O acordo de pacificação fechado nesta quarta-feira pelos líderes do DEM foi avaliado por partidários que ameaçam deixar o partido como uma trégua que não encerrará os conflitos internos. Aliados próximos do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que já mandou apressar a documentação jurídica para a criação de um novo partido, avisam que o apoio ao senador José Agripino Maia (RN) para presidência da legenda e a integração do ex-senador Marco Maciel no Conselho Político devem ser traduzidos como "voto de confiança" e não como garantia de permanência dos filiados insatisfeitos. Para evitar um racha na convenção de 15 de março, a cúpula do partido aceitou as exigências impostas por Kassab e pelo presidente de honra da legenda, Jorge Bornhausen.
Na segunda-feira, Bornhausen propôs a manutenção da atual Executiva com apenas duas alterações: a substituição do atual presidente Rodrigo Maia (RJ) por Agripino e a inclusão de Marco Maciel, já que este último era o candidato de Kassab à presidência da legenda. Mesmo atendendo às imposições da ala do prefeito, seus aliados acreditam que a sigla apenas ganha tempo para evitar a debandada iminente e que o acordo não dá o espaço que Kassab almeja. "O prefeito ainda não tem espaço no partido, então o acordo não deve interferir no caminho dele", disse o deputado federal Rodrigo Garcia (SP) ao se referir à possível desfiliação do prefeito. O DEM vive um confronto interno entre as novas lideranças que despontam na legenda e os interesses regionais dos "velhos caciques". "A primeira etapa foi a decisão de ontem, que traz um momento de pacificação. O segundo momento é ver como as pessoas que estavam causando constrangimento ao partido vão se comportar. Se o Agripino conseguir controlar esse grupo, será difícil ter debandada", disse uma liderança insatisfeita com os rumos do partido. Além dos aliados no Estado e de Bornhausen, Kassab pode levar do DEM nomes ilustres, como o ex-deputado federal Índio da Costa, a senadora Kátia Abreu (TO) e o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo. Kassab usa o argumento de que sua permanência é insustentável porque houve mudança programática no DEM por ordem de Rodrigo Maia. O atual presidente do partido alterou a ata da Convenção Nacional que delegava ao Conselho Político os poderes para decidir sobre linha partidária, coligações nas eleições nacional e estaduais e indicação de candidatos à Presidência da República. "Se o Kassab ficar será muito bom, o partido tem feito um esforço para o Kassab ficar, mas é quase impossível ele continuar. Diante disso, todo mundo tem que entender se ele sair", avaliou a liderança. Os aliados próximos de Kassab dizem que em princípio permanecem no partido, desde que Agripino e Marco Maciel consigam pacificar a legenda. "O Agripino está com espírito de unidade, a dúvida é se ele vai conseguir", afirmou Rodrigo Garcia. O deputado federal Guilherme Campos (SP), que integrará a nova Executiva do partido, avalia que o acordo interno foi "o que foi possível ser feito" e sinalizou a "boa vontade" do partido em buscar união. "Não quer dizer que o prefeito permanecerá", avisou Campos. Mesmo com a "boa vontade" do DEM, o deputado diz que seguirá Kassab para onde ele for. "O futuro não nos pertence", filosofou. Alberto Rollo, um dos advogados do prefeito, acredita que qualquer decisão tomada pelo DEM não será o suficiente para mantê-lo no partido. "Ele não voltará atrás", afirmou. Os advogados contratados pelo prefeito correm para deixar toda a documentação jurídica do Partido da Democracia Brasileira pronta até o dia 15 de março.