Lembro-me de um comentário da Fernanda Montenegro a respeito da edição de um livro que estava para ser lançado sobre a sua brilhante e querida carreira. Ela dizia que um livro, apesar de seu propósito nobre, é algo de inútil, incapaz de reter o instante, o momento fugidio e não perene do teatro.
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Não obstante, estamos aqui lançando um livro que tenta dar conta, traduzir e interpretar a trajetória de quase 40 anos do Galpão. E fica a pergunta: qual o sentido do registro de um livro?.
O primeiro argumento é político e me parece fundamental. Num momento em que vivemos em nosso país uma espécie de encruzilhada civilizatória, em que a cultura brasileira vem sendo sistematicamente bombardeada e sufocada por um projeto político que visa à destruição de todo e qualquer pensamento livre e crítico, é essencial que o registro e a reflexão sobre a trajetória artística do Galpão sejam muito bem celebrados.
É curioso pensar que o Galpão tenha sua origem exatamente nos estertores da ditadura militar. Um período em que a desastrosa ação dos governos ditatoriais (que tristemente nos impuseram a mão pesada do autoritarismo ao longo de 21 anos) começava a mostrar sinais de esgotamento e decadência, dando um respiro para que a sociedade civil começasse um movimento de reação, clamando por reivindicações como anistia e a volta dos exilados políticos, o fim da censura e as eleições diretas.
Os primeiros nove anos (1982-1991), que são tratados pelo primeiro capítulo do livro com o título de “Anos heroicos”, mostram esse período de árdua sobrevivência. A luta de uma geração que encontra no teatro uma válvula de escape para reivindicar e respirar liberdade, fantasia e imaginação. Reunidos no Festival de Inverno da UFMG, um dos maiores bastiões de resistência em Minas contra a opressão do regime, o grupo de atores se aglutina e começa a falar uma linguagem teatral comum conduzidos pelas mãos dos diretores da companhia alemã Teatro Livre, da cidade de Munique.
Estavam lançadas ali as bases de um trabalho que faria da rua seu palco e lugar de maior destaque. Até hoje, a primeira ideia que vem à cabeça das pessoas quando se fala no nome do Galpão é a linguagem da rua e seu teatro popular dirigido sempre para seu público ávido e heterogêneo. E foi ali, no início dos anos 80, que aqueles atores, imbuídos por um desejo incontrolável de viver de teatro, partem para a vida mambembe, assumindo plenamente o sentido de risco e rito inerentes à atividade do teatro. Se não existia a possibilidade de ocuparmos uma sala de espetáculos, a rua passaria a ser o nosso palco.
Encontro com linguagens É curioso pensar como, desde esses primórdios, o Galpão já tinha enraizado os princípios fundamentais que marcariam as bases de sua estrutura e de seu impulso artístico: a busca por um teatro constantemente experimental que nos colocasse em risco e longe das certezas; a trilha do encontro com linguagens que nos abrissem novos desafios e perspectivas de alargar nossos limites, sempre nos colocando no lugar de aprendizes; a profissionalização que nos permitisse viver e praticar cotidianamente o ofício do teatro e o encontro quase despudorado com o público, praticando um teatro que se propunha a ocupar todos os espaços disponíveis. Um teatro que tinha e tem como premissa essencial o enraizamento na comunidade.
Passado esse primeiro momento em que as funções e a organização do trabalho artístico e de produção do grupo ainda são muito indefinidos, o Galpão pouco a pouco vai ganhando o contorno de um grupo de atores sem um diretor definido. A partir das parcerias com diretores como Paulinho Polika e, especialmente Eid Ribeiro, essa tendência se reforça e, a partir do terceiro capítulo – “A explosão barroca do teatro” –, que contempla o encontro do grupo com o diretor Gabriel Villela, o livro vai esmiuçando os diferentes encontros do grupo com diretores, cenógrafos, figurinistas, dramaturgos, iluminadores, atores, críticos e técnicos que foram fundamentais em nossa formação e que moldaram, com suas diferentes visões e maneiras de encarar o teatro, a linguagem do Galpão.
Sem qualquer planejamento prévio, o grupo acaba transformando-se num coletivo de atores sem um diretor fixo e isso vai acabar tornando-se determinante na linguagem um tanto híbrida e heterogênea do teatro do Galpão. Um grupo que, ainda que mantendo uma acentuada característica de teatro popular e de rua, é capaz de passear por diferentes estilos e formas de pensar e de fazer o teatro.
