Oceano de poesia mineira
Clara Delgado, Daniel Arelli, Nathália Lima, Edimilson de Almeida Pereira e Prisca Agustoni, cinco poetas semifinalistas do Prêmio Oceanos 2023, participam de uma noite de leituras e conversas em Belo Horizonte sob a coordenação do também poeta e jurado do prêmio, Fabrício Marques.
“Cada autor lerá poemas e falará de aspectos importantes de seu livro, em uma excelente oportunidade de os leitores conhecerem mais de perto cinco dos livros semifinalistas do Oceanos”, antecipa Fabrício.
A conversa será na sexta-feira (27/10), das 19h às 21h, na Livraria Jenipapo. Outros dois poetas que vivem em Minas, Ricardo Aleixo e Iacyr Anderson Freitas, estão entre os semifinalistas do prêmio.
“Chamou a atenção uma lista com tantos poetas residentes em Minas Gerais, por isso resolvemos celebrar”, diz Selma Caetano, diretora da premiação. O evento será filmado e ficará disponível nas redes sociais do Oceanos. Leia, a seguir, poemas dos cinco semifinalistas que estarão na Jenipapo.
“Cada autor lerá poemas e falará de aspectos importantes de seu livro, em uma excelente oportunidade de os leitores conhecerem mais de perto cinco dos livros semifinalistas do Oceanos”, antecipa Fabrício.
A conversa será na sexta-feira (27/10), das 19h às 21h, na Livraria Jenipapo. Outros dois poetas que vivem em Minas, Ricardo Aleixo e Iacyr Anderson Freitas, estão entre os semifinalistas do prêmio.
“Chamou a atenção uma lista com tantos poetas residentes em Minas Gerais, por isso resolvemos celebrar”, diz Selma Caetano, diretora da premiação. O evento será filmado e ficará disponível nas redes sociais do Oceanos. Leia, a seguir, poemas dos cinco semifinalistas que estarão na Jenipapo.
Clara Delgado
(“Arranjos vazios para letras cheias”)
“à falsa ardência dos ossos”
Se falássemos todos a língua
interna, aquela
e fizéssemos parar a dor
plástica da pele
ouviríamos
o sermão dos ossos
saberíamos
a peleja dos pilares
Edimilson de Almeida Pereira
(“A vida não funciona como um relógio”)
“Aventura”
Três entre as árvores
como se cada um
fosse
trezentas vezes três.
Daniel Arelli
(“O pai do artista”)
Sair para ver o mundo
mas não como se lê
um livro
uma carta
um jornal
da esquerda para a direita
de cima para baixo
com sinais de pontuação que são como
sinais de trânsito
instruções para inspirar
expirar
fazer silêncio
fazer sentido
Sair para ver o mundo
como se vê
isto é,
como um pintor
Um mundo presente
e simultâneo
em que tudo
está à vista:
duas ou três peras verdes
um açucareiro branco
uma xícara azul
Nathália Lima
(“Istmo”)
“duelo”
é urgente estender o chão a falha sem rumo
o medo de quebrar
as vértebras e as palavras miúdas
é urgente
medir a altura das fendas
a paragem de águas não escritas
a linha rubra pendurada no escuro
era urgente
entrar e sair sem contorno
ver o seu nome cair
novelo insone e profundo
nesse canto impossível do punho
é perigoso
inutilíssimo
no final
guardar por muito tempo um outro corpo no papel
Prisca Agustoni
(“O úmido centro do homem”)
em círculo depor grãos de arroz
e feijão
pedras pequenas
em círculo cercar o fogo
dizer para a terra, és nossa
aqui é onde nascemos
onde nascem raízes aos ossos,
rebentos às batatas
em círculo se juntar
e entoar o canto que invoca
o úmido centro do homem
“Uma ideia de planta”
Goethe nos ensina
sobre a metamorfose
das plantas (ou seria
dos corpos?)
— a flor simples
tantas vezes
altera-se numa
flor duplicada
— tal qual a vida se duplica em constância
ritual de passagem à inflorescência.
Contrariamente às plantas de Goethe
confundimos os processos
não vemos a transmutação ou vemos?
como se dela nos ausentássemos por um tempo
ou como se qualquer sistema de ramificação
terminasse em topo.
Plantas
quando crescem, também ensinam
e ensinam porque sabem olhar
nós humanos, porém, não olhamos os seus nós
e, por isso, não compartimos, não aprendemos.
É preciso então tomar de posse
uma ideia de planta, cultivá-la desde a semente até os
frutos para com ela aprender a formar
demoradamente — sendo meta, sendo forma.
(Poema de “Olho de boi”, livro de Giovanna Soalheiro Pinheiro pela editora Reformatório, com lançamento na próxima quarta-feira, 18/10, das 19h às 21h, na Livraria Quixote, na Savassi)
Qual foi a sua leitura mais marcante dos últimos tempos?
“Ioga”, do Emmanuel Carrère. É um livro em que ele escreve sobre ele, sobre saúde mental, de um jeito literariamente, me pareceu, muito inovador, bonito. E na verdade, é sobre literatura que ele está falando. A tradução da Mariana Delfini está incrível e espetacular.
Natalia Timerman, autora de “As pequenas chances”