Terra do legendário político José Maria Alkimin, do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e do ministro Patrus Ananias, Bocaiúva – de 44,6 mil habitantes, a 369 quilômetros de Belo Horizonte, no Norte de Minas – vive uma polêmica em torno de uma obra, que, tal como seus filhos ilustres, marcará a cidade para sempre: uma estátua do Cristo Misericordioso, com 38 metros de altura. O tamanho é o mesmo do da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, eleita em 2007 uma das sete novas maravilhas do mundo.
O monumento é uma idéia do prefeito de Bocaiúva, Alberto Caldeira (PMDB), e faz parte de um complexo turístico que inclui, também, um centro de artesanato, restaurante, lanchonete e uma quadra poliesportiva, todos no Bairro Zumbi, ponto mais alto da área urbana. O investimento total é de R$ 875 mil. Nos últimos dias, a atual administração intensificou o ritmo dos trabalhos com o objetivo de terminar a obra até a próxima quinta-feira, quando Caldeira deixará a prefeitura concluindo o segundo mandato, mas sem conseguir eleger o sucessor.
Aí surgiu a polêmica, pois o prefeito eleito, Ricardo Veloso (PSDB), adversário ferrenho de Caldeira, disse que não considera a obra prioridade e que poderá até interrompê-la se o custo for muito elevado e não existir dinheiro em caixa para a conclusão imediata. O novo prefeito diz que não tem posição formada contra a estátua do Cristo e as construções complementares. "Mas não acho que é uma obra prioritária. Além disso, a cidade tem outros problemas que precisam ser resolvidos imediatamente, como a regularização do sistema de abastecimento de água, que vem faltando em vários bairros", observa.
Veloso disse que não tem predisposição de paralisar totalmente a obra. Mas avisa: "se não for deixado recurso em caixa para fazer os serviços que faltam, vamos ter de interromper, pois teremos de cuidar de outras questões que a população reivindica com mais urgência". Veloso também reclama que o atual prefeito decidiu construir a estátua do Cristo e as obras complementares “sem consultar a comunidade”. Ele disse que não foi informado sobre qual o montante de recursos gastos no empreendimento. Afirmou ainda que correu comentários na cidade de que parte da obra teria sido custeada com recursos do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).
Convênios
O prefeito Alberto Caldeira desmente que tenha aplicado dinheiro do SAAE na construção do monumento, que tem uma altura equivalente a um prédio de 13 andares. Segundo ele, no “complexo turístico”, dos R$ 875 mil investidos, a maior parte dos recursos (R$ 575 mil) foi liberada pelos ministério do Turismo e do Esporte, por meio de convênios firmados com o município.
Alberto Caldeira nega que a obra tenha caráter de promoção pessoal. "Trata-se de uma obra estruturante para Bocaiúva, que ganha condições de exploração turística, atraindo visitantes de outros municípios. Não tem nada de personalismo", assegura o prefeito, lembrando que o fato de construir a obra no fim de sua segunda administração é apenas uma coincidência.