“Quantos mundos cabem em um lapso de dez anos? Em meio a uma enxurrada de mudanças, na cena do futebol – a perda do protagonismo tupiniquim, o persistente fantasma do 7 a 1, o tecnicismo preciosista e irritante do VAR, a globalização das torcidas, arenas modernas e elitizadas – e no grande mundo – o relógio do apocalipse adiantado, a maré ascendente do populismo de direita, as questões identitárias na ordem do dia – a nova edição de ‘O drible’, dez anos depois de sua primeira, não só permanece galhardamente de pé como prosa aguda e inventiva, mas segue provando sobejamente sua tese não enunciada, com pretensão universalizante, mas particularmente feliz em tradução brasileira e local: a de que o esporte bretão e seus entornos funcionam como legítimo theatrum mundi e oferecem matéria da melhor qualidade à literatura que pode ser de primeira.”
Trecho de “O romance do futebol brasileiro”, posfácio de Fábio de Souza Andrade para a edição comemorativa dos dez anos de “O drible”, romance de Sérgio Rodrigues que venceu o Grande Prêmio Portugal Telecom (atual Oceanos). A nova edição, em capa dura, inclui apresentação de Fernanda Torres (que estabelece uma oportuna e ‘casmurra’ ligação entre “O drible” e o mais recente romance de Sérgio, “A vida futura”) e um texto inédito do autor, no qual o mineiro de Muriaé, radicado no Rio, esmiuça a gênese de seu lance literário que entrou para a história: “Foi, entre todos os meus livros e de muito longe, o que mais tempo me tomou.”