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Estado de Minas PENSAR

Primeira leitura: 'Nilde tirou o retrato no campo de ameixas'

Plaquete de Prisca Agustoni é lançada para comemorar os nove anos da editora Macondo


07/10/2023 04:00 - atualizado 07/10/2023 00:22
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Prisca Agustoni, poeta, tradutora
Prisca Agustoni é poeta e tradutora. Nascida na Suíça, vive há mais de vinte anos em Juiz de Fora, onde trabalha como professora de Literatura na Universidade Federal da cidade (foto: Reprodução)

 

Os trechos abaixo são da plaquete de Prisca Agustoni lançada para comemorar os nove anos da editora Macondo. “Resolvi puxar o fio de uma história que faz tempo quero e tento contar; já fiz esboços em prosa em italiano e parti desses esboços narrativos e de um arquivo de fotografias de família”, contou a escritora em suas redes sociais. O resultado está na plaquete “Nilde tirou o retrato no campo de ameixas”, lançamento com edição limitada e numerada, com 40 páginas e que pode ser adquirida por R$ 25 no site da editora de Juiz de Fora.

Contracampo

Um retrato antigo tirado num campo de ameixas

amarelas, com uma mulher abraçada a um cão:


eis a cena ideal onde tudo irá acontecer,

onde o roteiro foi se desenhando


avesso ao mofo da imagem,

contrário à vontade dos vivos


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um álbum de retratos

é como um diorama

contendo mundos que trincam

sob do vidro


em asséptica deriva




o retrato de uma mulher com cão

de costas para a casa ao meio-dia:


aqui temos uma tradução às cegas

da primeira mentira

tão piedosamente mantida

que atravessou o sangue


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cão abraçado a uma mulher

sob o sol do meio-dia:


nenhuma legenda traduz

o olho do fotógrafo ausente


nem sua lente telescópica

que recua para o futuro

no exercício surprendente

de prever o passado;


nenhuma nota explica

o coração do cão


nem os mínimos indícios

do seu ser fera ou fiel,


seus métodos e testes

de docíssima paixão




como mudam se é que mudam

as lembranças dos que vivem

depois do retrato, fora do retrato

de costas para a cena do retrato ?


será que insistem

na ilusão de serem olhos

vivos, em movimento

captando aquilo que nos escapa,

que ficou preso no passado?


ou apenas mudam de espécie

viram narrativas anfíbias,

verbetes, palavras


e mais palavras?

 
-PRISCA AGUSTONI

Sobre a autora

Prisca Agustoni é poeta e tradutora. Nascida na Suíça, vive há mais de vinte anos em Juiz de Fora, onde trabalha como professora de Literatura na Universidade Federal da cidade. Entre suas obras mais recentes estão os livros “casa dos ossos” (macondo, 2017, semifinalista do prêmio Oceanos); “O mundo mutilado” (Quelônio, 2020, finalista do Jabuti) e “O gosto amargo dos metais” (7Letras, 2022, Prêmio BH de Literatura; semifinalista do Oceanos). Com o livro “Verso la ruggine”(Itália, 2022), escrito em italiano, ganhou o Prêmio Suíço de Literatura 2023.


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