(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas AS EDITORAS DAS EDITORAS

À frente da Impressões de Minas, Elza Silveira une industrial e artesanal

Contando com gráfica própria, editora explora possibilidades e materialidades do livro como objeto


21/07/2023 04:00 - atualizado 07/08/2023 17:19
671

Elza Silveira
Com experiência no mundo literário, Elza Silveira passou a comandar a Impressões de Minas em 2012, quando comprou, junto do marido e sócio Wallison Gontijo, a antiga gráfica que pertencia a seu pai (foto: Ramon lisboa/em/d.a press)

 

“Ser mulher empreendedora no ramo literário é desafiador, às vezes desanimador, mas é instigante e necessário. A literatura e as artes estão aí como forma de resistência e protesto”. O desabafo é de Elza Silveira, 45 anos, editora à frente da Impressões de Minas. 

 

Ela comanda a casa desde 2012, quando, com a ajuda do marido e sócio, Walisson Gontijo, comprou a gráfica que pertencia ao seu pai. Sem abrir mão dos trabalhos para terceiros, desenvolveu o combo completo de editora e gráfica. “Termos nossos próprios equipamentos é um dos nossos grandes diferenciais. Somos a única editora aqui em Belo Horizonte que tem uma gráfica”, detalha.

 

Especial do Pensar destaca trabalho das editoras das editoras

 

Nascida e criada em meio aos livros e desenhos gráficos, Elza sempre teve influência direta em casa: o pai trabalhou desde os 16 anos como impressor, e a mãe como bibliotecária. Mas, o que realmente chamava a atenção de Elza era o livro como objeto, não apenas as histórias contidas dentro deles. 

 

Rejane Dias: em defesa dos livros de vida longa (mas sem 'lombadas') 

 

“Eu lembro que, desde novinha, eu gostava muito de ver os livros. A mancha gráfica, a disposição nas páginas, numeração, figuras e as capas. Mesmo sem saber ler direito, eu viajava nos livros. Ficava pensando: por quê a pessoa escolheu colocar isso aqui? Essas coisas sempre foram fruto de minha curiosidade”, relembra. 

 

Maraíza Labanca: uma clínica para as palavras

 

Na faculdade de Letras, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), teve seu primeiro contato com edição, em um projeto de reformulação do currículo das escolas indígenas. “Eu comecei a trabalhar com edição como monitora de um projeto orientado e coordenado pelas professoras Maria Inês de Almeida e a Sônia Queiroz. A gente fazia a edição dos livros didáticos que seriam utilizados nas escolas indígenas. Uma experiência muito legal, que despertou ainda mais meu lado editorial”, conta.

 

Depois vieram um mestrado em Literatura Brasileira e experiências na sala de aula, como professora de português e de literatura. Com essa bagagem literária nas costas, a vida levou Elza de volta às suas origens e para onde os livros ganham vida, quando o pai dela anunciou que pretendia vender a gráfica da família. 

 

Clara Arreguy: conhecimento a favor dos livros

 

"A gráfica está presente na minha vida há muitos anos, então quando decidimos comprá-la, optamos por adaptar em uma editora. Me apaixonei pelo ramo e me dediquei ainda mais, fiz curso técnico de design gráfico no Senai, e carrego esse bônus no meu olhar como editora”, acrescenta. 

 

Simone Paulino: iluminando as trevas à frente da Nós Editora

Silvia Nastari:a artesã de livros

 

Ao longo dos anos, a editora carrega como objetivo produzir livros bem diagramados e diferentes dos oferecidos pelo mercado tradicional. Além dos equipamentos atuais, a gráfica usa também máquinas mais veteranas, como impressoras offset da década de 1980 e uma tipográfica da década de 1930. 

 

“Quando pegamos um livro pra fazer, a gente tem um diálogo muito aberto com o autor. Nosso objetivo é torná-lo único. Brincamos muito com a materialidade e com as formas de explorá-las. Nossa pegada é entre o industrial e o artesanal, gostamos de pensar cada livro individualmente pelo o que ele traz”, defende Elza.

 

O trabalho e a dedicação têm rendido frutos. No histórico estão duas indicações ao Prêmio Jabuti: na categoria poesia, com “Dicionário de imprecisões”, de Ana Elisa Ribeiro, de 2020, e “Extraquadro”, de Ricardo Aleixo, de 2022. Além das importantes indicações, Elza destaca, entre os momentos marcantes da editora, a publicação do livro “Meu livro vermelho”, do cantor e compositor pernambucano Otto. A oportunidade abriu portas para publicação de outros músicos, como o cantor China. Para além das obras, a Impressões de Minas também organiza feiras de publicações independentes em Belo Horizonte, como: a Textura e a Urucum, voltadas para literatura e artes gráficas, e a Curupira, com foco em livros infanto-juvenis. 

 

Silvia Naschenveng: ela 'canta' e a Mundaréu lança

 

Ao resumir todo o trabalho de uma editora em uma palavra, Elza escolhe "coragem". “Começamos a editora sem saber nada, simplesmente fomos e é isso que nos guia. Temos que ter coragem de seguir nosso coração, ir vivendo e fazendo. Mesmo se não der certo, as vivências e experiências vão servir para algo, tudo é repertório! É importante deixar medo, questionamentos e inseguranças de lado e ir”, relata Elza. “Cair, não prejudica demais. A gente levanta, sobe e volta. O que a vida quer de gente é coragem”, conclui.

 

* Estagiária sob supervisão do editor João Renato Faria 

 

Entrevista/Elza Silveira

 

1) Quais os maiores desafios de ser uma editora no Brasil?

Existem muitos desafios, mas acho importante destacar alguns deles para as pequenas editoras. Começo pela escolha dos livros que serão editados e que vão definir a linha editorial. Outro desafio está ligado à organização dos processos, levando em consideração que as pequenas editoras trabalham com um corpo técnico limitado, geralmente composto por poucas pessoas. E, por último, penso que um dos maiores desafios está na distribuição e na venda, no valor final que dificulta o acesso aos livros. As despesas envolvidas na produção de um livro são altas, a começar pelo preço do papel.

 

2) Quais serão os próximos capítulos de sua editora?

Estamos no início de uma reforma no espaço da gráfica da Impressões de Minas, preparando um espaço, dentro da oficina, que será usado para venda de livros e também para promover encontros, como saraus, lançamentos e bate-papos. Também pensamos em voltar com os cursos focados na arte da impressão – aproveitando todo o maquinário que temos disponível em nossa gráfica –, no conhecimento do processo de edição e nas áreas ligadas à edição, como escrita, ilustração e design gráfico. E para o próximo semestre estamos planejando a 5ª edição da feira Urucum, uma feira de arte impressa e de publicações de editoras e autores independentes.

 

3) Quais livros ou autores, brasileiros ou estrangeiros, gostaria de ter sido a primeira a editar?

Penso em alguns livros que gosto muito e que me expandiram como leitora e também como editora. Dentre eles, vou citar um de prosa e um de poesia: Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e Viva Vaia, livro que reúne poemas de Augusto de Campos. 

 

 

Sequência de série especial

O perfil de Elza Silveira é a quarta parte da série “As editoras das editoras”, sobre mulheres que comandam casas e selos editoriais no Brasil. O especial continua na próxima semana, com mais reportagens. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)