São essas diferentes formas e estilos que as quase 228 fotografias expostas no livro retratam com bastante fidelidade. Lá estão os esquetes de circo, a Commedia dell’Arte, a bufonaria clownesca, a comédia clássica, Shakespeare, o teatro popular brasileiro, o circo-teatro, a tragédia expressionista, o teatro musical, as peças naturalistas, o teatro épico de Brecht, o agit-prop, o realismo de Tchékhov, e Stanislavski, o contemporâneo performático e anti-interpretação, em imagens que marcaram a vida e as retinas de milhares de espectadores de teatro ao longo de quase quatro décadas de história.
A história em 16 atos
O livro “Grupo Galpão – Tempos de viver e de contar” abre com um texto de caráter histórico, escrito por mim, que passeia cronologicamente pelas 26 montagens feitas pelo Galpão entre 1982 e 2018, intitulado “A utopia da poesia no mundo”. Na sequência, o pesquisador Valmir Santos lança um olhar crítico sobre essa mesma trajetória em seu texto, que ganhou o título de “A convicção artística da Rua Pitangui”.
Daí o livro segue dividido em 16 capítulos (“Uma história em 16 atos”), que mesclam trechos de críticas e matérias jornalísticas com um extenso material fotográfico. São imagens que revelam as mutações artísticas vividas pelo coletivo ao longo de tantos encontros e trocas. Além da ampla cobertura dos espetáculos que compõem o currículo do Galpão, apresentado de forma cronológica, o volume conta com mais três adendos que retratam as duas temporadas do espetáculo “Romeu e Julieta”, dirigido por Gabriel Villela no Globe Theatre, em Londres, as filmagens do documentário “Moscou”, dirigido por Eduardo Coutinho e Enrique Diaz, e a experiência artística e pedagógica do Galpão Cine Horto. O extenso material fecha com a inclusão das fichas técnicas dos espetáculos e uma versão em inglês do meu texto e do de Walmir.
A divisão em 16 atos me pareceu, além de didática, bastante relevante para mostrar ao público leitor como a prática das montagens e criações de espetáculos foram determinantes na construção desse barro de que é feito o Galpão. Depois dos chamados “anos heroicos” em que o grupo forma e consolida uma linguagem e uma estrutura mínima de trabalho, o segundo capítulo relata a guinada em busca da realidade brasileira e nossas origens, marcadas pela parceria com o diretor Eid Ribeiro, que redundou em espetáculos fundamentais como “Corra enquanto é tempo”, com dramaturgia do próprio Eid, e a montagem da peça “Álbum de família”, de Nelson Rodrigues.
Na sequência, vêm os trabalhos com Gabriel Villela, que projetaram o teatro do Galpão no Brasil e no exterior, com encenações absolutamente marcantes de “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, e da Paixão de Cristo em “A rua da amargura”. O título do capítulo faz referência à irresistível “máquina de ver” do teatro essencialmente barroco e popular de Gabriel e seu encontro com o Galpão. Esse mesmo encontro ganha ainda outro capítulo posterior, dedicado à nossa leitura da pungente e delirante dramaturgia de Pirandello, na montagem de “Os gigantes da montanha”.
Colaborações externas Os atos essenciais da saga do Galpão seguem com encontros também marcantes com Cacá Carvalho na criação do espetáculo “Partido”, uma adaptação do romance “O visconde partido ao meio”, de Italo Calvino; os dois encontros com nosso querido Paulo José, que redundaram nos grandes sucessos que foram “O inspetor geral”, de Gógol, e “Um homem é um homem”, de Brecht. Daí, cronologicamente, a saga segue com a criação de “Pequenos milagres”, na parceria com Paulo de Moraes; a viagem ao universo da obra de Tchékhov em “Tio Vânia” e “Eclipse”, que nos deram o privilégio de trabalhar com Yara de Novaes e Jurij Alschitz. O ciclo com colaborações externas se completa com os espetáculos “Nós” e “Outros”, trabalhos de dramaturgia própria e que, pelas mãos de Marcio Abreu, nos possibilitaram um mergulho na contemporaneidade da performance.
