Jornal Estado de Minas

PENSAR

Nova edição reafirma a força poética de "Marília de Dirceu"

 

Marília está no Olimpo das emoções de Dirceu. Mas entre os dois há um mar imenso, ilhas de sofrimento separando os corações, e, apaixonadamente, maravilhas a serem escritas sobre os sentimentos – tão vastos que as profundezas do Oceano Atlântico não conseguem afogar. Como só mesmo a poesia para enaltecer a grandeza dos afetos, e aplacar suas dores, Dirceu, no corpo e alma de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), escreve as liras em ode à saudosa musa Marília, a jovem Maria Doroteia Joaquina de Seixas (1767-1853).





 

O resultado, passados mais de 200 anos, está na nova edição de “Marília de Dirceu”, lançamento do selo Penguin, da Companhia das Letras. Independentemente da época em que se vive, os versos trazem beleza, transportam o leitor no balanço do tempo e acalentam o coração com a “tenra mão de Amor”. O livro reúne as liras reconhecidas e publicadas, além da produção apócrifa, de um dos autores mais importantes do arcadismo brasileiro.

 

Personagem histórico associado à Conjuração ou Inconfidência Mineira (1788-1789), movimento lembrado hoje, 21 de Abril, em solenidade cívica em Ouro Preto, na Região Central de Minas, Tomás Antônio Gonzaga, que assinou T.A.G., foi condenado à prisão e exilado em Moçambique, na África, até o fim da vida. Mas não morreu de amor – lá, constituiu família, mas isso é outra história, pois o que está nas páginas da obra é grande parte da sua poesia lírica, publicada, pela primeira vez, em 1792, pela Tipografia Nunesiana de Lisboa, Portugal. Assim, nos versos, existe apenas Marília no foco de Dirceu.

 

Conforme divulgado pela editora, Gonzaga, na primeira parte das liras, personifica o sentimento amoroso em “Marília”, alvo romântico de “Dirceu”, aludindo à natureza idealizada e à durabilidade da arte frente ao efêmero da vida. Já na segunda, as aflições do cárcere ecoam nos versos a partir de temáticas que sugerem melancolia e a constante saudade da amada. 





 

Nesta edição da obra poética do arcadismo brasileiro, o conjunto, que possuiu muitas versões, aparece com estabelecimento de texto a cargo de Heidi Strecker, bacharela em letras e em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa com a dissertação “Figura de Marília: Aspectos da poética de Tomás Antônio Gonzaga”.

 

Vale esclarecer que o “estabelecimento de texto” é feito, em geral, em escritos de autores clássicos que, normalmente, têm inúmeras edições e até versões distintas. A editora explica que “às vezes, duas obras são reunidas num só volume, ou é feita alguma coletânea que corta uma parte de um texto, enfim, são inúmeras as alterações que podem ocorrer ao longo de anos de publicação”. Assim, quem faz o estabelecimento pesquisa as diferenças entre essas edições, tentando, de certa forma, encontrar a versão que mais se aproxima do desejo “original” de seu autor.

 

 

 

IMPACTO PÚBLICO 

 

O professor de literatura da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sérgio Alcides, destaca dois aspectos fundamentais da obra: o grande impacto público causado na época do lançamento da primeira edição de “Marília de Dirceu”, no século 18, e por não ser uma poética redutível ao academicismo predominante na época. “O livro fala da vida, não se restringindo a cumprir preceitos de tratados de poética acadêmica, muito rígidos, exigidos no seu tempo.”





 

“Foi um livro que vendeu muito quando publicado pela primeira vez. Teve sucesso editorial, em Portugal, comparável às obras dos portugueses Luiz de Camões (1524-1580), autor de ‘Os Lusíadas’, e Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805)”, explica Sérgio Alcides.

 

Diante da grande aceitação pelo público, foi feita uma edição apócrifa, falsa, imitando o estilo de Tomás Antônio Gonzaga, e circulando, no século 19, como se fosse de autoria dele. “No século 20, é que a crítica literária terminou de demonstrar que essa terceira parte era falsa, sendo, então, desfeita a fraude.”  

 

O livro teve muita influência (posterior) na poesia brasileira do século 19, “inclusive porque ficou associada a ele, inevitavelmente, a história bem conhecida do infortúnio amoroso do autor, que não pôde se casar, como pretendia, com a moça da sociedade mineira representada pela personagem Marília”.

 

 

 

PURA MÚSICA 

 

Quem nunca leu as liras “compostas” por Dirceu em homenagem a Marília pode considerá-las música para os olhos.  E não apenas para os ouvidos. Um exemplo:

 

“Se o vasto mar se encapela,

E na rocha em flor rebenta,

Grossa nau, que não tem leme,

Em vão sustentar-se intenta;

Até que naufraga, e corre

À discrição da tormenta.





