Entender o mundo da Física, ciência que estuda os fenômenos e as estruturas fundamentais da natureza, pode parecer algo muito complicado. Afinal, conceitos e termos como elétrons, fótons, partículas, ondas, experimentos, átomos, equações e probabilidades não são necessariamente atraentes ou convidativos, o que provoca a sensação de distanciamento, mesmo eles sendo aplicados em nossos celulares, carros, garrafas térmicas e controles remotos. Lançado recentemente no Brasil, o livro "A era da incerteza - como os grandes gênios da física mudaram a maneira como vemos o mundo" (Planeta) ajuda a desmistificar o assunto ao mostrar, com uma linguagem simples, os erros e acertos, medos e angústias, sucessos e frustrações, conversas e brigas envolvendo as mentes mais brilhantes do século 20.
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Munido de cartas, anotações, documentos científicos, diários e memórias, o escritor pega a contramão de um caminho que parece inevitável, o dos números, e encontra no romance a saída para descrever e humanizar cidadãos que deram enorme contribuição para o desenvolvimento do planeta Terra. Para falar de física, Tobias Hürter troca as complexas fórmulas pelo charme da literatura, como é possível identificar no trecho abaixo.
"Uma tarde ensolarada, junho de 1922, em Gottingen. Dois homens absortos numa conversa passeiam pelo monte Hainberg. Os contrastes entre os dois são visíveis de longe. Um deles caminha a passos firmes e faz sempre pausas forçadas para não se adiantar. O outro anda como se fosse pensar antes de cada passo Quem os vê passeando juntos poderia imaginar que trata-se de pai e filho, ou talvez de velhos amigos. Mas essa é a primeira vez que se encontram. Niels Bohr, o mais velho, que em poucos meses receberá o Prêmio Nobel de Física, está em Gottingen para proferir uma série de palestras sobre os átomos."
Os físicos não querem apenas saber o que é certo, mas também entender por que é certo. Por isso, o livro é recheado de trechos onde esses estudiosos divergem, discutem e rivalizam para comprovar suas teses, teorias e pontos de vista.
O autor mostra como os assuntos pessoais de cada um - divórcio, filhos, preconceitos, vícios e saúde - influenciavam em suas pesquisas, mas também aborda temas políticos, como as guerras, que impactaram diretamente o desenvolvimento científico entre 1903 e 1945, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.
Fica claro, também, que alguns desses personagens participaram de períodos sombrios da humanidade, seja com apoio ao nazismo ou com a fabricação da bomba atômica, por exemplo.
Os brasileiros poderão se queixar, com razão, da falta de pelo menos uma citação ao mineiro Santos Dumont e seu 14 Bis, já que as façanhas dos irmãos Wright são lembradas no capítulo 'O fim dos charutos voadores'.
De todo modo, o livro consegue demonstrar que história e ciência têm uma ligação umbilical e, ao fazer isso utilizando a narrativa literária, Tobias Hürter dá a ele um perfil muito mais de novela do que de teoria. Assim, aproxima seus leitores da física e vice-versa.
Trecho
(De “A era da incerteza”)
“Berna, sexta-feira, 17 de março de 1905. Logo o relógio da torre Zytglogge tocará oito horas. Um jovem de terno quadriculado desce apressado a escadaria íngreme e estreita do segundo andar na rua Kramgasse 49 e atravessa correndo pelas arcadas a rua de paralelepípedo. Nas mãos, leva um envelope. É possível que alguns passantes tenham se admirado com as pantufas verdes, gastas e de flores bordadas que ele calçava. Mas o jovem não dá atenção aos olhares. Ele precisa ir ao correio com urgência. O conteúdo do envelope em sua mão vai transformar o mundo. Seu nome é Albert Einstein.”
“A ERA DA INCERTEZA: COMO OS GRANDES GÊNIOS DA FÍSICA MUDARAM A MANEIRA COMO VEMOS O MUNDO”
- Tobias Hürter
- Tradução de Elisabete Koninger
- Selo Crítica (Editora Planeta)
- 352 páginas
- R$ 89,90 (livro) e R$ 49,41 (e-book)
Tabela periódica decifra os mistérios dos planetas
No livro “Elementar - como a tabela periódica pode explicar quase tudo”(Editora Zahar), o professor inglês Tim James dá uma aula nada convencional, incluindo doses de humor, para mostrar como os 118 elementos químicos fazem parte das nossas vidas e ajudam a decifrar tudo que está à nossa volta.
Com mestrado em química e especialização na área da física quântica, o autor admite que a tabela periódica pode parecer uma “coisa hedionda”ou “intimidante”, mas ressalta que, no fim das contas, não passa de uma lista de ingredientes. Segundo ele, quando aprendemos a decodificar essas estruturas, ficamos mais perto de entender os fenômenos do Universo.
Em “Elementar”, o leitor encontrará curiosidades como quem foi “o homem mais azarado da história da química” e o que era “a hipótese do pudim de ameixa”. Vai descobrir quem “provou a existência de Deus”e entender como funciona a técnica para calcular a idade da Terra. Saberá por que um elemento está, ao mesmo tempo, entre os mais caros e os mais baratos da tabela e como a ciência contribuiu para a criação da cadeira elétrica nos Estados Unidos.
Em alguns trechos, Tim James faz um mergulho profundo no ‘Oceano Quântico', porém, quando começam a surgir palavras e expressões mais técnicas, resolve emergir e dar fôlego novo à leitura, utilizando diagramas e desenhos para ajudar na explicação.
O professor, que colabora para a rádio BBC como especialista científico e dá palestras anuais no Institute of Physics (IOP), faz um balanço sobre “os nove elementos que mudaram o mundo” e examina quais deles foram cruciais para o nosso desenvolvimento e tiveram o maior impacto sobre a humanidade.
“Não importa qual seja o sistema biológico, encontraremos cada pedacinho dele na tabela periódica", afirma. Entre o resgate de personagens históricos e a evolução das pesquisas, o livro propõe uma reflexão: será que a ciência ainda pode ir mais longe?
Trecho
(De “Elementar”, de Tim James)
“A palavra ‘química’vem de alquimia, mas um nome melhor para a matéria seria eletrônica, porque reações químicas são uma questão de elétrons. O núcleo de um átomo é minúsculo comparado ao raio total, de modo que são os elétrons no exterior que estão interagindo com tudo. E os elétrons estão sempre em movimento. Caso um elétron parasse de se mover, iria simultaneamente deixar de existir, porque movimento, como carga que ele possui, é parte da identidade de um elétron. Um elétron estacionário existe tanto quanto um triângulo de quatro lados. Assim, se partirmos de movimento como um dado, há somente duas coisas que um elétron atômico pode realmente fazer: mover-se para fora, afastando-se do núcleo, ou para dentro, em direção a ele. Esses dois comportamentos sustentam quase todas as reações químicas que você encontrará.”