Jornal Estado de Minas

Acontecimentos



Prêmio São Paulo de Literatura

O Pensar publica semanalmente trechos dos livros dos autores mineiros que concorrem ao Prêmio São Paulo de Literatura. Depois de “Eva”, de Nara Vidal, e “João Maria Matilde”, de Marcela Dantés, é a vez de “Sismógrafo” (Macondo), de Leonardo Piana (foto), nascido em 1992 em Andradas. O livro, lançado em março de 2022, venceu o PrêmioCidade de Belo Horizonte. O trecho de  “Sismógrafo” foi escolhido pelo autor.





“Eu sei que deus morou no meu retorno a Andradas, e posso renunciar enfim à história inventada pelo pai: não corei feito um diabo vermelho através do vidro da maternidade. Faço as pazes com deus, estamos quites. Eu nasci aqui, assim, e amo como posso este lugar. Deus deve querer que eu seja feliz. Através do vidro da maternidade, agora quase me lembro de chorar feito um anjo mergulhado no sangue da mãe. Um anjo que fuma cigarros, corre de vez em quando e vai com rapazes. Um anjo cheio de intimidades.”

“Sismógrafo” na
 visão do autor

“O livro “Sismógrafo’ surgiu de uma imagem: dois meninos, adolescentes apaixonados, flagrados no banheiro de um clube. Foi a partir dessa imagem que pensei grande parte das questões que atravessam o romance, como a aceitação da homossexualidade, a memória e o amadurecimento em uma cidade típica do interior de Minas Gerais. Nasci em Andradas, no sul do estado, e para mim era importante trazer à tona uma história que revelasse, com lirismo e uma linguagem inventiva, como jovens gays experienciam a cidade e violência – mais ou menos sutil – em um lugar como este.”



“Sismógrafo”
• De Leonardo Piana 
• Macondo
• 248 páginas
• R$ 55

Poesia no sangue

“A poesia entre os Guimarães e os Guimaraens” é a palestra que o poeta Afonso Henriques Neto fará no dia 30/11 (quinta-feira), às 19h30, na Academia Mineira de Letras. Com acesso gratuito, o encontro faz parte do ciclo Livro do Mês e terá a mediação de Ângelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto e ocupante da cadeira 03 da AML. Ocupante da cadeira 27 da instituição, Afonso Henriques apresentará também o livro “Correntezas em tinta e versos”, que repassa a história secular da família Guimaraens, com onze poetas em atividade desde o século 18.





Qual foi a sua leitura  mais marcante dos últimos tempos?
“Tenho lido principalmente autores contemporâneos. Entre os brasileiros, fiquei tocado com a sensibilidade de “O que é meu” (Fósforo), de José Henrique Bortoluci. Um filho sociólogo que tenta desvendar o pai caminhoneiro e acaba revelando um país. Adorei também a maneira como o jovem gaúcho Tobias Carvalho narra as relações amorosas fluidas atuais em “O quarto aberto” (Companhia das Letras). Sensível, divertido, tesudo, emocionante, simples e profundo ao mesmo tempo. Entre os estrangeiros, me encantei com conflito entre o homem e a natureza proposto pela polonesa Olga Tokarczuk em “Sobre os ossos dos mortos” (Todavia). E atualmente estou fascinado pela humanidade  e beleza de “Ioga” (Companhia das Letras), de Emmanuel Carrère. Estou quase terminando!”

Lucas Paraizo
Roteirista, autor da série “Os outros” (Globoplay)