 

Quem não tem uma Beleza,

Em que ponha o seu cuidado,

Se o Céu se cobre de nuvens,

E se assopra o vento irado,

Não tem forças que resistam

Ao impulso do seu fado.”

 

Na introdução do livro, a professora Adma Muhana, doutora em filosofia pela USP, onde ensina literatura portuguesa desde 2004, ressalta: “’Marília de Dirceu’ é um livro acerca do qual muitos já ouviram falar. Seja em razão de Tomás Antônio Gonzaga, seu autor, ser considerado um dos principais mentores da Inconfidência Mineira; seja por alguns críticos da literatura terem identificado na obra a origem de uma poesia propriamente brasileira; seja, enfim, em razão da musicalidade dos seus versos. O fato é que, dos escritores ‘ditos’ coloniais, Gonzaga foi o que teve maior quantidade de edições no Brasil e um dos mais admirados pelos leitores de poesia”.

 

Adma Muhana escreve ainda que desde o início do século 19 as liras de Marília de Dirceu foram objeto de partituras musicais, de que se encontram cópias em arquivos e bibliotecas brasileiras e portuguesas. E cita o comentário de Luciana Stegagno Picchio, em “História da literatura brasileira (1977): “Poeta disputado pelas duas literaturas, a brasileira e a portuguesa, Gonzaga é aqui registrado sobretudo como uma encarnação de um mito romântico brasileiro: o do conjurado ‘inconfidente’ e do homem enamorado lançado ao cárcere na véspera do casamento”.

 

 

 

DE CARNE E OSSO 

 

No Museu da Inconfidência, na Praça Tiradentes, no Centro Histórico de Ouro Preto, repousam os restos mortais de Maria Doroteia Joaquina de Seixas (1767-1853), a musa Marília de Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu. Há, na lápide, uma inscrição mesclando realidade e ficção, conforme notou a escritora e pesquisadora Cláudia Gomes Pereira.





 

“Logo abaixo do nome de batismo de Maria Doroteia (falecida há 170 anos), está escrito, entre parênteses, Marília de Dirceu. Portanto, é a personagem se juntando à realidade”, afirma Cláudia Pereira, para quem a história de amor de Gonzaga e Maria Doroteia atravessou os tempos, e a literatura e permanece na memória afetiva e cultural do Brasil. “Tal qual a história de ‘Romeu e Julieta’, guarda essa mistura de ficção e realidade”, compara. Cláudia conta que Doroteia foi sepultada na Igreja Nossa Senhora da Conceição, de Ouro Preto, e depois teve os restos mortais trasladados para o Museu da Inconfidência, onde fica na sala anterior ao Panteão dos Heróis da Inconfidência Mineira.  

 

Estudiosa, com mestrado e doutorado, da vida e obra da poetisa Beatriz Brandão (1779-1868) – Beatriz foi fundadora de uma escola de moças em Ouro Preto, era escritora de vanguarda e prima de Maria Doroteia –, Cláudia explica que, em texto publicado pela poetisa na ocasião da morte da prima, ela usa as palavras “mulher inteligente, perspicaz, muito bonita e realmente musa de Gonzaga” para descrevê-la.

 

A exemplo da história de Romeu e Julieta, de William Shakespeare (1564-1616), Maria Doroteia e Tomás foram separados desgraçadamente – esses dois, na realidade, pela Coroa portuguesa. “Já Marília e Dirceu continuam juntos, eternizados na obra literária.”

 

Condenado a 10 anos de degredo em Moçambique, onde viveu até o final da vida, em 1809, Tomás se casou, lá, com Juliana de Souza Mascarenhas, então com 19 anos, com quem teve um casal de filhos. Já Maria Doroteia nunca se casou, vivendo reclusa em Ouro Preto, e saindo de casa apenas para ir à missa.





 

 

 

IMPÉRIO PORTUGUÊS 

 

Conhecer as liras dedicadas a Marília de Dirceu é também mergulhar nas histórias de Minas Gerais e d’além-mar. Escreveu Adma Muhana: “Devemos pensar, com efeito, que a vida e a obra de Tomás Antônio Gonzaga remetem aos últimos momentos do ‘império marítimo português’. Nascido no Porto, em 1744, aos sete anos ele foi com a família para o Recife (PE), onde o pai serviria como magistrado. Daí, foi mandado para a Bahia, a fim de prosseguir os estudos no Colégio dos Jesuítas, no qual deve ter permanecido até 1759, quando a Companhia de Jesus foi suprimida no reino de Portugal. Em 1761, seguiu para a metrópole, tendo se doutorado em Leis na Universidade de Coimbra, em1768, como tantos filhos de funcionários da administração real. Serviu como juiz de fora em Beja e, em 1782, foi nomeado ‘ouvidor’ e ‘procurador dos defuntos e ausentes’ de Vila Rica (ex-Ouro Preto), onde se consolida sua carreira política e poética, aos 38 anos.”

