Jornal Estado de Minas

PENSAR

Jacqueline Farid mistura turismo, mistério e espiritualidade em livro


 
Buscar conexão com os antepassados, conhecer o mundo em que viveram e, ainda mais, tentar imaginar o que pensavam e como gostariam de saber como seria a vida dos seus descendentes é uma fantasia que acompanha os seres humanos desde sempre, principalmente o que os cruzam fronteiras e mares, muitas vezes levados por uma diáspora irremediável. Em “O árabe invisível”, seu terceiro romance (depois de “No reino das girafas” e “Prana”), a jornalista mineira Jacqueline Farid dá asas a esse mundo imaginário e leva o leitor a uma viagem fantástica ao Líbano, a Istambul (Turquia) e à Jordânia, na qual os protagonistas são a brasileira Soraia, descendente de libaneses, e o espírito do seu avô Youssef, designado pelo Outro Lado para protegê-la de um perigo que ela desconhece.





Jacqueline Farid, neta de libaneses, apresenta como cenários locais de suas andanças nos três países para contar a aventura de Soraia em sua missão de ir para o Líbano buscar o ouro enterrado por Youssef. É um pedido do avô, repassado pela mãe, velha e doen- te. “Para alcançar essa meta, decidi não confiar apenas na ciência, mas também implorar a todos os deuses, santos, ancestrais e entidades que encontrar pelo caminho. A dor da doença me assusta mais do que a morte. O que parece roteiro de viagem é, na verdade, o diário de uma fuga”, revela Soraia.

O romance alterna os capítulos, ora com Soraia narrando sua aventura na primeira pessoa, ora com Youssef ainda tentando entender sua inusitada viagem de volta ao Oriente, agora como ser etéreo, para vigiar a neta. O ponto de partida é a floresta de cedros da cidade libanesa de Bsharri, por onde passseia o espírito de Youssef. Esse árabe invisível “tem a morte inteira pela frente e há muitos anos, junto com ele, foi enterrada a sua pressa”. É a partir deste lastro com a eternidade que Jacqueline Farid mergulha o leitor numa busca pela ancestralidade, tendo como referência a diáspora do povo libanês.

Enquanto Soraia se aventura na busca do tesouro do avô, Youssef, ele próprio, em espírito, reflete sobre o seu passado terreno ao acompanhar a neta que não conhecera adulta. Em meio a esses destinos paralelos, surge também o espírito do famoso escritor libanês Gibran Khalil Gibran (1883-1931). Nascido em Bsharri, ele será o companheiro de viagem de Youssef e um atrativo a mais para o inusitado romance que mistura turismo, mistério e espiritualidade.





Com naturalidade e explorando um tema difícil para escritores, que é a presença de um espírito como personagem, Jacqueline Farid fisga o leitor, faz a obra fluir sem atropelos e desvios na narrativa para chegar ao que interessa: será que Soraia vai superar os perigos e resgatar o ouro do avô, que também envolve a imagem de Nossa Senhora?
 
 
O árabe invisível
De Jacqueline Farid
Páginas Editora
210 páginas
R$ 49
Lançamento neste sábado (5/11), a partir das 10h, na Livraria Jenipapo – Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi, Belo Horizonte