Em entrevista, editora-executiva da Companhia das Letras, Camila Berto, responsável pelas edições de Italo Calvino que chegam às livrarias para celebrar o centenário de nascimento do autor, exalta a obra do escritor italiano.
Leia Mais
Italo Calvino: leia um trecho do livro 'Todas as cosmicômicas'Em livro póstumo, Calvino apresentou suas propostas para o novo milênioDe Homero a Borges, Italo Calvino exalta clássicos em livro fundamentalO próprio Calvino diz que um clássico é aquele livro que não terminou de dizer o que tinha de dizer, e a própria obra do Calvino se encaixa nessa definição. A cada leitura de sua obra, o leitor descobre algo novo – uma imagem surpreendente, uma brincadeira com a linguagem, um detalhe que passou batido pela primeira vez, uma nova chave de leitura. Tanto na forma como no conteúdo, há sempre uma nova camada prestes a ser descoberta. É uma obra que serve de farol para qualquer pessoa que se interessa por literatura. Se os clássicos são os autores para as quais sempre voltamos, que nos servem de referência, então Calvino é um deles. Além das obras mais conhecidas, como “Se um viajante numa noite de inverno”, “Os nossos antepassados” e “As cidades invisíveis”, recomendo os contos de “A entrada na Guerra”. São três contos autobiográficos de um lado pouco conhecido do autor, sobre a experiência na guerra, durante a juventude. E, para acompanhar qualquer obra do autor, o volume de entrevistas “Nasci na América...”, porque cada entrevista revela um pouco do processo criativo desse escritor fascinante.
Leia: Coletânea com entrevistas de Italo Calvino celebra centenário do autor
O que é mais marcante na prosa de Calvino, seja na ficção ou na não-ficção?
Provavelmente esse equilíbrio perfeito entre a precisão e a leveza da linguagem que resulta em uma prosa que captura imediatamente o leitor, com o tom sempre certeiro. Calvino consegue transportar o leitor para seu texto, algo que ele faz parecer simples, mas que na verdade é fruto de imensa habilidade e domínio narrativo.
No trabalho de edição dos volumes lançados para celebrar o centenário do autor, quais foram as suas descobertas como leitora e editora?
Como leitora, foi perceber como Calvino é um autor com muitas “portas de entrada” – pelo tema, pela forma, pela linguagem. A cada leitura (e em cada momento da vida que lemos), descobrimos um novo Calvino. Como editora, tive a feliz confirmação de que Calvino é um autor querido por muita gente. Toda vez que mencionamos o autor, há leitores que compartilham histórias simpáticas, com lembranças de quando leram o livro pela primeira vez ou qual é seu título preferido. Na editora também. Todo mundo tem uma história carinhosa, um livro marcante. E sempre ouço as pessoas falarem que têm vontade de reler algum título do Calvino – o que o torna novamente um clássico.