“Tinha uma fazenda lá. Mas acredito que houve um engano por parte do motorista. A quantia em questão não passava de R$ 25 mil”, contestou o ex-diretor geral da ALMG para o Estado de Minas. Ele, no entanto, não soube informar qual débito teria sido quitado na ocasião com a quantia. “Isso já faz muitos anos. Você vai me desculpar, mas não consigo lembrar o que foi pago”.
Além de Perdizes, Péricles Ferreira contou que já levou João Franco e seus familiares até Uberaba, Uberlândia, Araxá e Patos de Minas. Nessa última cidade, ele relatou que foi algumas vezes exclusivamente para levar Celeida Rodrigues, mulher do ex-diretor geral. Em outras oportunidades, chegou a se deslocar de Belo Horizonte para Uberaba ou Araxá somente para buscar João Franco e sua família no aeroporto local e, em seguida, levá-los até Perdizes ou Patos de Minas.
Em depoimento e em entrevista, João Franco confirma as irregularidades apontadas na denúncia de improbidade administrativa dos promotores de Justiça de BH. “É verdade, não tem como negar. Mas é muito importante deixar bem claro que usei os recursos com o aval da Mesa Diretora da Casa”, afirmou.
Os deputados Antônio Júlio (PMDB) e Mauri Torres (PSDB) afirmaram na segunda-feira que o cargo de diretor geral tem autonomia administrativa e financeira. Os dois, no entanto, declaram que neste caso a prestação de contas não é fiscalizada e que sua lisura e transparência vão depender da postura pessoal de cada diretor.
“Todo diretor tem essas prerrogativas até hoje, mas a forma da utilização da verba não era vigiada”, declarou o peemedebista. “O cargo tem algumas liberalidades. Por isso, é difícil controlar quem usa as prerrogativas fora do horário de trabalho”, alegou o tucano. Sem precisar o prejuízo aos cofres públicos, o Ministério Público Estadual pediu o ressarcimento integral dos valores empenhados nas viagens. O cálculo, por sua vez, será feito pelo Poder Judiciário.
Síndico
Espécie de síndico da Casa, a figura do diretor geral tem multifunções, entre elas planejar, coordenar, orientar, dirigir e controlar as atividades administrativas. Todas as diretorias são subordinadas ao diretor geral, que tem ligação direta com a Mesa Diretora.
Depois de quatro anos no cargo, João Franco Filho virou secretário de Desenvolvimento Econômico do prefeito Anderson Adauto, em Uberaba. Ficou no cargo até janeiro, quando foi remanejado para outro posto. Atualmente, segundo o próprio, está desenvolvendo o projeto de implantação de um escritório de representação de Uberada em São Paulo. “É como se fosse uma embaixada”, explicou.
Motorista
Não é a primeira vez que um motorista complica o “chefe”. No esquema de corrupção envolvendo o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello e o tesoureiro Paulo César Farias, o motorista Eriberto França teve participação decisiva nas investigações. Em depoimento na CPI criada para apurar as denúncias de irregularidades no Planalto, Eriberto, que prestava serviço para a secretária de Collor, Ana Acioli, confirmou que as empresas de PC faziam depósitos com regularidade nas contas fantasmas movimentadas pela secretária. Essas informações atingiram diretamente o então presidente da República.