 

Em Vila Rica, Tomás se aproxima do círculo letrado de Cláudio Manuel da Costa e do cônego Luís Vieira da Silva, e entra em conflito de jurisdição com o despótico governador Luiz da Cunha Meneses, contra quem escreve as satíricas “Cartas chilenas”. “Já inserido na sociedade mineira, prepara-se para se casar com a jovem Maria Doroteia de Seixas, rica sobrinha de um ajudante de ordens do governador, em quem se identifica a personagem “Marília” dos seus poemas – quando é promovido a desembargador da cidade da Bahia, em 1788. Porém, depois de solicitar a licença à rainha dona Maria I, e faltando dias para o casamento, é denunciado pelo tenente-coronel Joaquim Silvério dos Reis como um dos conjurados da conspiração que visava a subtrair a Capitania de Minas Gerais à Coroa, o que motivou sua prisão em maio de 1789.”

 

Mesmo que incontáveis vezes tenha afirmado inocência e o próprio Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier, 1746-1792 um dos expoentes da Conjuração Mineira) confirmasse “que Gonzaga não tomara parte nos conciliábulos, houve quem dissesse que ele estava cotado para ser o primeiro governante da nova República e autor da sua Constituição. Entre seus pertences sequestrados por ordem do governador, além de móveis e objetos domésticos, roupas e calçados de boa extração, próprios de um “tipo de vida pacato e burguês”, foram encontrados perto de cem livros “franceses, portugueses e latinos”. Levado ao Rio de Janeiro, Gonzaga permaneceu no cárcere da ilha das Cobras até ser transferido para as Casas da Ordem Terceira de São Francisco, como preso incomunicável. Depois de cinco interrogatórios sobre a conjura, no fim de exatos três anos foi condenado a degredo perpétuo em Angola, pena comutada por dez anos em Moçambique, para onde partiu “pelo navio da Índia Nossa Senhora da Conceição - Princesa de Portugal”.





 

“Marília de Dirceu”

 

 

 

Histórias das edições

 

Algumas edições de “Marília de Dirceu” ocorreram ainda em vida de Tomás Antônio Gonzaga, explica Adma Muhana na introdução do livro, “sem que tenhamos notícia do grau de interferência sua nessas publicações, ainda mais residindo em Moçambique, tão longe da metrópole”. Costuma-se considerar que aquela de 1799, reeditada em 1802 em duas partes, corresponde à feição do livro pretendida pelo autor. “Alguns poemas encontrados mais tarde e inseridos na primeira ou na segunda parte, outros cuja posição é modificada ao longo das edições, não alteram, substancialmente, o sentido do livro.”

 

Há uma primeira parte, com 33 liras, “em que o poeta externa seu amor por Marília, numa linguagem doce, cantábile, geralmente em redondilhas, em versos alegres e meigos, num cenário ameno e campestre”. “E uma segunda parte, com 32 liras (eventualmente, em edições com 34, 37 ou 38 liras apócrifas, cujo cenário é uma masmorra ‘cruel e tenebrosa’, ‘imunda e feia’, onde o poeta relembra os tempos felizes com a amada, que o sustentam em meio à presente tristeza; aí, protesta inocência e acusa a injustiça, além de proferir consolações a Marília, dando-lhe esperanças de um futuro sem perigos e dores. A terceira parte, supostamente apócrifa, de temas e gêneros poéticos variados, além de poemas dirigidos a Marília, apresenta poemas amorosos a diversas pastoras e aqueles em louvor a personagens da corte.”

 

POR QUE DIRCEU? 

 

Muitos leitores podem se perguntar sobre a origem do nome Dirceu. Eis a explicação nas palavras de Adma Muhana: “É sabido que desde a Laura, de Petrarca (1304-1374), as amadas dos poetas também receberam nomes motivados, passíveis de reunir numa só figura feminina as diversas ocasiões de uma história amorosa. No século XVI, Diogo Bernardes cantou uma Marília, Manuel Botelho de Oliveira cantou sua ‘Anarda’ e, para nos restringirmos ao Setecentos português, ‘Marílias’ foram cantadas ainda por Alexandre de Gusmão, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Pedro Correia Garção e outros, como Tomás Antônio Gonzaga. Quanto a Dirceu, é igualmente conhecido que os poetas da Arcádia adotavam nomes pastoris, como Glauceste Satúrnio (Cláudio Manuel da Costa), Termindo Sipílio (Basílio da Gama), Elmano Sadino (Manuel do Bocage), Albano (d. João V) etc.”





