas como sendo um caminho complicado e difícil”, diz ele.
Borten considera que, por mais desafiador e doloroso que seja, é impossível ao ser humano negar-se ao amadurecimento emocional, permanecendo como eterna criança. Diz o autor: “Aqui fica bastante clara a diferença entre procurar a felicidade e entender o seu destino, o seu chamado pessoal. Não é possível evitar as sombras, nem mesmo deixar de ver a luz que as provoca. Podemos até ficar parados, mas o caminho à nossa frente estará sempre nos aguardando”.
Borten considera que, por mais desafiador e doloroso que seja, é impossível ao ser humano negar-se ao amadurecimento emocional, permanecendo como eterna criança. Diz o autor: “Aqui fica bastante clara a diferença entre procurar a felicidade e entender o seu destino, o seu chamado pessoal. Não é possível evitar as sombras, nem mesmo deixar de ver a luz que as provoca. Podemos até ficar parados, mas o caminho à nossa frente estará sempre nos aguardando”.
Depois de uma longa carreira como engenheiro eletricista, como foi a decisão de se tornar um escritor?
A minha atividade profissional me levou, durante a vida, a muitas viagens. Esse contato com outras culturas, com o outro, o diferente, sempre me fascinou. Então há uma paixão pelas descobertas. E aconteceram coisas sensacionais, muitos encontros e desencontros. Há um ano e meio, essas histórias começaram a voltar à minha cabeça.
As histórias, os personagens se formaram como se me pedissem para ser escritos, como se os personagens estivessem dizendo: vamos morrer e desaparecer, alguém tem de narrar para não deixarmos de existir simplesmente. Tudo isso foi rodando a minha cabeça e eu senti a necessidade de escrever. São todos contos que partem de um ponto real, de fatos, porém, são adaptados literariamente, sem mutilar-se mutuamente.
Ao finalizar este livro, livrei-me de um profunda angústia, dei vida às vivências e me senti mais em paz. Fui o que queria ser. Escrevi o que queria, me senti liberto.
As histórias, os personagens se formaram como se me pedissem para ser escritos, como se os personagens estivessem dizendo: vamos morrer e desaparecer, alguém tem de narrar para não deixarmos de existir simplesmente. Tudo isso foi rodando a minha cabeça e eu senti a necessidade de escrever. São todos contos que partem de um ponto real, de fatos, porém, são adaptados literariamente, sem mutilar-se mutuamente.
Ao finalizar este livro, livrei-me de um profunda angústia, dei vida às vivências e me senti mais em paz. Fui o que queria ser. Escrevi o que queria, me senti liberto.
Todos nós olhamos o mundo por meio de valores que nos emprestam um enquadramento, um referencial político e ideológico. Quais são os valores e referências que fundamentam o seu olhar para o mundo?
Sou um místico agnóstico – ou seja, uma pessoa que não está ligada a uma religião, mas tem espiritualidade. O meu olhar, a minha forma de ver o mundo, é humanista, prega que se aceite com ternura a condição humana e as circunstâncias de cada um. A mensagem que quis passar foi: este é o mundo, você tem de lidar com ele. Procure compreender as motivações dos personagens como seres humanos que são, sem o julgamento rápido na primeira ação. Essa é a mensagem.
Politicamente, me considero uma pessoa de “centro”, ou seja, aquela minoria hoje, no Brasil, devastada e ironizada, porque é uma posição difícil até quando se faz críticas à esquerda e à direita para não incorrer em falsas simetrias. Agora, considero fundamental ser honesto comigo mesmo, expor o que penso, sem enganar a mim e aos outros.
No fundo, sou um pouco anarquista, um pouco existencialista e um pouco conservador – não no sentido que se dá à palavra hoje – mas à antiga, ao estilo do meu avô. E a gente tenta manter o equilíbrio. Nessa idade, se não sou o que sou, não sou nada!
Politicamente, me considero uma pessoa de “centro”, ou seja, aquela minoria hoje, no Brasil, devastada e ironizada, porque é uma posição difícil até quando se faz críticas à esquerda e à direita para não incorrer em falsas simetrias. Agora, considero fundamental ser honesto comigo mesmo, expor o que penso, sem enganar a mim e aos outros.
No fundo, sou um pouco anarquista, um pouco existencialista e um pouco conservador – não no sentido que se dá à palavra hoje – mas à antiga, ao estilo do meu avô. E a gente tenta manter o equilíbrio. Nessa idade, se não sou o que sou, não sou nada!
Entre os 22 contos, qual o que considera mais representativo?
O Dionísio, o pistoleiro. Herói ou vilão? Tudo é relativo. Todos os valores estão ali numa gangorra. Acho que consegui mostrar nesse conto como as coisas são fluidas. Em termos metafísicos é a discussão entre o bem e o mal. O velho pistoleiro, em sua última missão, executado pelo policial em frente da igreja, que executou também a moça que acompanhava o pistoleiro. Um contexto que nos leva a questionar os conceitos.
O Canal de Dotonbori
De George Borten
Quixote DO Editoras Associadas
133 páginas
R$ 45