A sogra de Bruno Pereira, indigenista assassinado na Amazônia, critica a postura do governo brasileiro com relação aos povos indígenas.
Muitos estão sendo enganados para entregarem suas terras. Estão tentando convencer os indígenas de que vida boa é dentro da sociedade de consumo. Que os modos de vida tradicionais significam pobreza. E o que estão fazendo? Tentando convencer os indígenas que devem trocar as suas terras por mercadorias, que devem deixar a exploração de minério, de madeira, acontecer dentro dos seus territórios.
O que determina mesmo o ser índio é estar na sua terra. Se conseguirem manter as terras, acredito que essa questão das missões vão e vêm. Os indígenas já tiveram tanto assédio de missionários religiosos de várias seitas e muitas vezes isso não afeta tanto, desde que a política do Estado não os leve a perder os seus costumes e a sua língua. Mas o problema é que estamos tendo assédio massivo dos missionários evangélicos e a política de arrasar tudo do governo Bolsonaro. Se esses povos perderem as suas terras, vão para as cidades virar favelados.
Vão deixar de ser índigenas As próprias lideranças indígenas dizem: as formas de vida dos povos indígenas têm a ver com os seus respectivos territórios. O Huni Kuin não vai conseguir viver como Huni Kuin fora da floresta amazônica, onde está o rio que alimenta há séculos os seus ancestrais.
Como a maioria das pessoas, reitero que esse assassinato representa para o Brasil inteiro, para nós todos, independentemente de trabalharmos com indígenas ou não, um sinal de alerta muito forte: nós não estamos prestando atenção no que os governantes, no que o Estado brasileiro, está fazendo com a sociedade e com os nossos biomas.
Pois não é só a Amazônia, mas também o cerrado, a Serra do Curral, a Serra do Cipó... Todos os biomas brasileiros estão ameaçados e todas as lideranças, como foi Bruno, que mantêm atividades de defesa desses biomas, estão sendo mortas de uma forma ou de outra, assassinadas a mando do próprio Estado, pois se não é a mando, é por falta de proteção, o que dá no mesmo.
Então, representa sinal de alerta que ou mudamos nossa vida, no sentido de levar a sério a questão ambiental, ou então esse caos social que estamos vivendo vai crescer e ficar insustentável. Como dizem os mitos indígenas, o mundo acaba mesmo, o nosso mundo dos humanos, a nossa civilização está entrando em colapso.
E a morte do Bruno foi tão sentida, pois todo mundo escutou esse grito de alerta. E por outro lado, foi lindo o que ficou da imagem dele, o que legou aos meus dois netinhos, que vão ter é o canto dele na floresta. São duas crianças, de 2 e 4 anos.
O que representa para a literatura indígena o dossiê temático da revista da Academia Mineira de Letras, que, sob o título “Poesia Indígena de Minas Gerais”, integra a edição comemorativa dos cem anos da revista?