Também são contempladas em capítulos distintos as experiências de direções internas, em que atores do próprio grupo dirigem o Galpão, em processos que, sem sombra de dúvidas, revelaram-se extremamente vivos e revigorantes. São capítulos dedicados a “Um Molière imaginário” (1997, com direção minha), “Um trem chamado desejo” (2000), direção de Chico Pelúcio, “Till, a saga de um herói torto” (2011), direção de Júlio Maciel, e “De tempo somos” (2014), direção de Lydia Del Picchia e Simone Ordones. Todos foram espetáculos de grande sucesso que retrataram a veia popular do teatro do grupo, com utilização da música ao vivo, tocada e cantada pelos atores em cena, outra característica notável da nossa linguagem teatral.
Além da gênese e da criação dos espetáculos, “Grupo Galpão: tempos de viver e de contar” traz também as diversas experimentações de workshops, oficinas, intercâmbios, improvisos, performances e encontros múltiplos promovidos pelo grupo e que redundaram num extenso material de teatro que não se converteu em espetáculo e que nunca foi mostrado ao público. O conteúdo do livro não chega aos dias atuais. As atividades do período da pandemia (que, por sinal, não têm sido poucas!) ficaram de fora. Era preciso dar um ponto final. Ponto final que coincidiu com a interrupção do espetáculo “Quer ver escuta”, dirigido por Marcelo Castro e Vinícius de Souza. A estreia estava prevista para 3 de abril de 2020, no Festival de Teatro de Curitiba. Nosso último ensaio presencial aconteceu na sede do Galpão, em 17 de março de 2020.
Para que tudo não termine de forma melancólica e derrotista, é bom lembrar que o patrocínio e a chancela do Sesc SP, que vem prestando um inestimável serviço à cultura do país, possibilitou a realização deste livro, que é o documento mais completo e abrangente sobre a história do Galpão, um coletivo artístico prestes a completar 40 anos em 2022.
E assim, last but not least, voltemos ao tema do começo deste texto. Ainda que o tempo do teatro seja efêmero e fugidio, a resposta do sentido deste livro está no próprio tempo da história. Quando, daqui a 40 anos, as novas gerações folhearem estas páginas, terão a certeza de que o teatro é possível e absolutamente necessário. Terão também a exata medida do seu significado para uma comunidade, especialmente na maneira em que ele constrói e solidifica laços de afeto e de identidade.
Certamente que não existem caminhos estabelecidos, mas a simples experiência do Galpão não deixa de ser um facho de luz que indica perspectivas e possibilidades. Nesse sentido, a longevidade e o reconhecimento do trabalho do grupo simbolizam a viabilidade do teatro como um lugar da utopia nas nossas vidas. Do poder da imaginação e da reinvenção do mundo como algo que se faz fundamental no horizonte dos homens em todo e qualquer período da história. Este livro é o testemunho de um ato de fé de que o teatro e seu poder de criatividade sobreviverão e manterão sua chama acima de totalitarismos, violência, intolerâncias, barbárie e pandemias. Fica aqui uma chama.
* Ator, diretor artístico e um dos fundadores do Grupo Galpão
Da tensão russa à retomada da parceria com Gabriel Villela
“Em julho de 2013, enquanto ‘Tio Vânia’ estava se apresentando em Roma, o elenco de ‘Eclipse’ viajou para Berlim para fazer um trabalho no estúdio de Jurij Alschitz, que também contou com a diretora lituana Olga Lapina como assistente de direção. O foco do diretor russo estava mais no percurso que na chegada. Mais que um espetáculo a ser montado, existia um caminho pedagógico a ser desenvolvido e exercitado. Depois da leitura de mais de 150 contos do autor russo e uma quantidade grande de improvisos e propostas de cenas elaboradas pelos atores, o roteiro não se concretizava e o diretor insistia na tecla do treinamento.
Já no Brasil para os acertos finais da montagem, os ensaios transcorreram com uma tensão entre o grupo de atores, que buscavam uma dramaturgia, e o diretor, que acreditava que o mais importante era “aprimorar uma ética da prática teatral” a partir de um treinamento, e que a forma de um espetáculo era algo a ser encontrado com certa facilidade, portanto, deixado para a parte final do processo.