 

“Interessante notar, porém, que enquanto em Petrarca uma complexa convenção poética fará de Laura a alma (l’aura) do poeta, preciosa como o ouro (l’aurea), por isso loura como o sol, e por meio da qual a coroa de louros da vitória, a láurea, lhe será entregue; em Gonzaga, “louro” será não a ninfa Dafne, cobiçada e metamorfoseada no loureiro para escapar do deus Apolo, mas o próprio Deus da poesia, e, por conseguinte, o próprio poeta, que naquele se converte.”

 

O que é o arcadismo?

 

O arcadismo é uma escola literária que surgiu na Europa no século 18 mais precisamente entre 1756 e 1825, também denominada de setecentismo ou neoclassicismo. O nome arcadismo se refere à Arcádia, região campestre do Peloponeso, na Grécia antiga, tida como ideal de inspiração poética. 

 

AMOR ÀS LETRAS

 

O poeta... Tomás Antônio Gonzaga nasceu na cidade do Porto, em Portugal, em 1744. Viveu a infância no Brasil, mas retornou ao país natal para terminar seus estudos na Universidade de Coimbra. Mais tarde, tornou-se ouvidor-geral na Comarca de Vila Rica, hoje Ouro Preto, até o suposto envolvimento com a Inconfidência Mineira, que o faria ser exilado em Moçambique até o fim da vida. Embora sua produção não seja vasta, publicou o conjunto de liras “Marília de Dirceu” e a obra com poemas satíricos “Cartas chilenas”.





 

...e a musa. Na época da sua prisão, o poeta Tomás Antônio Gonzaga estava noivo de Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, jovem pertencente a uma família abastada de Ouro Preto – eram dedicadas a ela as liras que mais tarde seriam reunidas em “Marília de Dirceu”, cuja primeira parte foi publicada em Lisboa, pela Impressão Régia, em 1792. Gonzaga foi condenado a 10 anos de degredo em Moçambique, na África, onde viveu até o fim de sua vida, em 1809. Lá, casou-se com Juliana de Sousa Mascarenhas, com quem teve um casal de filhos. Já Maria Doroteia nunca se casal, vivendo reclusa em Ouro Preto, só saindo de casa para ir à missa.

 

TRECHO DO LIVRO

 

“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

Que viva de guardar alheio gado,

De tosco trato, de expressões grosseiro,

Dos frios gelos, e dos sóis queimado.

Tenho próprio casal, e nele assisto;

Dá-me vinho, legume, fruta, azeite,

Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,

Dos anos inda não está cortado:

Os Pastores, que habitam este monte,

Respeitam o poder do meu cajado.





Com tal destreza toco a sanfoninha,

Que inveja até me tem o próprio Alceste:

Ao som dela concerto a voz celeste;

Nem canto letra que não seja minha.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

 

Mas tendo tantos dotes da ventura,

Só apreço lhes dou, gentil Pastora,

Depois que teu afeto me segura,

Que queres do que tenho ser Senhora.

É bom, minha Marília, é bom ser dono

De um rebanho, que cubra monte, e prado;

Porém, gentil Pastora, o teu agrado

Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

 

Os teus olhos espalham luz divina,

A quem a luz do Sol em vão se atreve:

Papoula, ou rosa delicada, e fina,

Te cobre as faces, que são cor da neve.

Os teus cabelos são uns fios d’ouro;

Teu lindo corpo bálsamos vapora.

Ah! não, não fez o Céu, gentil Pastora,

Para glória de Amor igual Tesouro.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

 

Leve-me a sementeira muito embora

O rio sobre os campos levantado:

Acabe, acabe a peste matadora,

Sem deixar uma rês, o nédio gado.





Já destes bens, Marília, não preciso:

Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta,

Para viver feliz, Marília, basta

Que os olhos movas, e me dês um riso.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

 

Irás a divertir-te na floresta,

Sustentada, Marília, no meu braço;

Ali descansarei a quente sesta,

Dormindo um leve sono em teu regaço:

Enquanto a luta jogam os Pastores,

E emparelhados correm nas campinas,

Toucarei teus cabelos de boninas,

Nos troncos gravarei os teus louvores.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

 

Depois de nos ferir a mão da Morte

Ou seja neste monte, ou noutra serra,

Nossos corpos terão, terão a sorte

De consumir os dois a mesma terra.

Na campa, rodeada de ciprestes,

Lerão estas palavras os Pastores:

“Quem quiser ser feliz nos seus amores,

“Siga os exemplos, que nos deram estes.”

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!