Brasília – O governo federal passou com sucesso pelo primeiro grande teste de força no Congresso Nacional, com a aprovação do novo salário mínimo de R$ 545 nessa quarta-feira. Mesmo com a previsão de vitória por larga vantagem, o Palácio do Planalto colocou sobre a mesa praticamente todas as cartas disponíveis para enquadrar a base aliada. Ameaças de retaliações a aliados, nomeações do segundo escalão em pauta e até a presença do vice-presidente da República, Michel Temer, para laçar o PMDB, foram algumas das estratégias empregadas pelo Planalto para garantir a aprovação do piso sem sustos, em sessão que durou mais de nove horas.
A demonstração de força da caneta presidencial sobre o Parlamento teve o primeiro ato com o anúncio de que a bancada do PDT não fecharia questão em torno do mínimo de R$ 560, articulado pelas centrais sindicais. Atendendo a apelo do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado da legenda, os parlamentares estavam, nas últimas semanas, divididos entre a proposta governista e a sindical, sustentada também pela oposição. Lupi chegou a ser enquadrado pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff e teve de se colocar na linha de frente em defesa do piso governista. Ligou para todos os deputados e pediu aos irredutíveis que não criassem embaraços para o governo. Acabou dissuadindo os correligionários e ganhou pontos com o Planalto.
Domado o PDT, foi a vez de Temer ir à reunião da bancada do PMDB para afastar qualquer ameaça de dissidências, enquanto o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), cobrava uma demonstração de união. Até governadores e prefeitos foram acionados. O maior receio dos peemedebistas era dar ao governo Dilma menos votos que o PT. O PT, ao perceber a movimentação dos peemedebistas, de inclusive trocar suplentes por titulares, enviou o seu presidente, José Eduardo Dutra, ao plenário da Câmara. Ele ficou até o fim da sessão para garantir a fidelidade do partido. "Vigiai e orai", resumiu Dutra. Dilma havia deixado sua agenda em aberto desde o fim da tarde para acompanhar a votação na Câmara.
Diante da derrota iminente, a oposição jogou a toalha antes mesmo da votação e acusou o governo federal de interferir nos assuntos legislativos. "É o imperialismo de Dilma. Ela diz que quem não votar não terá cargos. É lamentável", disparou o líder do DEM, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA). Dissidente da bancada governista, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) jogou para o Senado a expectativa de um mínimo superior ao defendido pela equipe econômica do Planalto. "É muito difícil ganhar do governo. Eles estão distribuindo cargos e ameaçando tirar emendas", reclamou o deputado.
O projeto de lei aprovado ontem estabeleceu uma política de reajuste do salário mínimo pelo governo federal até 2015. Seguindo o mesmo padrão utilizado no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o piso será atualizado anualmente, a partir da soma da inflação do ano anterior com a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do exercício retrasado.
Desunida em plenário, a oposição facilitou a vida do governo e não conseguiu coesão para apoiar uma das duas propostas rejeitadas — a de R$ 600 e a de R$ 560. PSDB, DEM e os dissidentes de PDT e PV racharam seus votos. Assim, o destaque que previa o aumento do salário mínimo para R$ 600 acabou derrubado por 376 votos contrários à cifra, enquanto 106 deputados foram favoráveis e sete se abstiveram. O destaque que elevava o piso para R$ 560 foi rejeitado por 361 votos a 120. Houve 11 abstenções.