O roteiro foi finalmente amarrado com base na ideia de um grupo de pessoas enclausuradas numa sala num dia em que ocorre um eclipse solar. Confinados, os personagens contam histórias e situações retiradas de alguns contos de Tchékhov, como ‘A groselheira’, ‘O duelo’, ‘A descoberta’ e o monólogo de Nina na peça ‘A gaivota’. O espetáculo traz em sua estética a limpeza e as formas geométricas do futurismo russo, inspirado sobretudo na obra de Malevich. O cenário era composto apenas por uma enorme parede com uma porta onde se via o nome Checkov grafado.
Os objetos de cena eram cadeiras simples e geométricas que eram manipuladas pelos atores ao longo do espetáculo. Nesse sentido, ‘Eclipse’ aposta no teatro sem qualquer resquício de representação. Os atores contavam histórias como atores e distantes da ideia de personagem. A estética do espetáculo se apresentava sem qualquer adorno. As linhas, os quadrados, os triângulos e os círculos nos remetiam sempre a uma abstração que rejeitava qualquer possibilidade de imitação da natureza.
A proposta inicial de que as duas montagens pudessem promover um intercâmbio entre as distintas partes do grupo dividido acabou não se concretizando. Na construção de ‘Tio Vânia’, a direção de Yara sentiu a necessidade premente de um processo de concentração e recolhimento que tendeu mais para um olhar para dentro do que para uma demonstração de processo. Já a construção de ‘Eclipse’ aconteceu num momento em que o outro elenco estava viajando, cumprindo turnês em outras cidades. A duras penas, alguns atores do núcleo de ‘Tio Vânia’ ainda conseguiram acompanhar os exercícios e jogos propostos pela pedagogia de Jurij.
Novo espetáculo de rua Depois de ‘Viagem a Tchékhov’, o mergulho no teatro realista e a busca de uma limpeza de formas e meios, numa interpretação mais contida e minimalista, era chegada a hora de apontar a bússola para outra direção. Para isso, a primeira decisão foi montar um novo espetáculo de rua. Algo que nos aproximasse mais uma vez da pujança de uma representação transbordante, voltada para fora. Algo alegórico, carnavalesco, impuro, miscigenado e profundamente brasileiro. As coordenadas nos conduziam para uma nova parceria com Gabriel Villela.
O reencontro, depois de mais de vinte anos, precisava buscar novas motivações, outros desafios e esfinges teatrais. Depois de pensar em ‘Hamlet’ e ‘Doutor Fausto’, Gabriel acabou nos propondo o encontro com a obra de Pirandello em sua última peça, a inacabada ‘Os gigantes da montanha’. Na verdade, Pirandello sempre esteve na nossa mira. Quando optamos por Tchékhov, passamos antes por algumas de suas peças, especialmente ‘Vestir os nus’, ‘Esta noite se improvisa’ e ‘Seis personagens à procura de um autor’. Sua subversão das formas teatrais, sua síntese entre popular e erudito, seu permanente questionamento sobre o lugar possível do teatro e sua existência na sociedade foram e são elementos determinantes para o nosso interesse em sua obra.
O risco mais instigante foi traduzir a obra mais filosófica e complexa de Pirandello para o público da rua. Ao mesmo tempo, o resgate da parceria com Gabriel – com quem havíamos criado os dois maiores sucessos da carreira do grupo, com um material tão distinto, estranho e provocador – nos pareceu um desafio bem importante. As primeiras leituras, no entanto, revelaram-se um tanto frustrantes para a maioria. Quase todos consideraram impossível levar uma dramaturgia tão complexa como a dos ‘Gigantes’ para o ambiente disperso e para o público da rua. O texto dá muitas voltas, tem muitas camadas narrativas e vem carregado de uma atmosfera surrealista que assustava todos. Como traduzir esse complexo universo para o homem da rua? Como deixar claro um enredo tão povoado de digressões e filosofia para pessoas que talvez nunca tivessem entrado num teatro e não tivessem a menor intimidade com as convenções da arte teatral, elementos que estão no centro da dramaturgia de Pirandello?
