Fabrício Carpinejar
Especial para o EM
No luto, ninguém aguenta sua tristeza, a sua falta de vontade. Nem passou um mês da perda e os amigos já querem que você saia. Já querem que você converse animadamente. Já querem o seu riso de volta. Não entendem o processo. Não respeitam a solidão.
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'O garoto do meu pai' é um romance de rara beleza'As pequenas chances', de Natalia Timerman, desloca o real para a ficçãoDunker: 'O luto é paradigma para pensar a experiência humana da perda'Natalia Timerman: 'A literatura pode chegar aonde a psiquiatria não chega'Emmanuelle Lambert: 'Escrevemos para que a morte não vença no final'Nossa vida não é mais a mesma, não tem como seguir como era antes. Quando morre quem você ama, quem você era morre junto. Você já é uma outra pessoa. Nem você mais se conhece.
No luto, você vê que é uma mentira social que as pessoas se habituam com a dor. Pois você sofre cada vez mais de saudade. O sofrimento de um mês da perda não muda depois de cinco anos, aliás só aumenta, pois você vai percebendo que a falta do ente querido é irreversível.
A memória de tudo o que foi feito junto se mistura à fantasia do que poderia ter acontecido. São aniversários imaginados, comemorados sem torta, com flores, no cemitério.
Você cuida do canteiro estreito de uma lápide por não poder mais cuidar da extensão infinita de uma vida. No luto não dói somente o passado, mas o futuro que não ocorreu.
“Manual do luto”
• De Fabrício Carpinejar
• Bertrand Brasil
• 144 páginas
• R$ 49,90
“A morte desconstrói as nossas crenças, as nossas certezas, as nossas convicções. Você deixou de existir para alguém. E essa pessoa continua cada vez mais viva dentro de você.” Após o sucesso de “Depois é nunca” - em que explicou que o luto não é uma doença e que dura a vida inteira, com mais de 60 mil exemplares vendidos – o gaúcho Fabrício Carpinejar vai além no recém-lançado “Manual do luto”: retrata o sofrimento da saudade. Falando diretamente ao enlutado, cada capítulo é uma carta, e cada carta, uma lição de empatia. É assim que Carpinejar aborda as dores que decorrem das inevitáveis perdas que atravessam a existência: dos pais, de um amigo, de um irmão, de um filho, de um marido ou esposa. Compara o luto a um trabalho incansável de poda da memória, de faxina existencial, em que toda despedida seria o equivalente a herdar um terreno para construir uma casa no local. “Não há nada lá depois, só mato e entulhos”, ele conclui.