Depois da postura errática na votação do salário mínimo, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estará sob avaliação constante do Palácio do Planalto nos próximos meses. Embora tenha conseguido alterar votos pedetistas favoráveis ao salário mínimo de R$ 560, articuladores políticos do governo acreditam que Lupi, presidente licenciado do PDT, demorou a agir e evitou se expor na defesa pela remuneração estabelecida pela equipe econômica, de R$ 545. A postura de confronto, inclusive envolvendo colegas de Esplanada, colocou o ministro como alvo prioritário da próxima reforma ministerial.
Na quinta-feira, depois da ressaca pela batalha do salário mínimo no Congresso, o governo federal começou a avaliar a atitude de aliados durante a votação de quarta-feira. Por ter trombado com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e só aceitar enquadrar o PDT depois de uma conversa pessoal com a presidente Dilma Rousseff, Lupi conseguiu reunir boa parte da insatisfação do governo, antes direcionada ao PMDB.
A avaliação do Planalto é que o ministro fez exatamente o oposto da conduta defendida por Dilma na primeira reunião interministerial, no mês passado. Na ocasião, ela pediu aos titulares da Esplanada fidelidade e que evitassem cobranças públicas que expusessem os colegas. Ao bater de frente com Mantega pelos R$ 560 e retardar a intervenção junto aos parlamentares de seu partido, Lupi irritou outras legendas da base aliada e, principalmente, o núcleo político do governo. "O PDT errou pela sua estratégia. Eles tinham de se aliar ao governo. Queremos unidade na base. Enquanto partidos aliados caminharam em uma direção, o PDT resolveu, sozinho, caminhar em outra", reclama o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP).
Mesmo com a contagem final dos votos mostrando que 16 deputados pedetistas haviam votado com o governo e nove foram contrários aos R$ 545, a interpretação do Executivo é que Lupi fez pouco, especialmente se comparado a outros aliados — o vice-presidente da República, Michel Temer, por exemplo, chegou a ir pessoalmente ao Congresso para enquadrar peemedebistas, enquanto o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), convocou deputados licenciados para garantir 100% da bancada em apoio ao Planalto. Em contrapartida, a operação do ministro para conter dissidências se limitou a telefonemas para parlamentares da base e a um encontro dois dias antes da votação.
Ainda assim, a operação não resultou em fechamento de questão pelo mínimo defendido pelo governo, e o PDT liberou os deputados a votar como quisessem. Para a bancada do partido na Câmara, a avaliação petista de que o partido foi infiel na votação é exagerada. "Somos aliados do governo, não subordinados. Queremos sentar à mesa e discutir. Isso não pode ser tratado como pecado", critica o líder pedetista, Giovanni Queiroz (PA).
Um dos deputados dissidentes na votação do mínimo, o parlamentar lembra que os nove que votaram contra o governo seguiram as diretrizes do partido. "Não acredito em retaliações ao Lupi por causa dessa votação, até porque a Dilma veio do PDT, é de origem trabalhista e teria orientado a bancada exatamente como nós fizemos caso ainda estivesse na legenda", diz Queiroz.