Viagem lisérgica
Para começar, precisávamos tornar o percurso do texto claro para nós mesmos. A primeira impressão que ficava era de uma viagem lisérgica empreendida pelo autor na construção da fábula, em que o mundo do teatro (representado pela companhia da condessa Ilse) se encontra com o mundo da magia e da imaginação (a vila governada pelo mago Cotrone). O enigma de quem seriam esses gigantes, um povo empreendedor que acaba por destruir a arte, era outra charada a ser decifrada. Outro elemento fascinante e, ao mesmo tempo, intrigante da peça é seu final em aberto, uma vez que Pirandello, depois de anos escrevendo e reescrevendo a peça, não conseguiu terminá-la, tendo apenas ditado um final para seu filho Stefano no leito de morte.
Como primeiro passo, passamos uma semana lendo e tentando decifrar toda a simbologia do texto. Quem nos conduziu nessa façanha foi Francesca Della Monica, preparadora vocal, maestrina e filósofa que nos acompanhou durante toda a montagem. Seu vigoroso trabalho, em que se busca um treinamento para a espacialização tridimensional da voz no espaço, foi de grande importância na trajetória do Galpão. Paralelamente aos estudos da peça, Gabriel – acompanhado de Francesca, Babaya e Ernani Maletta – selecionou um repertório de músicas italianas que fizeram a amarração da dramaturgia do espetáculo. A ideia era eleger alguns hits bem caricatos da música popular italiana, os grandes sucessos da época do festival de San Remo, como ‘Il mondo’ e ‘Io che amo solo te’, como uma ponte entre Pirandello e o espectador da rua.
Os ensaios aconteceram no espaço do Galpão, ocupado por várias mesas coloniais enormes construídas na cidade de Passos, no interior de Minas, com madeira de demolição. Em meio a uma verdadeira instalação cenográfica, com panos coloridos e figurinos vistosos, o grupo realizava leituras de mesa buscando encontrar a embocadura de cada fala para cada personagem. Num dado momento do processo, cada ator desenvolveu uma oficina de apresentação de seu personagem, que deveria conter um monólogo, uma música de repertório já selecionada e uma proposta de utilização de três dispositivos cênicos distintos (ita- liano, elisabetano e de arena) criados pela disposição das mesas no espaço cênico. Durante o processo de criação, Gabriel foi compondo com os atores e José Rosa, seu assistente, os figurinos dos personagens e a disposição cenográfica das mesas no espaço. Para a criação da iluminação, Chico Pelúcio assumiu a função com Wladimir Medeiros.
Com a gradativa construção das cenas, a dramaturgia também foi sendo adaptada. Foi preciso em alguns momentos reiterar o fio da meada. Para isso, narrativas explicativas foram introduzidas e uma das questões fundamentais a serem resolvidas foi a de traduzir cenicamente o final da peça, não escrito pelo autor. Depois de uma série de tentativas, Gabriel optou pela utilização de uma espécie de “gromelô”, em que os personagens falavam uma língua inventada. Os atores realizaram, então, mais uma oficina, em que foi criado um “gromelô” inspirado numa prosódia grega.
A estreia de ‘Os gigantes da montanha’, em Belo Horizonte, foi um verdadeiro fenômeno na carreira do grupo e um marco cultural na cidade. Em seis apresentações, distribuídas em dois fins de semana, na Praça do Papa e no Parque Ecológico da Pampulha, o espetáculo atingiu um público de aproximadamente 40 mil espectadores, com multidões espremidas em absoluto silêncio. Só na última apresentação, realizada num domingo, na Pampulha, foram registrados, nas catracas de entrada do parque, mais de 11 mil espectadores. Seguindo a diretriz de sempre levar o teatro para regiões que estivessem fora do circuito cultural, o Galpão foi com ‘Os gigantes’ a cidades do Vale do Jequi- tinhonha, em Minas, e ao Vale do Rio Tocantins, nos estados de Tocantins, Maranhão e Pará. O encontro com um público que, em sua grande maioria, nunca tinha tido nenhum contato com o teatro comprovou a extraordinária magia do texto de Pirandello.”
Trecho do livro “Grupo Galpão: tempos de viver e de contar”
“Grupo Galpão: tempos de viver e de contar”
Organização de Eduardo Moreira
Edições Sesc SP
351 páginas
R$ 88
Lançamento quinta-feira (15/7), às 19h, no YouTube do Sesc Pinheiros, com participação de Eduardo Moreira e Inês Peixoto, atriz do grupo