A demonstração de força da caneta presidencial sobre o Parlamento teve o primeiro ato com o anúncio de que a bancada do PDT não fecharia questão em torno do mínimo de R$ 560, articulado pelas centrais sindicais. Atendendo a apelo do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado da legenda, os parlamentares estavam, nas últimas semanas, divididos entre a proposta governista e a sindical, sustentada também pela oposição. Lupi chegou a ser enquadrado pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff e teve de se colocar na linha de frente em defesa do piso governista. Ligou para todos os deputados e pediu aos irredutíveis que não criassem embaraços para o governo. Acabou dissuadindo os correligionários e ganhou pontos com o Planalto.
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Governo mostra força, derruba emendas e aprova mínimo de R$ 545Aliados que votaram contra mínimo de R$ 545 serão preteridos em relatoriasTrabalhador precisa de 56 anos para alcançar salário anual de deputado federalGoverno espera voto de ao menos 58 senadores na votação do salárioPSDB vai contestar no STF possibilidade de governo fixar mínimo por decretoPSDB vai insistir com mínimo de R$ 600 no SenadoSalário mínimo de R$ 545 não será retroativo, diz textoPartidos facilitam trâmites para votação do mínimoBatalha do mínimo vai ser mais fácil entre senadoresDiante da derrota iminente, a oposição jogou a toalha antes mesmo da votação e acusou o governo federal de interferir nos assuntos legislativos. "É o imperialismo de Dilma. Ela diz que quem não votar não terá cargos. É lamentável", disparou o líder do DEM, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA). Dissidente da bancada governista, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) jogou para o Senado a expectativa de um mínimo superior ao defendido pela equipe econômica do Planalto. "É muito difícil ganhar do governo. Eles estão distribuindo cargos e ameaçando tirar emendas", reclamou o deputado.
O projeto de lei aprovado ontem estabeleceu uma política de reajuste do salário mínimo pelo governo federal até 2015. Seguindo o mesmo padrão utilizado no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o piso será atualizado anualmente, a partir da soma da inflação do ano anterior com a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do exercício retrasado.
Desunida em plenário, a oposição facilitou a vida do governo e não conseguiu coesão para apoiar uma das duas propostas rejeitadas — a de R$ 600 e a de R$ 560. PSDB, DEM e os dissidentes de PDT e PV racharam seus votos. Assim, o destaque que previa o aumento do salário mínimo para R$ 600 acabou derrubado por 376 votos contrários à cifra, enquanto 106 deputados foram favoráveis e sete se abstiveram. O destaque que elevava o piso para R$ 560 foi rejeitado por 361 votos a 120. Houve 11 abstenções.