Brasília – Se depender da cúpula do PMDB, o eleitor nunca mais verá um deputado com 275 votos chegar à Câmara puxado por quem conquistou um milhão de eleitores. Pela proposta do voto majoritário, apresentada na quarta-feira aos peemedebistas de forma apaixonada pelo vice-presidente da República, Michel Temer, só chegarão ao Parlamento os mais votados. "O sistema proporcional é a negação do princípio máximo da Constituição de que o poder é do povo. A população não entende como um candidato com 128 mil votos não é eleito e um com 275 votos vira deputado", comentou Temer, em reunião com a bancada de seu partido na Câmara.
O encontro marcou a largada das discussões da reforma política na Câmara. A ideia do PMDB é apresentar um projeto de lei enxuto para discussão com os outros partidos. Temer defendeu ainda a “janela” para troca de partido – ele chamou de porta –, que seria aberta a cada três anos e meio, seis meses antes de cada eleição, ou a cada sete anos e meio, uma vez que o partido não pretende hoje acabar com a reeleição.
O voto em lista, aquele em que os partidos definem os que ficam no topo com mais chance de serem eleitos, não está nos projetos do PMDB. “Existe ainda uma grande resistência no que diz respeito à formação de uma lista de candidaturas. A grande preocupação dos deputados tinha relação com o ‘caciquismo’ local, que poderia influenciar negativamente na composição da lista”, disse Temer.
Embora Temer tenha resistências ao financiamento público de campanha, o partido vai discutir o tema. "Nossa maior dificuldade é pagar uma campanha. Temos que ter o financiamento público exclusivo”, afirmou o deputado Marcelo Castro (PI), diante de uma plateia que não tinha tanta certeza sobre esse ponto.
A avaliação geral dos políticos é a de que tem mais chance de ser aprovado dentro da reforma política o que for consenso entre a Câmara e o Senado. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu o voto majoritário em entrevista ao Estado de Minas e já começou, inclusive, a consultar alguns senadores a respeito. Do PSDB, o senador Aécio Neves considera que o voto majoritário, como está proposto, pode enfraquecer os partidos, mas está aberto a discutir este e outros temas.
No dia 22, quando o Senado instala a comissão especial para discutir a reforma política, Aécio vai propor um acordo de procedimentos. A ideia é separar os temas mais urgentes e analisá-los por tópicos. “Se ficarmos discutindo tudo, não sai nada”, comentou Aécio. Nesse ponto, ele, Temer, Sarney e o ex-presidente Itamar Franco concordam. A reforma, se for mais enxuta, é mais fácil de ser aprovada. E para a cúpula do PMDB, Aécio e Itamar, já está aí um caminho.